*Por Jeff Lessa
Há oito anos, Siluandra Scheffer fez um tremendo sucesso com “Diário de uma Ex-Gordinha”, livro no qual relatava sua luta contra a balança e o bullying do qual foi vítima na adolescência. A decisão de perder peso foi tomada depois de ser humilhada na loja onde trabalhava como vendedora: Silu foi demitida por conta de sua aparência. No livro, ela conta essa e outras experiências sem pudores, fazendo do leitor um confidente, quase um amigo. Há três meses, o “Diário” foi lançado em Miami na versão em espanhol. Parte do valor arrecadado com as vendas será destinada à Memorial Hospital Foundation da cidade.
Desde agosto do ano passado, porém, Siluandra vem encarando um novo desafio. Agora o vilão é um câncer de mama tratado por dois anos como se fosse uma simples dermatite. Tudo por conta de um erro no diagnóstico. Se você acha que ela se deixou abater, enganou-se muito, mas muito redondamente. E, como fez com o sobrepeso, Silu está fazendo deste limão outra limonada: ela vem ajudando pacientes a encarar a situação com mais leveza e tranquilidade.
– Ter câncer é conviver com a morte. Diante da morte, você perde o medo de tudo. Quando vivemos sem medo, somos felizes – diz Silu. – O câncer tem uma missão na nossa vida. Uma amiga disse que ter isso é para quem merece e eu fiquei chocada, não concordei. Aí, fiz a primeira sessão de quimioterapia. Para mim foi horrível demais, fiquei com dores, foi inacreditável. No dia em que acordei sem dor compreendi o que a amiga queria dizer. É para quem merece um aprendizado.
E ela faz questão de dividir esse aprendizado com outras mulheres, na tentativa de tornar o convívio com a doença o mais suave possível. Seus vídeos no Instagram são vistos por milhares de pessoas, pacientes ou não. Neles, Silu ensina a usar perucas e bandanas com humor. Assim que são postados, viralizam.
– Nos meus vídeos eu apareço treinando careca na academia. Uso peruca eventualmente. Adoro fabricar a peruca, brincar com as possibilidades. Um dia estou com corte joãozinho, no outro estou ruiva e por aí vai. Mas assumo a careca tranquilamente. É ótimo tomar banho e não usar touca! Você sabe que a produção da mulher careca é diferente da que tem cabelo, não é? Uso argolonas, lenços, esses acessórios – conta – Também dou dicas de produtos e incentivo as mulheres a assumir a cabeça lisa, mas é difícil. Nas minhas palestras, sempre que falo do câncer tiro a peruca.
Para combater o comportamento derrotista, parte da receita de Silu inclui escolher as pessoas com quem você quer conviver.
– Ao meu redor só tem gente boa. Eu decidi ser feliz. Sim, porque ser feliz ou não é uma escolha. Se você fala o dia todo, todos os dias sobre o quanto se sente mal, sobre a doença, sobre desistir é porque escolheu não ser feliz – afirma. – Infelizmente, 95% das mulheres que têm câncer ganham peso. Outras tantas são abandonadas pelo marido. Elas engordam porque não saem mais de casa, passam a comer mais para compensar a tristeza. Essas mulheres se sentem mutiladas, fracassadas.
Perguntamos como é ser careca no Brasil e nos Estados Unidos e Silu responde na maior honestidade:
– Lá, muita gente me cumprimenta, diz que estou bonita, dá um aperto de mão. Acredito que a maioria dessas pessoas não ache que estou doente. Elas pensam que é uma escolha. Aqui recebo muito carinho, pessoas me abraçam, choram, dizem que vão rezar por mim. Desde que cheguei ao Brasil não paro de chorar por causa de tanto carinho – conta. – Mas também esbarro em muito preconceito. Um cara me xingou na rua e teve um garçom que se recusou a chegar perto de mim. São culturas muito diferentes, né? Nos Estados Unidos há mais respeito à individualidade. Nem criança me olha estranho. Aliás, ninguém me olha. Aqui tem o carinho, mas rola muito preconceito.
No dia 11 de abril, Siluandra Scheffer será operada nos Estados Unidos. As sessões de quimio já são coisas do passado e ela está pronta para a cirurgia.
– No mesmo dia vou refazer as mamas com silicone. Tenho que tirar os bicos dos seios, pois meu câncer é de um tipo raro chamado doença de paget, que afeta só 2% das pacientes. É um câncer que começa no bico, vai de fora para dentro quando o normal é o contrário – revela.
Sobre o local escolhido, ela revela:
– Parece um hotel cinco estrelas. Você entra e todo mundo te recebe sorrindo. Tudo é muito rápido, sem burocracia. Não tem atrasos. Não tem filas. E os cardápios com os pratos do almoço e do jantar chegam para você por um aplicativo.
Todos na torcida por Siluandra, ok?
Artigos relacionados