De Luisa Mell, Preta Gil a Di Ferrero com Covid-19: e a saúde mental de tantas pessoas em tempos de quarentena?


Infectados com o Coronavírus, artistas falam com exclusividade sobre o momento, medidas de recuperação, e também sobre a questão emocional no período. A convite do site, a psicóloga Luiza Martins faz recomendações que apontam caminhos para procurar manter a saúde mental nestes novos tempos. Estamos juntos!

*Por Brunna Condini

O ano de 2020 já apresentou um dos maiores desafios para humanidade de cara. A pandemia do novo Coronavírus trouxe a necessidade do afastamento social na tentativa de conter a proliferação do vírus. Recomendação necessária da Organização Mundial de Saúde (OMS)  e realidade assumida para a população de muitos países. O perigo é invisível, mas de contaminação concreta e acelerada. No país, segundo dados do Ministério da Saúde, no seu balanço da última terça-feira, são 2.433 casos confirmados e 57 mortes. E embora especialistas alertem que existem grupos mais vulneráveis como os idosos e portadores de doenças crônicas, todos estão expostos ao Covid-19. Aqui no Brasil, entre os famosos que tornaram pública a doença, estão Preta Gil, Fernanda Paes Leme, Gabriela Pugliese, Di Ferrero e Luisa Mell, entre outros.

Luisa e o marido, o empresário Gilberto Zaborowsky, foram detectados com o Covid-19 na segunda-feira, e estão em quarentena, mas enquanto a ativista está em isolamento em casa, o marido está internado, com pneumonia em um hospital de São Paulo. Além dos posts para dividir com seus seguidores o momento, Luisa falou com exclusividade ao site. O que tem sido emocionalmente mais difícil nesse momento? “Está tudo muito difícil, porque eu estou doente, meu marido internado e não tem melhorado. Não posso visitá-lo, ficar ao lado dele. Também não posso receber apoio da minha família, um abraço, nada”, desabafa, emocionada.

Luisa Mell em seu post no Instagram em que compartilha com os seguidores o resultado detectado positivo para o Coronavírus (Reprodução/Instagram(

Tem conseguido utilizar algum recurso para lidar com as dificuldades emocionais do período? “É uma das coisas mais difíceis que já passei, e olha que já passei por tanta coisa. Meu Deus, não estou conseguindo dominar as dificuldades emocionais. Tento, falo com a família, os amigos. Ontem fiz uma meditação com um amigo, mas tem sido muito difícil”, diz. “Imagina, você está com uma doença, seu marido internado com a mesma doença. E o tempo todo, na TV, nos jornais, vemos o anúncio das mortes de milhares de pessoas no mundo com a mesma doença. Estou muito abalada hoje”.

Luisa tem dividido com seus seguidores nas redes as apreensões com o momento. Entre as preocupações, as atividades do Instituto Luisa Mell, que resgata, acolhe e cuida de animais em situação de abandono ou vulnerabilidade. “Estou em pânico com a situação do instituto, as doações desaceleraram e precisamos continuar o trabalho. Na verdade, a Tatá Werneck é a pessoa que eu tenho falado mais sobre isso agora, ela tem me apoiado neste sentido. Além dela amar animais desde sempre, tem me escrito todo dia. Tatá é uma pessoa incrível, além de ser essa atriz talentosa. Tem um coração gigante”, conta Luisa, reforçando o pedido para que as pessoas se cuidem e fiquem em casa, e também, que não parem de apoiar a causa animal.

“Estou em pânico com a situação do instituto, as doações desaceleraram e precisamos continuar o trabalho” (Reprodução/Instagram)

Isolado em Florianópolis por conta do Coronavírus, Di Ferrero diz que passou pelo tratamento e já está recuperado, mas continua em isolamento. O cantor comenta como lidou com as dificuldades emocionais geradas pela quarentena que a doença impõe. “Já passei pelo 15o dia de isolamento e estou curado, então estou mais tranquilo. Lá no começo foi mais difícil e complicado porque ficava irritado, não conseguia dormir direito. O jeito que acabei dando foi fazer música. Até agora já fiz quatro canções”, revela. “Mas continuo me cuidando, tomando muita água, vitamina C e cuidando da minha imunidade”.

Di Ferrero recuperado do Covid-19: “Já passei pelo 15o dia de isolamento e estou curado, então estou mais tranquilo” (Reprodução/Instagram)

Depois de passar por tudo isso, que tipo de apelo faz? “O que eu quis passar o tempo todo para as pessoas é que precisamos manter a calma, a sanidade, para conseguirmos aprender com esse momento. Eu entendo que a situação está difícil, que todo mundo está perdendo alguma coisa, uns mais, outros menos, mas temos que manter a serenidade. Temos que nos respeitar, olhar para dentro, refletir, a gente não vai mais ser o mesmo depois disso. É o momento de nos unirmos no respeito, quanto mais fizermos isso, mais rápido vai passar e menos todo mundo vai perder”, reflete.

