Da homofobia ao racismo, Sandra de Sá conversa com HT e dá o tom: “Cada um com seu cada qual e muito respeito para liberar geral”


Antes de cantar no Teatro Rival Petrobras, Sandra falou sobre homossexualidade, qualidade da música brasileira e o que faria se encontrasse Marco Feliciano: “Eu ia rir para ca!@#$ralho na cara dele”

Há uns meses rolou uma festa no alto do Morro da Conceição, no Rio de Janeiro. Em dado momento o DJ começou a tocar “Fricote”, de Luiz Caldas. Aquela do “nega do cabelo duro, que não gosta de pentear”. Eis que uma turma se sentiu ofendido com a música pelo, segundo eles, caráter racista dos versos e os ânimos começaram a ficar exaltados. “Fricote” não terminou de ser executada para que ninguém chegasse às vias de fato. Sabendo da hstória contada por HT, Sandra de Sá, conhecida por entoar “tem sangue crioulo, tem cabelo duro, sarará crioulo” de “Olhos Coloridos”, não se mostrou nem um pouco surpresa. Para ela, que tem 98,6% de origem africana detectadas por DNA, pior do que o preconceito em si, é o complexo.

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“É aquela história do: ‘Eu não vou ali, porque tem branco e eu sou preto’. A gente tem que se conscientizar como ser humano. Não estamos em época mais de falar de mulher, de falar de preto. A gente tem que se entender como ser humano para, aí sim, sair esbravejando. Nós só vamos acabar com o preconceito quando jogarmos no lixo o complexo”, opinou a cantora em entrevista exclusiva. Para ela, o problema também tem raízes no ensinamento que vem dos lares. “As pessoas são educadas para achar que o preto não é legal. Elas chamam cabelo crespo de cabelo ruim. Por que isso, cara?”, questionou se auto policiando: “Infelizmente, até eu já me peguei falando que a situação estava negra”.

Com a mesma tranquilidade que opina sobre esse tipo de polêmica, ela também fala da própria sexualidade em tempos de homofobia latente e da bancada evangélica no Congresso Nacional rompendo os princípios laicos do Estado. Em entrevista recente ao programa de Marília Gabriela, a cantora falou estar vivendo com uma mulher e que “não tem essa de escolha. É se perceber, é saber quem você é”. Para ela, a homo, hetero ou bissexualidade são como a inteligência, “como qualquer dom”. “Se eu tenho essa atração, essa percepção dentro de mim, qual o motivo de não vivê-la? Não é assim: ‘Ai, eu to cansada. Vou ali ser homossexual, tá?'”.

Por isso, HT quis saber: “É fácil, mesmo como uma artista, se assumir em meio a um mundo tão preconceituoso?”. Sandra recorreu a uma passagem de seu show. “Eu falo sempre assim: ‘Cada um com seu cada qual e muito respeito para liberar geral'”. “A hora que a gente tiver consciência do respeito com o próximo muita coisa vai mudar. Eu nunca tive tempo para me expressar sobre isso [homossexualidade], porque eu utilizo meu tempo para viver, para criar, para ser feliz”, contou sem neuras.

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Sandra considera que todos esses problemas “se englobam” e, por isso também respigam na música, por exemplo. Tudo resultado de uma “indústria anti cultural”. Seja o soul music, seja o funk carioca ou o sertanejo universitário, para ela, todos tem seu lugar ao sol. “Só falta as pessoas pararem de pensar em só ganhar dinheiro e passar a mostrar a cultura. O funk de favela é bom, sim, e o sertanejo é bom também. Que nem o forró é ótimo. Mas, como tudo na vida, existe o gosto e existe quem faz melhor. O momento é de respeitar a cultura brasileira”, opinou.

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E já que o assunto é música, Sandra está às vias de entregar um EP no mercado. Chamado de “Lado B”, ele compila músicas que ela gravou na época do LP e nem sempre foram tocadas. Porque, em tempos de produção maciça, sempre fica alguma coisa de lado, infelizmente. “Então eu resolvi ir aos poucos regravando. Quero mostrar para essa turma nova que o Brasil sempre foi moda”, avisou ela que chamou uma turma de amigos para gravar: Grupo Revelação, NxZero, Buchecha e Melanina Carioca.

Enquanto esse supra sumo não sai, os cariocas podem curtir “Sozinha”, “Bye Bye Tristeza”, “Soul de Verão” e muitos outros sucessos da cantora hoje, sexta-feira (07), no Teatro Rival Petrobras, na Cinelândia. Ela estará acompanhada da banda Mohaulle, que está lançando seu primeiro CD produzido pela própria. “Eu quero colocar na mesa pessoas que estão fazendo um monte de coisa boa”, contou ela, convocando os cariocas: “Tenho certeza que vai ser bom”.

Mesmo na correria de sempre, Sandra de Sá não encerrou a conversa sem participar das nossas rapidinhas. Se o Rio de Janeiro continua maravilhoso mesmo com tanta violência? “Continua. As pessoas do bem precisam ter noção que as do mal são muito pequenas”. E já que falamos de homofobia, o que faria se encontrasse com Marco Feliciano na praia? “Eu ia rir para ca!@#$ralho na cara dele”. O que a faz dar bye, bye para a tristeza? “Mentira e falta de caráter”. E se ela fica “Sozinha”, cantando “onde está você agora?”. “Sempre acompanha, de preferência”.

Serviço

Sandra de Sá no Teatro Rival Petrobras

Quando: Dia  07 de agosto  às 19h30

Onde: Rua Álvaro Alvim, 33/37 – Cinelândia – Tel.: 2240-4469

Capacidade: 458 lugares