*Por Brunna Condini
É durante o sono que o corpo restaura os níveis de energia para enfrentar mais um dia. Segundo especialistas, dormir ajuda a manter o corpo saudável e fortalece o sistema imunológico. Mas, em tempos de pandemia do covid-19, muita gente não tem conseguido dormir ou tem tido um sono bem agitado. O fato é, que com um sono de qualidade ou não, a pandemia tem sido cenário de sonhos diferentes e pesadelos estranhos, e a atividade de sonhar anda dando o que falar no período.
Mas qual é a relação dos sonhos com um momento como este? A psicanalista Stella Maria Nessimian Olintho esclarece alguns aspectos que podem influenciar nestas representações do inconsciente. “Na quarentena algumas pessoas ficam mais ansiosas e têm dificuldade para dormir. Outras, no entanto, dormem mais, e consequentemente sonham mais. Os sonhos são produzidos com os restos diurnos e temáticas do inconsciente. O isolamento estimula uma maior introspecção, um contato maior com nosso mundo interno, e isso pode estimular sonhos com conteúdos inconscientes mais intensos, que estarão relacionados ao que estamos vivendo agora, com a história de cada um”.
Na internet, os sonhos também viraram assunto, inclusive com direito a compartilhamento através da hashtag, #PademicDreams (sonhos da pandemia), com pessoas dividindo o estranhamento com a atividade no mundo onírico. Muita gente anda surpresa com seus sonhos, e percebendo que eles têm tido “enredos” rebuscados, inclusive, trazendo acontecimentos passados para o presente. Isso também pode ser reflexo do momento? “Essa pandemia é algo que nunca vivemos antes, então os sonhos, podem refletir a realidade, que está aflitiva. Acho que também tem a ver com essa maior introspecção que a quarentena promove. Pensamos mais em nossas vidas, em nossa história. Distúrbios no sono são comuns em épocas de tragédias coletivas, e também, os pesadelos podem ser mais frequentes por conta do bombardeio de informações sobre o covid-19, são notícias alarmantes o dia inteiro. Isso “ intoxica” as pessoas”, detalha a psicanalista.
Mariana Nunes diz que tem tido sonhos “malucos”. “Tenho sonhado mais que o comum, ou talvez, lembrado mais. Outro dia, sonhei com minha mãe, Maria Helena, na minha casa, me perguntando o nome dos cachorros da minha vizinha, e já sonhei com ela também vestindo um figurino para fazer uma live”, conta, aos risos. “Uma coisa muito engraçada que tem acontecido é que às vezes eu lembro de algumas coisas que não sei se foram sonho ou se aconteceram realmente ou se alguém me contou. Acho que nesses tempos os contornos da realidade estão meio borrados. As mudanças que estamos vivendo têm sido muito bruscas”.
A atriz fez uma aplaudida participação como Rita, em “Amor de Mãe”, que teve suas gravações interrompidas por conta da pandemia do novo coronavírus, e diz que apesar dos sonhos movimentados, tem dormindo bem. “E muito! Só não durmo mais, porque a Pecola, minha cachorra, não deixa (risos). Tenho uma relação com os sonhos de muita curiosidade e confusão, eles são tão reais, que as vezes parece que realmente vivi”. Sem contar os dias em quarentena, “perdi a noção do tempo”, Mariana fala do período: “No começo foi uma montanha russa de emoções. Agora estou aceitando melhor essa condição. Estou preocupada, tentando entender como vai ser o mundo depois de tudo isso. Tenho pensado também em como me adaptar à uma nova forma de contato com o público”, reflete.
A saudade tem guiado os sonhos de Lua Blanco. Tudo porque a atriz e seus cinco irmãos, que são muito unidos, estão distantes nesta época de isolamento necessário. “Tenho sonhado muito com eles, com a minha família, meus sobrinhos. E costumo lembrar muito dos meus sonhos, e quando não lembro dos detalhes, fica a sensação do sonho que permeia ao longo do dia inteiro. Mas tenho dormido um sono profundo. Pela tranquilidade da rotina em casa, tenho me permitido acordar tarde. Estou repondo sono pelos últimos anos, praticamente hibernando”.
