Direto de Madri, a atriz Anna Luiza Anillo diz: “Estamos com toque de recolher e a depressão aumentando”


A segunda onda da pandemia do Covid-19 afeta a Espanha, onde, inclusive, o Rei Felipe VI entrou em quarentena, após ter contato com alguém infectado pelo vírus. Na capital do país, a jovem de 20 anos, neta de Rosamaria Murtinho e Mauro Mendonça, traça um paralelo com o que vê pelo mundo. Ela esteve recentemente nos Estados Unidos, e revela o que pretende fazer nos próximos dias. Antes da pandemia, Anna vinha fazendo aulas de dança e um curso de formação de teatro musical. “Pretendo arranjar um trabalho, tipo garçonete, para ganhar um dinheiro e fazer os meus cursos”, conta ela, que já fez também aulas de canto

* Por Carlos Lima Costa

Neta de Rosamaria Murtinho e Mauro Mendonça, a jovem Anna Luiza Anillo, aos 20 anos, segue os passos dos avós na carreira. Na Globo, chegou a mostrar seu DNA artístico, ainda menina, no remake de O Astro, em 2011 Nos últimos tempos, longe do Brasil, ela vem se aprimorando na área. Depois de morar na Flórida, Estados Unidos, está atualmente em Madri, de onde dá seu relato de como a pandemia do Covid-19 voltou a afetar a capital da Espanha, onde, inclusive, o Rei Felipe VI entrou em quarentena, após ter contato com alguém infectado pelo vírus. Suas atividades oficiais foram suspensas, conforme comunicado oficial feito pela Casa Real, nesta segunda-feira, dia 23.

“Aqui já estamos na segunda onda da doença, com toque de recolher. Diariamente, a meia noite, todos os restaurantes, bares, estabelecimentos em geral tem que fechar as portas  e as pessoas tem que estar em suas casas. Somente quem trabalha até esse horário e tem autorização, comprovando isso, pode estar na rua a caminho de casa”, pontua. E prossegue: “A situação é grave. Nas ruas, todos andam de máscaras, inclusive, crianças. É obrigatório. Se alguém estiver sem, é multado, mas no transporte público, no metrô, por exemplo, não existe o distanciamento necessário, as pessoas sentam lado a lado”, acrescenta ela sobre o país que já registrou mais de 43 mil mortes e um milhão e meio de infectados.

Mesmo diante do caos, Anna aponta pontos positivos na guerra de enfrentamento a doença. “Agora, você pode ligar para o serviço de saúde pública solicitando exame de Covid-19, que eles vão até a porta de sua casa, com toda roupa de proteção, não entram, fazem a coleta, e três dias depois dão o resultado gratuitamente. Na primeira onda, isso não era possível. E, hoje, já existem leitos em hospitais e tratamento disponível”, explica.

Anna Luiza planeja seguir carreira como atriz (Foto: Arquivo Pessoal)

Anna Luiza planeja seguir carreira como atriz (Foto: Arquivo Pessoal)

Anna até traça um paralelo no combate pelo mundo. “Nos Estados Unidos estava uma loucura e o (Donald) Trump também não estava nem aí, não estava fazendo muita questão de proteger o povo. Voltei para cá em setembro. Lá, no início, peguei o lockdown nos Estados Unidos. É difícil esperar que uma população enorme siga regras, quando a pessoa que está no poder, que deveria induzir o país para um lockdown seguro, com medidas efetivas, não faz nada. É difícil deixar tudo para o povo que muita gente não tem acesso as informações. Falo no geral, no (Jair) Bolsonaro, nos outros líderes que não estão levando a sério, que infelizmente tem muitos. Aqui respeitam mais, em usar máscara pelo menos”, realça.

Em Madri, Anna usa máscara como é obrigatório (Foto: Arquivo Pessoal)

Em Madri, Anna usa máscara como é obrigatório (Foto: Arquivo Pessoal)

Anna e a mãe, a atriz Marcia Del Anillo, chegaram em Madri em dezembro de 2018. Mas quando a pandemia do Covid-19 estourou, estavam passando uns dias nos Estados Unidos. “Todo mundo teve que ficar na quarentena em seu lockdown. Mesmo que a gente pudesse sair dos Estados Unidos, a gente não ia poder entrar na Espanha. Voltamos para cá agora em setembro”, frisa Anna. Nesta fase mais difícil da doença, para ela é tranquilo não ir para as ruas. “Eu sempre fui mais de ficar em casa. Eu ía à escola, fazia minhas atividades e só isso. Nunca fui muito de sair, então, particularmente não tenho problema de ficar no lockdown. Mas sei que tem gente que não consegue ficar dentro por muito tempo. Minha mãe é que sai mais quando necessário para fazer as compras, supermercado, para resolver o que estivermos precisando. Agora, que estou nessa idade que era para começar a sair, aconteceu isso, então, prefiro também não arriscar. Vou ter outras oportunidades para ver se gosto ou não”, explica.

