*Por Dr. Alessandro Martins
Após abordar a questão sobre o motivo pelo qual muitos usam de forma errada o termo “rejeição implante de mama” – analisando que teoricamente não se tem rejeição, alergia, reação a um corpo estranho implantado e o que acontece algumas vezes é que por complicação pós-operatória há abertura de ponto ou algum acúmulo de líquido abaixo da pele, próximo à cicatriz cirúrgica (o seroma) ou sangramento coletado na mama (o hematoma) e esses líquidos ou abertura dos pontos podem levar a uma contaminação na cápsula que se forma ao redor da prótese -, hoje comentarei as cirurgias estéticas de colocação de prótese de mama pós um tratamento contra o câncer.
Com as formas de reconstrução de mama pós-câncer, nós entramos em um capítulo diferente de funções e complicações de fatores de risco. A paciente apresenta um retalho e uma pele com tecidos muito finos deixados pela mastectomia. Não há mais a glândula, que é um fator protetor do implante e que proporciona uma cobertura melhor do implante. A mama com a glândula possui todo o seu tecido para que seja vascularizado, nutrido de sangue.
Quando falamos de mastectomia, essa glândula perde mais de 70% de sua vascularização. Então só há a vascularização do que chamamos de sub-dérmico. O retalho da mastectomia é uma pele que sofre com a quase ausência desse processo. Quando se tenta colocar uma prótese abaixo desse retalho muito fino encontramos problemas inclusive em relação à isquemia da pele. Como possui um fluxo sanguíneo baixo, ela pode sofrer alterações como a necrose, que pode levar à perda tecidual e exposição da prótese de mama, consequentemente havendo uma contaminação e a necessidade de emoção.
Além do problema da espessura da pele pós-mastectomia mesmo que se tente colocar a prótese no plano submuscular, ele não consegue cobrir 100% a prótese. Para que ele componha o volume total de uma mama, quando você não tem mais a glândula para ser somada ao volume, reitero que grande parte da prótese fica exposta fora do músculo e coberta somente por uma pele fina. E essa é outra área de fragilidade, porque mesmo que a paciente não tenha necrose de pele, levando a uma exposição do implante, o contato da prótese com a pele muito fina pode causar a erosão, ocasionando uma ferida com nova contaminação.
Outro problema seria a opção pelos expansores individuais do tecido mamário inseridos no plano submuscular e cobertos inteiramente pelo músculo. Só que como a localização é vazia, ela possui dobras que fazem pontos de pressão que podem funcionar como áreas de surgimento de úlceras de pressão, Veja: aquela pele em cima de uma dobra sofre uma pressão e mesmo estando submuscular – que tem uma proteção maior -, ela pode causar uma erosão da pele, sujeita, portanto, à contaminação. Haverá a necessidade de nova cirurgia para retirada do expansor.
A terceira questão relacionada ao implante de prótese de mama é relacionada à radioterapia. Ela altera sempre a pele mesmo após anos do tratamento oncológico. Após a radioterapia, o DNA das células é alterado, porque são destruídas as que causam o câncer e as da pele também sofrem alterações, muitas vezes irreversíveis. Então, a pele menos elástica e mais ressecada é extremamente sensível, com vascularização alterada e a presença do implante pode fazer com que não o suporte. Muitas vezes são necessários retalhes musculares – no caso, o músculo dorsal, que é muito grande, ou das costas – para que se consiga uma cobertura melhor para a prótese e um maior fluxo sanguíneo para o tecido prevenindo as complicações pós-cirurgia estética.
A reconstrução de mama com prótese não é uma cirurgia simples. Extremamente delicada, porque lidamos com tecido menos vascularizado, com riscos da radioterapia e de contaminação do implante. Mesmo que não haja uma contaminação, a mama irradiada que possui uma prótese debaixo da pele está sujeita ao risco de contratura caspsular, que é um outro problema que não tem a ver com a exposição do implante. O motivo é que com a radioterapia há uma alteração da cápsula fazendo com que fique mais espessa. E tem a capacidade por ter filamentos de comprimir a prótese. A mama ficará extremamente endurecida e, por vezes, a paciente sente dor e ainda podendo ocorrer distorção do formato justamente pela contração sobre o implante.
Em resumo: mesmo que não haja problema de cicatrização ou disposição de contaminação de implante, a paciente pode ter uma complicação tardia, que é a contratura capsular.
É vital que o cirurgião converse com a paciente no pré-operatório, que se explique quais são os possíveis riscos e complicações e as chances de ter de operar novamente. Um fator que tem melhorado muito essas complicações em relação à espessura da pele e até mesmo alterações da pele após a radioterapia é o uso do enxerto de gordura. A transferência de gordura de outras áreas do corpo injetada debaixo da pele da área onde foi realizada a mastectomia faz com que essa célula gordurosa consiga ter um poder regenerativo. O que melhorará a qualidade, a elasticidade da pele, tornando-a mais grossa, favorecendo maior proteção do implante e menores os riscos de aberturas e erosões da pele pela prótese.
A reconstrução de mama, hoje em dia, é extremamente importante no tratamento do câncer, porque recupera a auto-estima da paciente, mas não se pode comparar uma cirurgia de colocação de prótese de estética com a cirurgia de reconstrução de mama com prótese. Os objetivos, obviamente, são diferentes por mais que haja um cunho estético. Mas, estamos falando de uma cirurgia reparadora e com riscos e danos a uma pele que não é saudável.
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