Lua está no ar na série “Homens?” que estreou no Comedy Central, em março, e teve sua coletiva online. No projeto, criado e protagonizado por Fábio Porchat, ela vive Maria, uma mulher descolada que conhece Alexandre (Porchat) e vive uma relação com ele cheia de reviravoltas. Como em tudo na sua vida, a atriz acredita que o mundo onírico tem muito para lhe ensinar, principalmente nesta fase. “Eu reflito nos sonhos, deixo permear essa sensação que eles deixam, e às vezes ajo motivada por eles. Por exemplo, se eu sonho com alguém e acordo sentindo a pessoa muito forte, mando mensagem na hora”, diz.
Se tudo que estamos vivendo fosse um pesadelo, gostaria de acordar e ver que realidade? “Queria despertar com uma tomada de consciência de todos nós, do que é preciso para termos um mundo melhor, do que precisa ser transformado nele, como a desigualdade social, saúde e educação pública e a valorização das universidades públicas e pesquisa, e o cuidado com o meio ambiente”, sonha Lua.
Sono e saúde
Estudos apontam que a privação do sono aumenta o risco de doenças como diabetes, hipertensão, entre outras. Em um momento que, mais do que nunca, precisamos cuidar da imunidade e manter a saúde equilibrada, procurar cercar-se de hábitos que possam proporcionar um relaxamento maior antes de dormir, como evitar assistir noticiários ou conteúdo com violência, não consumir cafeína depois das 17h, criar um ambiente relaxante no quarto, e aprender técnicas de respiração, ioga ou meditação, entre outras que podem ser experimentadas para proporcionar bem-estar.
Para Isadora Ribeiro, ter uma rotina “exemplar de sono” é imprescindível, mesmo na quarentena. “Quem não dorme, sofre. As coisas não dão certo para quem não dorme. Então, tenho todo um ritual diário para isso: faço aero hit e just dance, para suar, liberar endorfina e cansar fisicamente”, divide. “Também faço orações, o que me conecta com Deus. Começo agradecendo por tudo, depois peço perdão pelos erros e peço bênçãos. É prazerosa a sensação de estar em comunhão com Deus, me sinto profundamente relaxada. Paralelo a isso, durmo cedo e acordo cedo”.
A atriz de 54 anos comenta sobre sua relação com os sonhos. “Acho que tenho sonhado a mesma quantidade, mas as vezes tenho pesadelos e sonhos estranhos. Por exemplo, já sonhei que perdi minha filha na multidão, ou que estava caindo em um poço profundo. São sensações terríveis”, recorda Isadora, que também faz questão de compartilhar os sonhos agradáveis: “Mas tem aqueles com o paraíso, quando revejo entes queridos que já se foram, como meus pais e meu irmão, e isso é reconfortante. E sonho muito também que estou voando, esse sonho é o que mais se repete, na verdade há anos, e parece sempre ser muito real. As vezes quando começo a voar, tenho que desviar dos fios de eletricidade nas ruas. E quando acordo, após esse sonho, muitas vezes tenho a sensação que se eu der um impulso vou continuar o voo solo. É muito real mesmo”, detalha.
Isadora tem se reinventado durante a pandemia, divulgando nas suas redes sociais, serviços de presença VIP online em eventos e celebrações. “Sou uma atriz versátil, tenho um amplo repertório, então estou utilizando ferramentas de entretenimento para me ajudar e também ajudar outros no isolamento”. E completa: “Queria muito que isso tudo que estamos vivendo fosse apenas um pesadelo, e que acordássemos vendo esse “fuck vírus” banido do planeta. E que ficando livre dele, também ficássemos do egoísmo e da maldade, gostaria que tivéssemos um planeta melhor, um Brasil melhor, mais digno. Queria acordar e ver todos os seres humanos praticando o exercício da bondade”.