Com a mãe, Marcia, Anna passeia em Paris, antes da pandemia (Foto: Arquivo Pessoal)

Com a mãe, Marcia, Anna passeia em Paris, antes da pandemia (Foto: Arquivo Pessoal)

Anna estava no segundo ano quando foi para a Flórida, nos Estados Unidos, em 2016, e lá concluiu o ensino médio. No Brasil, havia atuado na novela O Astro e encenado o musical Anos 80 De Filho Para Pai (montagem que surgiu da escola de teatro Vamos Fazer Arte). No remake, interpretou a filha do personagem vivido por Humberto Martins (posteriormente, ele namorou a mãe de Anna). Após essa experiência, não apostou muito na carreira. “Aconteceram algumas coisas durante esta época que eu fiquei um pouco desanimada, comecei a pensar que atuar não era muito o que eu queria. Era aquela coisa, se rolasse tudo bem, se não rolasse, tudo bem também. Tive problemas pessoais e acabei me distanciando um pouco”, ressalta. A partir daí focou na dança tendo aulas de balé, jazz, hip hop. E prossegue que o desejo de ser atriz voltou após várias reflexões. “Acho que teve muito a ver com certos questionamentos. Eu não queria me escorar nos meus avós e no meu tio (Mauro Mendonça Filho, que, inclusive, dirigiu O Astro). Eu queria conseguir as coisas por mim mesma, pelo meu talento e não por ser neta de quem eu sou. Por mais que digam ‘gostaram de você’, você realmente nunca sabe se foi realmente isso ou se teve um nepotismo ali. Não queria ficar nessa dúvida e ansiedade”, analisa. E acrescenta: “Em O Astro, eu e minha mãe pedimos para que eu fizesse audição para que fosse o mais justo que a gente pudesse controlar. Se me escolheram ou não por ser sobrinha dele, não sei, aí já não estava no nosso controle. Também não sabia se realmente queria isso ou se estava fazendo só pelo meu pai (o ator Rodrigo Mendonça), pela minha mãe e pelos meus avós. Acho que foi bom também esse tempo distanciada para entender o que eu queria e não o que os outros queriam”, ressalta.

Anna e a avó Rosamaria Murtinho nos bastidores da novela O Astro (Foto: Arquivo Pessoal)

Anna e a avó Rosamaria Murtinho nos bastidores da novela O Astro (Foto: Arquivo Pessoal)

No decorrer da trama, ela e a avó estiveram juntas uma única vez, em uma cena de casamento, mas não aconteceu nenhum diálogo entre suas personagens. “Não lembro se ela me dava conselhos, mas minha avó gostava de me ver seguindo seus passos. É difícil não ter uma influência dela e do meu avô nas minhas escolhas, até pela história deles, o que não tem nada de errado”, diz, mas optou por não usar o sobrenome deles no nome artístico, para não ser aprovada em nenhum projeto apenas pelo parentesco. “Teve isso, tive também uns motivos mais pessoais, rolaram uns problemas e eu resolvi não usar”, afirma. E aponta suas referências. “Gosto muito da Audrey Hepburn, da Fernanda Montenegro obviamente, uma lenda, tem a americana Zendaya. Da minha avó, o sucesso dela é algo que eu queria ter, não vou mentir, mas eu particularmente nunca vi nada dela”, frisa Anna, que era pequena e não assistia as novelas.

Antes da pandemia, Anna vinha fazendo aulas de dança e um curso de formação de teatro musical. “Agora, mesmo com essa situação da pandemia, pretendo arranjar um trabalho, tipo garçonete, para ganhar um dinheiro e fazer os meus cursos”, conta ela, que já fez também aulas de canto.

Anna mora fora do Brasil desde 2016 (Foto: Arquivo Pessoal)

Anna mora fora do Brasil desde 2016 (Foto: Arquivo Pessoal)

Ela está longe do Brasil, mas não esquece seu país. “Eu sinto falta dos amigos e da cidade no geral, das praias do Rio que eu ia direto com o meu pai. Mas estou bem adaptada por aqui, fiz amigos de várias partes do mundo, na mesma faixa etária, na escola de dança. Em Madri, consegui ser mais independente e feliz com a minha própria companhia, porque antes eu sempre precisava de alguém para ir ao cinema e para fazer algumas coisas. Ganhei ótimas experiências por aqui”, conta. Como enfrentou a pandemia? “Fiquei de boa na minha casa. Isso de não poder sair não fez muita diferença, porque sempre fui caseira, mas com certeza a minha depressão aumentou, porque muitas pessoas estavam morrendo, o ano todo perdido sem saber o que fazer, o que vai rolar. Obviamente, isso afeta. Eu já tinha depressão. Ela não escolhe idade. Não diria que estou melhor, mas estou tentando tratar. Depressão é algo que pode te pegar do nada, você nem percebe. Não sei muito o que causou dessa vez de novo. Tinha ficado livre por alguns anos. Tive quando criança, foram problemas pessoais, estressantes, decepcionantes que pesaram muito para cima de mim, questão realmente pessoal, e eu era muito jovem para conseguir aguentar tudo, então, foi meio inevitável. Nada a ver com a separação dos meus pais, pois isso aconteceu quando eu era um bebê. Foi depois que participei de O Astro. Pretendo voltar a fazer terapia, mas, graças a Deus estou bem. Tem gente muito pior do que eu”, finaliza.