David Brazil em papo exclusivo com o site HT! Em sua cama, o promoter e amigo das celebs conta da infância no Nordeste, relação com a gagueira, religião e liberdade sexual hoje e no passado: “Minha mãe nunca me julgou”


No total, três matérias irão contar sobre a história de um nordestino que sempre acreditou em um sonho e na vontade de dar uma vida melhor à família. No Rio de Janeiro, nem a fama e nem o dinheiro foram suficientes para que o promoter esquecesse de seu passado ao lado dos quatro irmãos em Campina Grande, no interior da Paraíba. “Nunca me deslumbrei”

A-mor, se segura! Sexta-feira, quilômetros de engarrafamento, temperatura de 17º, praia da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Atrás de uma porta sem brilhos – só com um detalhe contra olho gordo –, ele nos esperava deitado na cama e debaixo das cobertas. Mais à vontade impossível, foi assim que conversamos com David Brazil. Comunicador, guerreiro e cheio de alegria, o badalado gaguinho contou da sua história desde o interior da Paraíba, lá em Campina Grande, até o estrelato. Hoje, David Brazil é amigo pessoal de celebridades das artes e do esporte, radialista, colunista e influenciador com mais de três milhões de seguidores.

Mas, entre o sonho de Francisco Santos e a realização de David Brazil, a história tem alguns empregos, aventuras na cidade grande e muito brilho. Afinal, ninguém se torna porta-voz da irreverência da noite para o dia. Portanto, aperta o cinto que lá vem história boa. E, como David Brazil não é uma pessoa de falar pouco – nem a gente –, o site HT preparou um especial com esse personagem emblemático do mundo pop. No total, três matérias irão contar sobre a história de um nordestino que sempre acreditou em um sonho e na vontade de dar uma vida melhor à família. Ah, e que realizou isso tudo em uma cidade que, desde o primeiro encontro, cativou e conquistou aquele jovem de Campina Grande. Vem com a gente!

Em uma série especial, o site HT irá revelar as mil e uma histórias e facetas de David Brazil (Foto: Heloisa Tolipan)

A história da infância pobre no interior do Nordeste, infelizmente, pode ser comum a muitos brasileiros. O sonho com melhores condições também. Mas o caminho que esses compatriotas tomam na vida mudam o destino de cada um. No caso de David Brazil, os passos nunca foram fáceis e muito menos sem graça. Desde a infância, ele já tinha a irreverência, a alegria de viver e o jeito “doidinho” que sua mãe chamava como elementos de sua personalidade. E nada disso mudou. “Eu continuo brincalhão, sem noção, sem filtro e muito amigo de quem eu gosto. Para mim, eu me vejo igual àquele menino de Campina Grande. Sempre fui gaiato, mas muito responsável com tudo”, contou.

Nem mesmo a cidade grande e o glamour que cerca este ambiente de artistas foi capaz de minimizar a essência daquele sonhador, que soube aos 18 anos, quando chegou ao Rio de Janeiro pela primeira vez, que aqui era o seu lugar. “Eu nunca tirei o pé daquela minha realidade. Na minha vida, eu sei que hoje eu posso ter algumas coisas, mas, amanhã não ter mais. Vai que acontece alguma coisa? Por isso, eu levo minha vida sempre com os pés bem firmes ao chão. Nunca me deslumbrei com a fama ou dinheiro. Para mim tudo foi consequência e eu lido de forma natural. Até porque, eu já vi muita gente rica ficar pobre e famosos virarem anônimos. Então, eu conheço essas possibilidades e busco sempre ser realista e não pirar. Estou preparado para o que der e vier”, disse David que acredita este ser um dos segredos de sua caminhada gloriosa. “Eu trato bem todo mundo, desde o cara que mora em uma super cobertura na Vieira Souto à moça que faz minha unha na Rocinha. Para todos, eu sou o mesmo David. Assim como eu entro na casa do Neymar em Barcelona – agora em Paris –, eu também saio invadindo um barraco lá em Madureira”, completou.

O jeito brincalhão, como vimos, vem desde a infância. Com mais quatro irmãos, sendo dois homens e duas mulheres, David Brazil, de fato, nunca foi igual aos meninos de Campina Grande. “Eu sempre fui muito brincalhão e extrovertido. Um verdadeiro capetinha. Quando eu era menor, queria ser cantor evangélico e me apresentar na Assembleia de Deus. Mas eu sempre fui uma pessoa dada e sem vergonha”, brincou ele que, apesar do humor habitual, também garantiu saber falar sério. “Eu sei quando e onde eu preciso ser comportado. Vou me encaixando em cada ambiente. Quando eu estou na igreja, fico caladinho. Porém, quando eu vou no terreiro do Pai Celinho em Caxias para comer, já chego gritando e brincando com todo mundo”, explicou.

