Gabriela Duarte estava em Israel, pouco antes de a guerra começar. Acompanhada dos filhos, Manuela, 17, e Frederico, 11, e do ex-marido Jairo Godlflus, a atriz estava em uma viagem de família programada há muito tempo e com o objetivo de mostrar a cultura local para Manu e Fred, que são também judeus por parte de pai. Mas o que poderia ser uma emocionante jornada de contato com importantes raízes quase virou um pesadelo. Pouco depois da chegada deles, os bombardeios começaram, em consequência dos ataques do Hamas a Israel. A atriz estava hospedada em um hotel em Tel Aviv, principal centro econômico do país. No segundo dia de conflito, ela conseguiu sair do território israelense com dois filhos e o ex-marido por volta das 2h30, em horário local, após horas tentando conseguir pegar um voo no Aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv. No momento eles estão em Praga, na República Tcheca, de onde vão para Roma, e depois para o Brasil.
Diretamente de Praga, Gabriela escreveu um texto a nosso pedido relatando impressões do que a família vivenciou nesta passagem por um local em guerra. Mesmo precisando ainda digerir o que enfrentaram e o que poderia ter acontecido, ela compartilhou sentimentos desse momento em que o mundo todo está com os olhos e as orações voltadas para o se passa em Israel e na Faixa de Gaza. Até o fechamento desta publicação, o número de mortos na guerra divulgado pelos dois lados do conflito, chegava a 1.770 pessoas em decorrência dos ataques do Hamas em Israel e dos bombardeios dos israelenses na Faixa de Gaza. Em Israel, são 1.000 mortos e 2.700 feridos.
Com a palavra, Gabriela:
“Essa guerra é avassaladora. Perdem-se vidas de todos os lados e isso é absoluto. O terrorismo usurpa, aniquila, os dilemas de uma guerra são muito mais profundos do que opiniões rasas e exaltadas publicadas no conforto das redes sociais. Os dilemas de uma guerra são principalmente de quem as vive com uma solidão e um temor que não vê saída.
Só posso falar do breve lado em que estive, um lado relativamente seguro. Só posso falar do medo descomunal que senti temendo por nossas vidas. Só posso falar de já estar muito longe de Israel e ainda não conseguir dormir direito, pensando em quem está lá. Só posso falar de ver meu corpo todo reagir a cada sirene que toca aqui em Praga, mesmo sabendo que não são alertas de guerra e que não vamos precisar ir mais uma vez para um bunker. Só posso falar do meu sentimento de impotência e vulnerabilidade. De um tipo que nunca experimentei antes.
O desejo desesperado de sobrevivência nos iguala como seres humanos, nada é mais forte que esse instinto. Eu e meus filhos estamos protegidos agora. Tenho conversado com eles para que também tentem elaborar o que viveram mesmo que rapidamente. Foi um susto imenso. Ninguém esperava uma guerra agora. É tudo muito grave e desolador. Existe um desespero no ar e ao mesmo tempo uma apreensão que emudece as pessoas por lá.
Ficamos mais unidos como família. O pai dos meus filhos também estava conosco, o que foi importante, porque penso que se um de nós estivesse longe neste momento, a sensação de impotência poderia ser ainda maior. Era para ser uma viagem feliz para apresentar uma cultura para os nossos filhos da qual fazem parte de alguma forma. Não aconteceu assim, infelizmente, mas eles estão aqui comigo, sãos, vivos. Estamos juntos. Isso é tudo pra mim.
Mantive a firmeza na minha fé em todos os momentos desejando sair dali. Conseguimos. Agora, minhas orações continuam com os que temem por suas vidas em Israel e por todos que estão sofrendo as consequências desses ataques e repudiam qualquer tipo de horror. Em uma guerra nunca haverão vencedores”.
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