*Por Brunna Condini
Um salve para todas as mães do Brasil! Em sua pluralidade, com suas essências, diferentes necessidades e questões. Um salve às mães que tentam desconstruir a ideia de perfeição romântica a elas atribuída, que não cabe na realidade dos dias. Que são visceralmente apaixonadas por suas crias, mas que permitem-se experimentar sua humanidade. Apesar, e por conta, do amor incondicional que sentem.
Para falar sobre a maternidade sem as idealizações costumeiras, com açúcar e muito afeto, mas nenhuma frescura ou filtro para abordar questões comuns em torno dela, convidamos Tatá Werneck para dividir um pouco da sua experiência recente, e ela topou. Tudo à distância, mantendo o isolamento recomendado por conta da pandemia do novo coronavírus. Tatá está recolhida, cuidando da filha Clara Maria, de 6 meses, ao lado do marido Rafael Vitti, e também dando conta de uma casa (bem) grande, que além de os abrigar, também conta com 20 animais que foram adotados. “Está puxado, mas temos que manter a quarentena. É importante”, pontua.
Tatá mãe é pura emoção. É visceral, protetora e amorosa. Ela vem aprendendo sobre a maternidade todos os dias, e também a sentir o tal “maior amor do mundo”. Neste Dia das Mães tudo que a atriz e apresentadora deseja é saúde para sua pequena e para o mundo. Simples assim. A felicidade para ela hoje, está diretamente ligada ao essencial: ter saúde, afeto, paz e segurança.
E é exatamente com tudo isso que ela vai passar o dia de hoje. “Vamos ficar em casa, juntos. Me vejo agora como mãe antes de tudo que sou. Por conta deste momento, estou podendo acompanhar todas as mudanças da Clara. Ela me surpreende. Nem nos meus melhores sonhos imaginaria uma filha tão linda, amorosa, carinhosa. E graças a Deus, saudável. Cuidar dela é admirá-la. Observar a complexidade desse ser tão potente que, apesar de ter apenas 6 meses, parece que já veio pronto para ensinar”, derrete-se Tatá, que não deve estar com a mãe, Claudia Werneck, no intuito de protegê-la, já que ela está entre os grupos considerados de risco, ou seja, mais vulneráveis no momento.
Como tem sido vivenciar a maternidade no isolamento? “A quarentena e o puerpério deixam latentes nossos medos, fobias. Cuidar da saúde mental tem sido um desafio. Imaginar o mundo nessa situação e querer proteger sua filha, que acabou de nascer. E, ao mesmo tempo, querer ensinar a ela a proteger o novo mundo que irá nascer também. A geração dela precisa entender que é uma responsabilidade cuidar para que o mundo seja melhor para as gerações futuras. O mundo não é nosso. Apenas vivemos nele. Ele é bem maior e mais importante que qualquer um de nós”, ressalta. “Tenho noção do meu privilégio, e sei, que mesmo assim, cuidar da saúde mental não é fácil. Mas agradeço por poder ficar em casa. E também por ajudarmos todo mundo que podemos, porque isso não é caridade, é obrigação, é o momento de conscientização mesmo”.
Ela também divide as intensas mudanças que a maternidade trouxe. Quem é a Tatá pós Clarinha? “Ser mãe me mudou completamente. Mudou meus objetivos e simplificou minha noção de felicidade. Eu só preciso de saúde e paz. E, claro, tempo para ver minha filha crescer. Antes, eu tinha lista de coisas que pouco importam, porque somos seres de natureza simples. A gente complica muito”.
Tatá faz questão de reforçar o quanto a gravidez, além da maternidade, são romantizadas e chama à atenção para o que pode ser opressor, dentro de uma diversidade de experiências. “Cada gestação é única. A minha foi muito difícil. Vomitei até os 9 meses. Fiquei dois meses sem poder levantar com descolamento. E, no final, tive urticária no corpo inteiro além de diabetes gestacional. Não fiz aqueles ensaios que via as mulheres grávidas fazendo. Não aguentava subir uma escada. Não foi nada do que imaginei, porque não sabia que poderia ser diferente do conto de fadas que via. Porque as mulheres têm medo de falar”, desabafa.
