No dicionário, pluralidade é aquilo que é mais que o normal, é amplo, múltiplo e geral. No ramo do entretenimento, esta é a tradução da festa Bailinho. Ontem, a Arena Banco Original se transformou em um palco de cores, luzes, irreverência, arte e diversidade. Comandada por Rodrigo Penna, a festa Bailinho iniciou as comemorações de dez anos de história com mais uma edição que justificou o motivo do sucesso do evento. Para o público que lotou o Armazém 3 do Boulevard Olímpico, a festa é a certeza de uma experiência única. Para Rodrigo Penna, é apenas mais uma realização pessoal-coletiva. “Eu acho que tem muita paixão. Eu sei que, na verdade, é só uma festa. Mas, para nós que fazemos, é um espetáculo, uma experiência, um acontecimento, um circo, uma peça de teatro, uma performance, uma obra de arte. Eu acho que essa história, sem pretensão, nos faz estar sempre se renovando e ousando”, explicou.
E quando Rodrigo Penna diz que o Bailinho é um espetáculo e um acontecimento, de fato, não é exagero. Nós do site HT, que estamos acompanhando toda a programação da Arena Banco Original in loco, ficamos maravilhados com a cenografia do evento. Com uma decoração rica que tinha de murais nos banheiros a altar para Iemanjá, passando por pontos de esculturas no meio do armazém e tenda para cartomante no Calçadão Original, o evento reafirmou o seu caráter plural e justificou, mais uma vez, a razão de se destacar no mercado do entretenimento há dez anos. “Eu acho que o Bailinho é “ão”, mas a essência dele é “inha”. E isso é fundamental. Aqui dentro, nós temos pessoas que trabalham com cinema, artes plásticas, teatro, DJs, profissionais da noite, grafiteiros… Tem de tudo. O Bailinho é, na verdade, um grande evento colaborativo. E é isso que dá o frescor dele”, analisou Rodrigo Penna.
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Se na decoração do ambiente o Bailinho já é um espetáculo, no repertório de Rodrigo Penna é um acerto indiscutível. Ontem, para completar, ele ainda recebeu o ator Lúcio Mauro Filho como companheiro de carrapetas na noite de festa. Em um setlist que vai de Frank Sinatra aos hits do momento, sem esquecer de clássicos de Cássia Eller e Chitãozinho e Xororó, o DJ idealizador consegue ser unânime. Sobre a escolha musical que anima as edições do Bailinho, Rodrigo contou que nada é 100% definido. “É totalmente intuitivo, cada baile é um baile. É difícil explicar o repertório, porque eu não tenho um conceito. É claro que existem músicas que eu quero trazer e outras que eu tiro porque já foram a época. Mas não posso deixar de tocar os velhos hits que o público gosta. Por isso, eu acho que tenho que ser ousado, carinhoso e, principalmente, tocar para as mulheres. Afinal, o mundo é delas e o Bailinho é para elas”, disse Rodrigo Penna que foi além: “O Bailinho é uma grande colcha de retalhos. Eu sei que não tem como agradar de gregos a troianos. Mas, pelo menos, eu tento fazer um carinho em todos”.
No entanto, apesar de antenado aos novos hits, Rodrigo Penna destacou que não é todo sucesso que entra para o repertório da festa. O funk “Deu Onda”, por exemplo, que hoje ultrapassa os 90 milhões de acessos no YouTube e é febre nas redes sociais, não entra para o setlist do evento. “Tem um limite, nada contra. Eu entendo que é a nossa cultura popular de agora, mas não é a cara do evento. Baile de Favela, por exemplo, eu acho que é um sonzão. Mas eu não toco na festa, porque eu considero a letra machista. Só que também não há uma patrulha musical. É só questão de gosto mesmo. Eu toco aquilo com o que eu me identifico”, explicou.
