Dr. Alessandro Martins fala sobre a ‘doença do silicone’: o que causa, quais são os sintomas e qual é o tratamento


Em sua coluna quinzenal, o cirurgião plástico ressalta: ‘Algumas pacientes querem tirar o silicone com medo de ter a doença. Elas imaginam que, sem o implante, terão os seios que tinham antes da cirurgia. Mas não é isso que acontece. O dano estético é significativo’

*Por Dr. Alessandro Martins

Nas últimas semanas, a mídia deu um certo destaque à “doença do silicone”. Mas o que seria isso, exatamente? Muitas vezes, a maneira como se aborda essa manifestação clínica leva pânico a pacientes que têm implante de próteses de silicone. Sem querer, pode haver a impressão de que todas as mulheres que fizeram aumento de mama passarão pelo transtorno.

Na verdade, existem duas patologias associadas a próteses de silicone. Uma delas é a Síndrome Ásia – síndrome autoimune/inflamatória induzida por adjuvantes -, ou “doença do silicone”, cujos sintomas são dores em articulações e musculares, além de sensação de cansaço ou astenia. A síndrome tem, sim, relação com o silicone, mas sua incidência é extremante baixa, diferentemente do que os leigos costumam supor. Mais: a Síndrome Ásia não é causada apenas pelo silicone, pode ocorrer com qualquer corpo estranho presente no corpo. Alumínio, titânio, iodo e mercúrio são exemplos de materiais que também são capazes de desencadear essa reação imunológica responsável pela manifestação clínica.

O diagnóstico é clínico e se assemelha muito ao das doenças autoimunes e reumatológicas, como a artrite reumatoide, por exemplo. A diferença é que a síndrome não tem marcadores inflamatórios como as doenças reumatológicas. Pacientes com doenças reumatológicas prévias, como artrite reumatoide, lúpus e esclerodermia, correm maior risco de desenvolver a Síndrome Ásia.

O silicone é considerado um dos materiais mais inertes que existem. Por isso é tão usado em próteses e órteses que entram em contato com o corpo humano. Ele foi criado na década de 1940 e, como causa pouquíssima reação, é bastante frequente em materiais médicos. É importante acalmar a população: essa síndrome não tem uma relação tão direta entre o uso da prótese de silicone e o desenvolvimento dos sintomas.

Se a paciente tiver astenia, dores articulares e musculares, o tratamento é simples: basta retirar o implante junto com a sua cápsula. A função da cápsula é impedir que o silicone entre em contato direto com o corpo. E é um processo cicatricial normal. Todo mundo que tem implante de silicone precisa ter a cápsula.

O explante (retirada) da prótese com sua cápsula, porém, pode ser uma questão. A paciente imagina que a mama vai voltar ao que era antes da cirurgia plástica. Não é assim. Se tinha uma mama flácida, quando o implante é explantado a mama ficará ainda mais flácida. Isso porque a prótese funciona como um expansor de pele. Ela aumenta o volume da mama e da pele, que se acostuma com aquele volume. Quando se tira a prótese, tem mais pele do que antes.

Dr. Alessandro Martins (Foto: Vinicius Mochizuki)

Dr. Alessandro Martins (Foto: Vinicius Mochizuki)

Ao longo dos anos, uma prótese de silicone faz com que a glândula atrofie. Quando você tira o implante, há menos glândula que antes da cirurgia, o que deixa a mama muito flácida e vazia. O problema aqui é estético. Algumas pacientes querem tirar o silicone com medo de ter a síndrome. Elas imaginam que terão os seios que tinham antes da cirurgia. Mas não é isso que acontece. O dano estético da retirada da prótese é significativo, só é indicado para pacientes que têm a síndrome, e não como forma de se prevenir do aparecimento do problema, que é muito raro.

Outra doença relacionada ao silicone é o linfoma anaplásico de grandes células, tipo de linfoma relacionado às células de defesa do corpo, os linfócitos T.

Existe a forma sistêmica, ou seja, um tipo de linfoma como doença hematológica que é classificado como linfoma não Hodgkin, uma forma cutânea e uma localizada na mama. O linfoma em mama é muito raro. Uma em cada 500 mulheres que têm prótese de silicone desenvolvem. Como é localizado, não causa repercussões no sistema sanguíneo, no sistema de defesa. É somente na mama. É totalmente diferente do câncer de mama, tem outro padrão de comportamento, não dá metástase. E ainda não se tem uma confirmação significativa sobre a relação entre a prótese e o linfoma anaplásico. Teoricamente, questiona-se se o tipo de superfície da prótese, entrando em atrito crônico com a cápsula e associado à contaminação bacteriana desse implante, causaria uma reação inflamatória crônica na cápsula que levaria ao desenvolvimento do linfoma anaplásico de grandes células.

O tratamento é o mesmo da Síndrome Ásia: a retirada do implante com sua cápsula. E não são necessárias quimioterapia, radioterapia, como nos outros tipos de câncer de mama.

      Dicas interessantes sobre a “doença do silicone”

Primeiro, a paciente precisa se informar e procurar o seu cirurgião para saber sobre as manifestações clínicas.

Precisamos descartar outras doenças que podem estar causando as mesmas manifestações. Por exemplo: a paciente pode ter uma doença reumatológica que ela não conhecesse, tipo lúpus ou artrite reumatoide que, por acaso, tenham causado seus sintomas após a colocação da prótese. Isso não é, necessariamente, a Síndrome Ásia. Pode ser que ela tivesse uma doença reumatológica que estava latente.

O terceiro ponto é lembrar que o explante causa muito dano estético, uma vez que a mama ficará, provavelmente, mais flácida e pitosada do que antes da colocação da prótese.

Quarto ponto: não existe exame específico para o diagnóstico dessa síndrome. A forma de confirmar se você tem ou não a doença é observar se a retirada do implante traz melhora dos sintomas.

O quinto ponto é lembrar que o silicone é muito inerte o que torna esse tipo de síndrome muito raro. Mas fica um alerta para pacientes que desejam reduzir a mama, retirar todo o tecido e trocar por implante, mesmo tendo glândula suficiente para fazer uma mama bonita: às vezes, vale a pena resgatar as mastospexias sem próteses, que têm resultados estéticos incríveis e evitam a colocação de um corpo estranho dentro da paciente.

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