* Por Carlos Lima Costa
Quando Debby Lagranha surgiu no meio artístico trabalhando em Xuxa no Mundo da Imaginação e com Renato Aragão, na Turma do Didi, ela encantou com seus cachinhos. Na adolescência, com 12 para 13 anos, mudou essa característica marcante de seu visual e apareceu de cabelos lisos. A transformação não foi uma moda de ocasião. Hoje, ela consegue falar. Foi mais uma pressão de padronização. “É como esse negócio de harmonização facial. Às vezes, desarmoniza mais do que harmoniza. É uma loucura, falo até por conta do meu cabelo. Eu sofri muito bullying. Sem dúvida nenhuma, foi mais fácil e prático alisar durante um bom tempo”, pontua.
E assim, seguiu a vida até que há uns quatro anos, sua filha, Maria Eduarda – que atualmente está com sete anos -, perguntou: ‘Você tem cabelo tão lisinho e meu pai também. Por que o meu é cacheado?’ Diante do questionamento, resolveu mudar. “Desde, então, nunca mais fiz uma química no meu cabelo. Passei por esse processo da transição capilar tem uns três anos. E foi muito prazeroso me ver 100% como eu sou. Me redescobri, foi libertador. Acho meus cabelos lindos. Estou falando do cabelo, mas tem mulher que vai para a cirurgia, modifica um milhão de coisas em busca da perfeição que nunca vai ter”, ressalta.
E relembra com mais detalhes momentos do passado. “Eu era a única cacheada na minha turma. E era muito magrinha, então, me chamavam de ‘bombril’ e de ‘cabo de vassoura’. Era uma época que eu era muito famosa, mas nunca usei da minha fama para ser a popstar da escola. E naquela fase de insegurança, caía muito na pilha”, desabafa. Mas acrescenta que a filha não tem o menor problema com o cabelo. “Muito pelo contrário, ela se ama mais que tudo, acha o cabelo dela perfeito. Sempre estimulei isso em relação aos cachinhos. Ela me perguntou como curiosidade. Mas o próximo passo poderia ser ela se questionar, então, antes disso eu mudei”, frisa.
Debby lembra que na época dela não se usava o termo bullying. “Era normal as crianças zoarem as outras, e não importava se estavam machucando. Hoje em dia já entendo que aquilo era uma forma de preconceito que vinha de casa, de gerações. Então, tudo é uma questão de costume do que você ouve, do que você faz, do que você vê”, reflete.
Ela que apresentou o Clube da Criança, na extinta TV Manchete, e participou dos programas Xuxa no Mundo da Imaginação e A Turma do Didi, com Renato Aragão, anda mais afastada do meio artístico. “Vi várias reportagens comigo que me perguntavam o que eu ia ser quando crescesse, sempre respondi veterinária. Quero isso desde que me conheço por gente. Mais do que uma realização profissional e pessoal, mais do que um sonho de infância, é uma missão de vida”, observa. Hoje, em sua casa, ela, a filha, e o marido, Leandro Amieiro, têm a companhia de oito cachorros, um papagaio, duas calopsitas, dois periquitos, um coelho, dois jabutis e três tartarugas tigres de água (cágado). “A casa é pequena, mas o terreno é grande”, diz.
Naturalmente, Debby foi trocando de profissão. “Na verdade foi 100% opção minha. Quando entrei na faculdade, em 2009, era tempo integral, de 8 às 17 horas. Durante esses cinco anos estudando, fiz participação em umas três novelas, mas já não fazia muito sentido, eu perdia aula. E disse para mim mesma: ‘Tenho que focar.’ Com um ano de faculdade, abri a hospedagem, a vida virou loucura, bombou de cachorro. Eu comecei a viver na dependência de ir para a faculdade, estudar, cuidar de cachorro. Não tinha tempo para dedicar a parte artística. Então, a vida foi levando”, recorda.
E não sente falta. “O Brasil me viu crescer. Lembro que ao engravidar da Duda, ouvi muito ‘o Brasil vai ser avô’. Após a chegada dela, muita gente me procurou para fazer entrevista, participar de programas. Quando estou em eventos, gosto, me sinto bem. Mas hoje em dia, prefiro estar com meus bichos, com meu pé no chão, quietinha no meu canto do que ter que colocar um salto, passar maquiagem. Das coisas do glamour que o meio exige eu não sinto falta nenhuma. Se aparecer algo, se tiver que ser, vou fazer da melhor forma possível, mas se falar que sonho com isso, vou estar mentindo”, assegura ela, que em 2019, com o marido, participou, na Record, do Power Couple, e, este ano, do Troca de Esposas.
Debby se formou, em 2013, ano em que Duda nasceu. “No segundo período da faculdade investi em hospedagem de cachorro e a partir daí no trabalho como veterinária”, lembra. Hoje em dia, cuida da parte clínica e quando é necessário, aluga um espaço em um centro cirúrgico. “Atendo a domicílio, porque pra mim é mais fácil eu fazer o meu horário. O dia que não quero, não trabalho. Não sou refém do horário do patrão”, diz ela, cujo papel mais recente como atriz foi na novela Aquele Beijo, exibida até abril de 2012.