“Mulheres grávidas são criticadas o tempo todo. Sempre tem alguém para dizer que estão erradas em alguma coisa. Eu senti culpa pelo privilégio e gratidão ao mesmo tempo. Pensava nas mulheres que estavam passando pelo que passei sem apoio de ninguém. Sem poderem faltar ao trabalho. Passando mal escondidas, com medo. Senti muito por todas elas. Por isso, fiz questão de deixar claro que foi difícil para mim. E, no pós, também. Senti o maior amor da vida, mas ao mesmo tempo, tive baby blues e vi pessoas que diziam que estariam sempre ao lado, se afastando. As transformações pelas quais uma mulher grávida passa são inúmeras. Não dá para sair imune. Amo minha filha mais que qualquer coisa. Mas nem por isso deixo de reconhecer as mudanças que a gravidez traz, e isso não muda meu amor”.
Por ter consciência que o artista tem responsabilidade com o que expressa e divulga, Tatá procura ter sempre uma comunicação direta com seus fãs e seguidores, sem criar “bolhas” ou uma vida feita mais de fantasia do que de realidade. E embora esteja recolhida neste período, ela faz questão de compartilhar “recortes” deste cotidiano, apesar do cansaço e do desgaste que o cenário de incertezas tem causado.
Na quarentena estão só você , Clara e Rafa. Os casais acabam, por conta do isolamento, convivendo mais do que antes, como tem sido? “A quarentena não traz um recorte fiel das relações. Estamos nos nossos extremos. De medo. Ansiedade. Ninguém fica 24 horas por meses com seus parceiros. A gente sai, trabalha, tem saudade. Acho injusto com as relações julgá-las sob o prisma do isolamento. Não é sua relação que está ruim, está difícil para todo mundo”, analisa.
Engajamento contra a disseminação do vírus
Tatá aprendeu sobre consciência social e ambiental desde cedo em casa, valores que deve passar também para a filha. Com a pandemia da Covid-19, ela que tem prima médica na linha de frente de combate ao vírus, que chegou inclusive, a contrair o novo coronavírus, tem se envolvido em iniciativas de conscientização e movimentos para ajudar quem precisa. “Tenho uma prima médica, a Camila, que trabalha no Hospital Pedro Ernesto e em alguns outros hospitais da rede privada. Ela é reumatologista, mas está focada em tratar pacientes da pandemia neste momento. No SUS, ela é médica de rotina de uma enfermaria só de pacientes com Covid-19, e eles têm trabalhado intensamente para tratar e ajudar os pacientes internados. O ritmo de trabalho é intenso, mas estão conseguindo fazer um bom trabalho”.
Esses dias você criticou o comportamento de uma “influenciadora” (Gabriela Pugliesi) que quebrou a quarentena, mencionando o caos na área de saúde. O que acha mais importante e que deve ser destacado sobre o trabalho de quem está na linha de frente? “ É importante termos a consciência que nós, como figuras públicas influenciamos as pessoas, tanto de forma positiva quanto negativa; ao quebrarmos a quarentena, estamos expondo todos, inclusive aqueles que podem vir a desenvolver uma forma grave de doença, o que só aumenta a sobrecarga do sistema de saúde e diminui a chance dos pacientes graves sobreviverem. Nesse momento todas as nossas atitudes devem ser em prol da responsabilidade coletiva. Aplaudir os profissionais de saúde é lindo. Mas para realmente protegê-los, devemos, se possível, ficar em casa’.
Como está sua prima? Que recado mandaria para ela e para os outros heróis que estão na linha de frente? “Graças a Deus, ela está bem. Já completou sua quarentena e retornou ao trabalho para continuar ajudando. Falei com ela todos os dias e vi sua ansiedade em melhorar logo para ajudar seus pacientes. Gostaria de parabenizar todos os profissionais de saúde que abdicam de suas vidas e de suas famílias para servir outras pessoas. Essa pandemia vem trazer à tona a importância dessa profissão que com o tempo vem sendo desvalorizada junto da ciência e do sistema público de saúde”.
E que recado mandaria para quem ainda não compreende a gravidade do que estamos vivendo? “Para quem não está inserido em um hospital, lidando com sofrimento todos os dias, essa realidade do caos fica distante. Mas é importante lembrar que nossa atitude de nos proteger e proteger o próximo, tem grande impacto no sucesso do trabalho árduo dos profissionais de saúde e de todos que não podem ficar em casa. Não se vence essa pandemia sozinho. É hora de mostrarmos responsabilidade e humanidade”.
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