Por falar nisso, a religião também é outro personagem bastante ativo desta caminhada de David Brazil. Filho de uma mulher extremamente religiosa, ele tinha o microfone dos cultos evangélico como uma de suas ambições artísticas. “Eu sempre fui de Deus e acredito que tudo é por causa Dele. Desde a minha infância, eu fui criado pela minha mãe a não sofrer quando ela morresse porque era Deus que estava levando ela. Tudo tem uma hora certa”, disse David que, apesar de sua crença, afirmou conversar de vez em quando com Deus. “Quando eu viajo e o avião começa a tremer, eu fico perguntando se já está na hora de Ele me levar. Poxa, eu tão novinho ainda”, brincou.

Foto de dona Maria Cícero, mãe de David Brazil, em seu apartamento no Rio (Foto: Heloisa Tolipan)

E nem mesmo a gagueira atrapalhou os projetos de David Brazil se tornar um cantor evangélico. Amante das artes e da exibição, ele contou que música não é um problema para os gagos. “A gente já sabe a letra e o que vamos ter que falar. Não precisa ser espontâneo como em uma conversa, por exemplo”, explicou David que tem o distúrbio de comunicação desde a infância. “Eu sempre fui ansioso demais. Desde muito novinho, minha mãe dizia que eu queria falar dez palavras ao mesmo tempo. E aí a comunicação embolava de uma maneira que ninguém entendia nada. Pela ansiedade, a minha respiração e dicção sempre foram mais aceleradas do que eu realmente conseguia controlar. E, para piorar, quando eu era criança o meu melhor amigo era um gaguinho. Pronto, piorou tudo”, lembrou aos risos David que garantiu não se importar mais com a gagueira. “Eu sou muito da zoeira e não ligo quando empaco em uma palavra”, afirmou.

Assim como o distúrbio parece não ser um problema na vida de David Brazil, seu jeito nada convencional também nunca foi uma questão em sua família. Embora não falasse explicitamente que o filho é gay, a mãe do promoter e influenciador contemporâneo brincava com a personalidade divertida do nordestino. “Minha mãe sempre foi maravilhosa e nunca me julgou. Quando ela via minhas loucurinhas, me chamava de doidinho. Eu acho que, para a minha mãe não me chamar de viadinho, ela achou em doidinho uma tradução que não me ofendesse”, contou David que, mesmo assim, era cobrado por dona Maria Cícero para lhe dar netinhos cariocas. “Quando eu já estava morando no Rio de Janeiro, ela sempre me perguntava dos netos dela. Minha mãe ficava falando que queria que eu tivesse filhos com uma carioca. E, com o nosso bom-humor, eu dizia que ela tinha que ver o negão que eu estava pegando”, disse.

Nem em casa e nem na rua. De acordo com David Brazil, o preconceito nunca fez parte de sua vida pessoal e profissional. Embora a gente saiba que os olhares homofóbicos existam em qualquer ambiente, o promoter acredita que seu bom-humor vence o julgamento. “Eu sou muito dado e costumo dizer que transformo o limão em limonada. Hoje, com a internet, eu recebo muitas mensagens de homens e mulheres que dizem que não gostam de viados, mas que eu sou muito sangue bom”, relatou David que, inclusive, lembrou de um caso em que ele foi exemplo para uma família. “Uma vez uma senhora veio me contar que só aceitou o filho gay por minha causa. Ela disse que via o meu carinho com a minha família e o meu caráter e que isso tinha lhe mostrado que o fato de eu gostar de homem ou de mulher não muda nada”, contou.

Mas, se para ele a orientação sexual nunca foi um problema, para muitos, esta é uma situação traumática e até violenta. Hoje, o Brasil é o país que mais mata LGBT’s no mundo e, de acordo com o The New York Times, um gay é morto a cada 25 horas em nosso país. No entanto, apesar dos números assustadores, David Brazil acredita em um progresso. Para ele, a sociedade moderna está cada vez mais consciente e agregando novos gêneros, gostos e estilos ao convívio coletivo. “Hoje é muito mais fácil e possível. Nós temos a Pabblo Vittar como exemplo, que é um grande sucesso. Ela é uma drag maravilhosa que, da noite para o dia, passou a dar voz ao grupo. Fora que ainda temos artistas como Anitta, Preta Gil e Ivete que dão carinho e abraçam o movimento gay. Ai pronto, fechou”, pontuou que acredita ser mais fácil – ou menos difícil – ser gay em 2017 em comparação a sua juventude.

E aí, pega tudo isso que a gente falou, acrescenta um pouco de purpurina e um excedente de alegria e expectativa e pé na estrada. Com sua fé, espírito doidinho e muitos sonhos na bagagem, David Brazil deixou a vida em Campina Grande, no interior da Paraíba, com destino ao Rio de Janeiro. A cidade maravilhosa, que já havia encantado o menino de 18 anos só pelas histórias, era o destino de uma longa estrada. “Peguei o ônibus e fique três dias sofrendo na estrada. Uma humilhação, mas tudo bem”, lembrou David Brazil. Mas isso a gente conta na quarta-feira, na segunda matéria deste nosso especial.