Debby ama tanto os animais, que confessa ter dificuldade de ganhar dinheiro com a profissão. “Sei que tenho que receber pelo meu trabalho, mas tenho dificuldade de mensurar valores. Quero muito mais é ajudar. Acabo entrando sempre em um conflito interno por isso”, revela.
E aponta que, hoje, seria difícil conciliar a maternidade com a vida de atriz. “Tenho grande prazer em ser mãe, em poder acompanhar a natação, equitação, qualquer dia, como fazia em anos normais, antes da pandemia. Se tivesse na TV, não seria dona do meu nariz. Como veterinária, consigo ser muito dona do meu próprio nariz em relação a horário”, conta.
Junto com o marido, Debby possui uma psicultura. Mas Leandro é quem fica à frente do negócio. Nessa criação trabalham muito com peixes, como tilápia e tambaqui. Por conta da pandemia, eles têm vendido mais direto para o consumidor final, onde lucram mais.
A pandemia, aliás, provocou uma mudança radical na vida de Debby. Sua filha, por exemplo, ficava na escola em tempo integral, de 10h às 18h30, onde fazia as refeições e os deveres de casa. “Não tinha o compromisso de fazer almoço e janta todos os dias, isso já foi uma mudança radical no cotidiano. E a Duda não se satisfaz, ela é gulosa, come muito bem. De repente parei de trabalhar 100%. Eu, a Duda e o Leandro nos isolamos, passamos 109 dias dentro de casa, a partir de 13 de março, quando decretaram a quarentena. Aí mexeu com tudo, com a cabeça, o estresse. Como ela fazia os deveres de casa na escola, não tínhamos uma escrivaninha, mesinha, um espaço para ela estudar. Primeira coisa, tive que organizar isso. E ela é muito agitada, não conseguia focar, entender, estava com dificuldade, em dia de chuva a internet oscilava, caía o sinal. Até entender que aquela ía ser a rotina, não foi fácil”, relata ela.
E prossegue: “No final de 2020 já estava todo mundo cansado. Foi ano complexo. Tivemos que nos ajustar, mas foi nítida a evolução. Entrou praticamente sem saber ler e finalizou lendo de tirar onda. Brinco que com a Duda não dá para ter rédea curta, tem que ser rígida, porque ela não foca, ela desvirtua muito rápido. Estava ali firme e forte partilhando. A gente só vai deixar voltar à escola após a vacina.”
Debby conta que a maternidade foi como um renascimento. “Passei a viver para ela. Ganho um dinheiro, já quero realizar um sonho dela, tudo na vida é em torno da Duda, não tem como ser diferente. Fui mãe nova. É muito louco ver que você vai amadurecendo, se conhecendo, se redescobrindo. A maternidade é a melhor coisa da minha vida, tanto que hoje em dia vivo do jeito que eu vivo para poder ter a Duda ali do meu lado, fazendo comigo as coisas, podendo ser mãe dela em tempo integral. Eu nunca sonhei casar, nunca me imaginei de véu e grinalda, mas sempre sonhei em ser mãe. A Duda veio exatamente para isso.”
A filha parece seguir os passos da mãe. Duda já fez algumas propagandas. “Ela gosta, tem a genética. Mas tudo é sorte, é estar na hora certa no lugar certo. Ela ama aparecer, é graciosa, tem meu jeitinho para falar. Mas nunca incentivei até para não frustrá-la sem necessidade. E ela diz que deseja ser diretora, porque quer mandar. Essa é a Maria Eduarda, essa frase define a Duda furacão. Mas ela também gosta muito de animais e acha que já é veterinária formada, é superengraçado. Se pergunta o que vai ser quando crescer, ela fala várias outras coisas. E aí completa dizendo que já é veterinária”, diverte-se.
Quando retomou o trabalho, no início, Debby apenas realizava cirurgia de emergência. “Saía com muito medo, tomando todos os cuidados. Tem uns dois meses que começamos a relaxar mais e eu voltei a atender. Bem pontual, porque sei que tem cliente meu que é bem relaxado, então, temos cuidados redobrados por causa dos meus pais e dos pais do Leandro. Tem que pensar bem, o quanto vale fazer, ir e acontecer justamente por conta dessas pessoas que não estão diretamente ligadas na gente, mas que correm riscos”, explica. A avó materna de 94 anos e a tia de Debby tiveram Covid-19 e se recuperaram, mas recentemente a família perdeu um primo distante por conta do coronavírus.
E Debby deixa escapar uma curiosidade. Durante a quarentena, ela ganhou alguns quilinhos. “Confesso que nesse início de pandemia relaxei demais, que a gente fica ansiosa e sobrecarregada, sem entender o que está acontecendo, então, comi pra caramba, virei boquinha nervosa. Depois de três, quatro meses, quando precisei operar, nenhuma calça jeans cabia em mim. Eu fiquei meio pançuda. Aí depois eu fui me adaptando, fazendo exercício em casa. Mas sem neurose. Faço pela saúde. E não comprei roupa nova não. Fechei a boca. Com a mesma facilidade que posso engordar, eu emagreço. Meu metabolismo é bem rápido. Também sou zero apegada, não compraria roupa nova não. Se não emagrecesse, ia adaptando com um vestido longo, uma saia, uma leg”, diverte-se.
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