Exclusivo com a dona da palavra: duplamente indicada ao Shell, Julia Spadaccini escreve sua própria narrativa


Dramaturga está indicada ao prêmio teatral pelo texto das peças ‘A porta da frente’ e ‘Aos domingos’

* Por Victor Gorgulho

Quando o assunto é a nova dramaturgia dos palcos dos teatros cariocas, alguns nomes já vêm se tornando recorrentes na cena. Dentro de um amplo leque de nomes (que inclui os de Rodrigo Nogueira, Felipe Rocha, Carla Faour e mais), o da carioca Julia Spadaccini, de 35 anos, é um dos mais sólidos a se inscrever na história recente da cena teatral do Rio de Janeiro.

A autora, que já emprestou suas palavras para roteiros da Conspiração Filmes e para gibis da Editora Globo, hoje pode se gabar da proeza de ter sido duplamente indicada ao recente Prêmio Shell de Teatro, onde concorre a  Melhor Texto por suas criações ‘Aos domingos’ e ‘A porta da frente’ – o resultado sai em março de 2014, torçamos até lá.

Sempre se debruçando sobre questões contemporâneas (‘A porta’, por exemplo, coloca o ator-e-parceiro-de-companhia Jorge Caetano na pele de um pai de família crossdresser, ao som das composições de Lou Reed, veja só), Julia tem motivo de sobra para comemorar seus últimos feitos e projetos. Batemos um papo com um dos nomes mais quentes do teatro carioca!

HT – Qual a sensação de ser duplamente indicada ao Prêmio Shell de Teatro? Foi uma surpresa em dobro?

JS – Foi uma grande surpresa, sim. Fiquei muito emocionada com o reconhecimento, pois a batalha é sempre muito grande. Penso que a indicação de um texto tem muito a ver com o jeito que ele chegou ao público. Então, devo muito a equipe das duas peças indicadas. É uma maneira feliz de unir as pessoas com quem eu trabalho.

HT – Se tivesse de eleger, entre sua produção recente (incluindo os textos indicados ao Shell), qual trabalho é mais caro à você? Qual desperta um carinho maior?

JS – Essa é uma pergunta muito difícil, pois cada peça me preenche e me emociona de maneira diferente. Cada personagem traduz meu olhar para o mundo de forma singular.

HT – Você vem firmando seu espaço como uma das vozes dramatúrgicas mais importantes de sua geração. Acredita que você, e diversos outros nomes, vem abrindo espaço para um campo antes deixado um tanto de lado, no país?

JS – Acredito que houve uma grande renovação. Temos muitos jovens dramaturgos. Hoje, se um ator quer fazer um texto contemporâneo, ele não terá dificuldade para encontrar. Me orgulho muito de fazer parte desse grande passo que a dramaturgia está dando. É um movimento muito importante para a nossa cultura.

HT – Em ‘A porta da frente’ você explorou o tema dos cross-dressers, enquanto em ‘O céu está vazio’ você tocava no assunto dos cosplays, ambos temas bem contemporâneos. Que temas/narrativas a estimulam, hoje?

JS – As estruturas familiares e o rompimento com essas estruturas tão arraigadas em cada um de nós.  Também gosto de encontros inusitados e das situações cotidianas. O que me interessa é o ser humano em suas constantes transformações.

HT – Quais projetos já estão em produção e devem estrear logo, logo? Já pode compartilhar?

JS – Acabei de escrever um monólogo, que é a adaptação de um livro, para o ator Otávio Muller e que tem estreia marcada para o ano que vem. Também tenho um novo projeto com O ator e diretor Jorge Caetano, mas ainda muito no início.

HT – Qual seria seu projeto-sonho, que ainda não teve a oportunidade de escrever? Ou, com quem gostaria de trabalhar e ainda não apareceu a chance?

JS – Tive a sorte de conseguir montar 18 peças e todas foram muito sonhadas por mim. Aos poucos, estou tendo a oportunidade de trabalhar com atores que sempre admirei.

Fotos: Divulgação