“O que eu quis passar o tempo todo para as pessoas, é que precisamos manter a calma, a sanidade, para conseguirmos aprender com esse momento” (Divulgação)

O cantor reforça, que embora afastado, se sente cada vez mais unido com seu público, e divide os planos: “Meu planejamento online continua forte. Nesta sexta-feira, tenho o lançamento de uma participação minha com o Selva, que é uma dupla de DJs. Depois, tenho a continuação do Sinais Sessions, que tem o lançamento de uma música com o Vitor Kley e outra com o Thiaguinho. Podem esperar que vai ter bastante coisa até o meio do ano e tenho certeza que até antes disso a gente vai poder voltar a se encontrar, se abraçar e estar juntos”.

A convite do site, a psicóloga Luiza Martins fala sobre a importância de estar atento não só à saúde física, mas à emocional neste período. “Estamos em um momento de mais gatilhos para a ansiedade, depressão e compulsividade, por isso a necessidade de cuidarmos da saúde mental. Temos a tendência de não querermos sentir o que estamos sentindo, mas precisamos acolher esses sentimentos de medo, fragilidade, até para encontramos recursos para lidar com eles. Lembrem-se: o segredo não é tentar arrancar sentimentos de nós ou fingir que não estamos sentindo, porque não escolhemos o que sentimos”, alerta a psicóloga.

 

“Estamos em um momento de mais gatilhos para a ansiedade, depressão e compulsividade, por isso a necessidade de cuidarmos da saúde mental” (Reprodução)

A psicóloga recomenda caminhos para cuidar da saúde mental no momento:

Observar o excesso de informação: é quase inevitável nesse momento, mas precisamos entender e checar o que consumir de toda informação que nos invade, e ficarmos atentos ao que isso está nos causando. Quando a informação está servindo como recurso para termos cuidado com algo, para sabermos como proceder, ela está sendo funcional. Mas quando ela estiver alimentando ansiedade, angústia, tristeza, e causar paralisação, é importante dar limites a esse consumo.

– Solidão X abandono: precisamos saber o que cada palavra significa. Tenho visto em alguns atendimentos, o relato de pacientes que estão com a sensação de abandono, que parecem não ter com quem contar caso precisem de auxílio. Quando afirmamos que estamos nos sentindo abandonados, ficamos com a sensação de estarmos sem recurso algum, e também, que só o outro pode dar o que necessitamos. Mas quando entramos em contato com a nossa solidão, que nesse momento é algo que se impõe em vários momentos, conseguimos encontrar recursos para lidar com ela. Use a solidão momentânea para momentos de reflexão pessoal. E tenha em mente, que um dos recursos superimportantes para esse período, é poder se conectar com amigos e família por meios online. Outro recurso para lidar com a solidão sentida na reclusão, pode ser a conexão afetiva: acessar fotos e registros antigos, falar com pessoas que há muito tempo não falava, e fazer coisas que há muito tempo não você não fazia, por exemplo.

Evite o pessimismo e o “pânico”: ao ficarmos pessimistas em relação a um determinado momento, dificultamos mentalmente a nossa capacidade de perceber novos cenários. E no atual, é importante que você lide com o que tem aqui e agora, e desenvolva a sua capacidade de se adaptar. Tenha em mente, que o que estamos vivendo mundialmente é momentâneo, que novos acontecimentos virão e que surgirão soluções para o que estamos passando. Isso ajuda a evitar a “paralisação emocional” que o estado de “pânico” propicia. Esse é o momento ideal para treinar sua mente a pensar diferente quando pensamentos destrutivos vierem. É fundamental se permitir receber pensamentos positivos a fim de aliviar as dores produzidas por esse cenário.

Atente para a importância de manter uma rotina: Se ocupe do que precisa e deseja fazer, dentro do possível. Essa é uma das dicas mais importantes. Manter a sua vida o mais “normal” possível, dentro de uma adaptação é o mais adequado para o bom funcionamento da saúde mental nesse momento. Utilize recursos como: acordar em uma hora aproximadamente parecida com a rotineira, faça exercícios físicos, mantenha terapia (se fizer), meditação, yoga, e qualquer outra forma de autocuidado que faça parte da sua vida rotineira é essencial. Além disso, adapte sua vida doméstica e sua rotina de trabalho na sua organização diária. Tente respeitar os momentos que você tinha na sua vida fora isolamento: horário de almoço, de começar a trabalhar, de terminar de trabalhar, por exemplo.

Encontre formas de prazer: mantenha as que já faziam parte da sua vida e são possíveis agora, e também se permita novas formas. Use a criatividade: ela pode vir da nossa infância, por exemplo, o que ainda nos traz como benefício acessar uma memória afetiva que pode ter se perdido pela nossa dificuldade de nos conectarmos no nosso dia a dia, pela falta de tempo. Essa criatividade também pode ser usada na rotina com crianças pequenas em casa.

– Conexão com a fé: buscar conforto e acolhimento emocional se conectando com a sua fonte de fé, se isso fizer parte da sua vida.

– Equilibrar o autocuidado e o cuidar das pessoas: é um momento em que, provavelmente, estaremos em convivência excessiva com os membros da família que moramos. Então, é muito importante poder equilibrar seu autocuidado com o resto das tarefas de organização da nova rotina em casa, em que muitas vezes é preciso cuidar de crianças, das rotinas domésticas, entre outras funções que não estavam habitualmente presentes na vida.