Dr. Alessandro Martins comenta a polêmica relação entra os padrões de beleza atuais e a autoestima


Em sua coluna quinzenal no site HT, o cirurgião plástico afirma: ‘É importante não se comparar com as pessoas ao redor. Dentro do possível, a gente tenta ajudar o paciente a encontrar o seu melhor, a encontrar o equilíbrio dentro do próprio biotipo”

*Por Dr. Alessandro Martins

Autoestima é, por definição, a análise subjetiva que cada um faz de si mesmo levando-se em consideração fatores subjetivos, sejam eles comportamentais, por crenças religiosas, por atitudes ou pela autoimagem. E a gente se pergunta o quanto o julgamento da autoimagem pode interferir na autoestima de uma pessoa. Todo mundo quer se sentir bem consigo mesmo e, principalmente, com o ambiente com o qual convive, não importa se for na vida social, com o parceiro ou consigo mesma. A aparência interfere muito nisso.

Existem desvios dessa autoimagem que podem ser considerados patológicos. São as chamadas dismorfofobias, em que o indivíduo não se visualiza exatamente como é. Enxerga defeitos que não tem, tanto em relação ao corpo como à face. Mas, de forma geral, a maioria das pessoas tem um bom julgamento da sua imagem e conhece, dentro disso, o que incomoda e o que deveria mudar. Ou, principalmente, o que não a deixa sentir-se bem e prejudica sua autoestima.

Onde a cirurgia plástica entra nisso? Na verdade, a cirurgia plástica não corrige a autoestima do paciente. Ela pode tirar aquilo que incomoda, aquilo que impede o paciente de se enxergar melhor, de se sentir mais confiante. Mas qualquer uma das cirurgias em que a gente atua dentro da plástica contribui, de certa forma, para a autoestima. Não importa se são cirurgias de face, rejuvenescimento, contorno corporal ou pós-oncológicas. O que importa é que o paciente se sinta aceito, se sinta bem adaptado à sociedade.

Dr. Alessandro Martins (Foto: Sérgio Baia)

Hoje a questão dos perfis de beleza é muito questionada. Por que o rosto precisa ser simétrico? Por que fazer harmonização facial? Por que o nariz não pode ter giba? Por que a ponta do nariz não pode ser caída? Por que o malar tem que ser alto? Por que o lábio deve ser grande? Por que a mama tem que ter prótese? Por que a cintura precisa ser fina? Por que a pessoa quer ser magra? Por que tem que ser alta?

Tudo isso é padrão de beleza. Se todos quiserem se encaixar dentro dos perfis, vão se sentir frustrados. E cada vez que se frustram, a autoestima fica mais baixa. Dentro do possível, a gente tenta ajudar o paciente a encontrar o seu melhor, a encontrar o equilíbrio dentro do próprio biotipo. É importante respeitar todos os biotipos.

Mas é importante, sim, corrigir a orelha em abano da criança que sofre bullying na escola, prejudicando sua autoestima e sua interação, desde pequenininha, com a sociedade e com os amigos, além afetar a maneira como ela se vê e o quanto ela se sente capaz por um simples defeito congênito. É importante corrigir um nariz muito grande, com giba demais ou com a ponta caída, que pode deixar a feição de uma mulher masculinizada ou bruta. É importante corrigir a pálpebra de uma paciente mais idosa, que não só atrapalha no momento de se maquiar, mas dificulta até mesmo enxergar, pois a pele do olho pode comprometer o campo visual.

É importante corrigir as mamas das pacientes que as têm muito volumosas e assumem posições corporais para tentar escondê-las – além de usar roupas largas e sutiãs de alças largas, mantêm o tronco sempre fletido na frente para esconder a mama, impedindo-as de usar a roupa que querem. Impedindo, também, na hora da relação sexual, de se sentir bem sem roupa. Ou, da mesma forma, a outra paciente que não tem quase mama alguma e que nunca pôde usar um decote. Ou que não tem um biquíni que fique bem na praia ou que se sinta menos mulher por não ter um volume mamário compatível com o das demais.

É importante não se comparar com as pessoas ao redor. Mas é claro que o perfil de normalidade interfere na autoestima. É importante corrigir o abdômen de uma paciente que teve vários filhos, ou que engordou muito e emagreceu, e que tem problema com a higiene, dificuldade para ter relação sexual e vergonha de tirar a roupa na frente do parceiro. Da paciente que nunca usou um biquíni porque a barriga cai por sobre o biquíni. Ou da que nunca usou uma roupa justa porque o volume da barriga faz com que pareça estar grávida. Ou daquela que não encontra uma roupa cuja cintura lhe deixe feliz e confiante para ir a uma festa – nem para trabalhar, usar no dia a dia etc. É importante corrigir o culote de uma mulher que nunca conseguiu usar uma calça jeans, que nunca conseguiu usar calça justa, porque o culote faz com que a cintura seja muito larga e acabe não vestindo bem. E faz com que ela se sinta constrangida para entrar na loja e comprar. Tudo isso interfere na autoimagem.

É muito curioso quando afirmam que a cirurgia plástica é apenas estética ou supérflua. Na verdade, só cada um sabe o que lhe incomoda, só cada um sabe o que lhe impede de ser feliz. Só cada um sabe aquilo que lhe impede de olhar-se no espelho e dizer: “Eu estou bem, eu me sinto bem comigo, eu sou capaz”. Esse critério de autoimagem, esse critério que as pessoas julgam como estética, não atrapalha só na roupa, na relação sexual ou na busca de parceiros.

Muitas vezes é a justificativa da paciente para não se sentir capaz no trabalho, sentir-se inferiorizada na família ou no grupo de amigos. Por quê? Porque ela não se vê capaz. Ela não se vê bonita, não se vê atraente. Ela se vê inferior aos demais. Na cirurgia plástica, é importante diferenciar as patologias das queixas reais e sempre tentar trazer a pessoa para o seu melhor. Porque a autoestima interfere diretamente no seu dia a dia e na sua felicidade.

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