Assim como o caráter machista de “Baile de Favela” foi destacado por Rodrigo Penna em sua justificativa musical, outros discursos sociais também foram ressaltados ontem no Bailinho. Na Arena Banco Original, frases, painéis e diversos outros questionamentos foram espalhados pelo galpão. Entre eles, por exemplo, estava um “Salve a UERJ”, Universidade Estadual do Rio de Janeiro que está abandonada pelo poder público. Como Rodrigo explicou ao HT, mais do que apenas um lugar para se divertir, o Bailinho também tem uma questão social entranhada em sua trajetória. Atento aos discursos contemporâneos, o DJ idealizador aproveita a oportunidade para propor novas reflexões ao seu público de forma disfarçada e sem ser abusiva ou perturbadora. “Tem um limite que, às vezes, a gente passa e, às vezes, não. Mas é importante. Eu sempre fui um cara que me posicionei na vida e, como artista, eu sinto a necessidade de dizer o que eu penso. E, para mim, o mundo está todo errado. Por isso eu tento mudar um pouco e devagarzinho. Eu sei que não vou conseguir resolver tudo com uma festa, mas quem sabe com uma frase?”, questionou.
Cenografia luxuosa, repertório variado, oportunidade para expandir os horizontes. De fato, o Bailinho não é só mais uma festa. Outra característica única da festa de Rodrigo Penna que completa a experiência fantástica que o acompanha nesses dez anos é o cuidado do DJ com o seu público. Entre uma música e outra, os convidados da festa são surpreendidos com balinhas, pirulitos, imãs personalizados, camisinhas, fósforos e outros brindes promovidos por Rodrigo Penna. Segundo ele, a cesta de mimos do Bailinho, que já faz parte da identidade do evento, é apenas mais uma maneira de completar a experiência especial de quem faz a festa acontecer. “Do mesmo jeito que o teatro, o cinema e a arte são para o público, o Bailinho também é. É obvio que diretores, patrocinadores e colaboradores são importantes e fundamentais. Mas nós fazemos esse espetáculo para alguém ver. Então, tudo isso são mimos, carinhos e afagos que damos ao nosso público. É um jeito de dividirmos o nosso coração com todo mundo e dizer ‘seja bem-vindo, a casa é sua’”, explicou.
E o público de Rodrigo Penna também merece destaque. Ao longo desses dez anos, o DJ coleciona uma lista extensa de celebs e personalidades que são fãs declaradas do evento. Uma delas, que estava ontem à noite na Arena Banco Original, é Luana Piovani. A atriz, que foi acompanhada do marido, Pedro Scooby, aproveitou a noite de espetáculo e euforia em um look super confortável. Afinal, como é característica do Bailinho, esta é uma oportunidade para se acabar na pista, em português bom e claro. Ao HT, Luana elencou as razões que a fazem acompanhar o evento de Rodrigo Penna por tantos anos. “Tem vários motivos pelos quais eu sou apaixonada pelo Bailinho. Primeiro, pela pesquisa musical do Rodrigo. Depois, pela lista de convidados, que é mais que especial. E, em terceiro lugar, pela genialidade teatral do ambiente”, disse Luana Piovani que não escondeu a admiração pela cenografia espetacular da festa. “Para mim, que venho do teatro, é como me sentir em casa”, completou. A super lista de Rodrigo Penna ainda contou com nomes como Baby do Brasil e Sheron Menezes.
Com tantos fatores que fazem do Bailinho um evento de sucesso há dez anos, engana-se quem pensa que Rodrigo Penna não tem desafios e obstáculos nesta longa caminhada. Em tempos de crises gerais e economia desestabilizada, o DJ analisou e afirmou que não vivemos momentos muito calmos. Inclusive, o panorama de transformações caótico, segundo Rodrigo Penna, ainda é extensivo às mudanças na sociedade. “Eu acho que o público e as expectativas mudaram. As pessoas estão cada vez mais à flor da pele e há níveis de intolerância, sexismo e separação muito fortes. Eu confesso que não vejo com bons olhos e que nem sou otimista. Mas é importante que a gente tente recuperar o lado hedonista do carioca e é isso o que eu estou fazendo aqui”, justificou.
Com uma trajetória tão rica e cheia de histórias para contar, as comemorações de dez anos da festa Bailinho não poderiam se restringir a apenas uma noite. Por isso, Rodrigo Penna volta a Arena Banco Original na próxima sexta-feira, 20, e no último dia de festival, dia 5 de fevereiro, para agitar ainda mais o Armazém 3.
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