Outra atriz que tem uma relação profunda com os sonhos é Shirley Cruz. “Sonho muito, e na verdade, acho que a maior parte dos meus sonhos são realidade em uma espécie de universo paralelo. Sinto que tenho encontros, revejo pessoas e por aí vai. Acordo muitas vezes exausta como se não tivesse dormido”. E como tem dormido? “Mal. Sobretudo nessa última semana tenho tido insônia, coisa que não faz parte do meu dia a dia. Mas quando durmo, minha relação com os sonhos é intensa. Acho mesmo que tenho uma vivência astral enquanto meu corpo está em repouso. Acho até que tenho o que se chama de mediunidade onírica, só acho. Na correria do dia a dia nunca tive tempo para me aprofundar no assunto. Mas diante das coisas que já li e ouvi tudo indica que sim e eu gosto dessa possibilidade”
Como tem sido o período de isolamento? “Estou em quarentena há quase dois meses. Comecei uma semana após o carnaval e tem sido intenso em emoções. No início estava assustada e negativa. Com o tempo fui equilibrando e retomando a positividade e a fé, que sempre foram características fortes em mim”. Shirley conta que também tem se reinventado: “Voltei a trabalhar com outra configuração, claro. Estou organizando meus projetos autorais, estudando propostas de trabalho que estão chegando, me matriculei em um curso de roteiro, estou escrevendo para teatro e dando continuidade ao meu programa de entrevistas, o Café Preta, que na onda das lives, já recebeu Armando Babaioff e Antônio Fagundes (colegas de Shirley em “Bom Sucesso”). Assisto muitos filmes e séries também, mas tem dias que não faço nada e pronto, sem culpa nenhuma, sem estresse”.
O estresse no ar em uma situação de pandemia pode afetar mesmo quem dormia muito bem antes. Michelle Batista , a Maria Antônia na novela “Amor Sem Igual”, na Record, admite que o sono na quarentena anda comprometido. “Tenho tido sonhos confusos e turbulentos, acho que é um reflexo desse momento mesmo. E não lembro deles com precisão, também sinto que quando sonho muito, acordo mais cansada, como se não tivesse descansado de verdade. Essa pandemia está mexendo com os meus horários e me deixando mais tensa, não tenho dormido tão bem como de costume”.
Há um mês e meio em recolhimento social, Michelle destaca que mesmo podendo ficar em casa, o que é um privilégio, existe sempre uma tensão no ar. “Acho que os sonhos refletem um pouco os nossos momentos, e o mundo está em um momento de medo, apreensivo. Meus sonhos também estão mais confusos e tensos. Estou tentando relaxar na medida do possível, mas acho que as noites tranquilas de sono só voltarão mesmo quando essa pandemia acabar”.
Para evitar que o acúmulo de tensão afete a qualidade do sono, e a vida em geral, a atriz e triatleta Amanda Lee, continua treinando na medida do possível durante a quarentena, mantendo a alimentação saudável e equilibrada. Tenho dormido relativamente bem, mantido minha rotina. Costumo deitar por volta das 22h. Leio um pouco e adormeço. Sempre lembrei dos sonhos, mas agora tenho lembrado menos. Mas as vezes acordo com uma ideia vinda dos sonhos e já corro para colocá-la no papel. Acho que a meditação, com a qualidade do sono, acabam mexendo com o meu inconsciente”, avalia. Amanda acredita que tem uma relação mágica com seus sonhos: “Principalmente quando sonho com pessoas muito próximas a mim que já não estão por aqui. Muitas vezes sou alertada por algo vindo delas. Eles sempre me dizem alguma coisa! Vêm sempre recheados de lembranças”.
A atriz, que tem feito lives semanais, às quartas-feiras e sábados, às 18h, com profissionais de universos diferentes, querendo aprender e compartilhar conhecimento, sonha em ter de volta sua liberdade de ir e vir. “Tem sido um período de muitas ressignificações, autoconhecimento, laços. Se pudesse acordar disso tudo, como em um sonho ou pesadelo, queria muito que não tivesse mais sofrimento com essa pandemia, que o sentimento de coletivo ficasse incutido no dia a dia das pessoas, e que o vírus fosse apenas mais uma série de ficção, assim como “The Rain“”, diz, fazendo menção à produção disponível na Netflix.
Nos também, Amanda. Mas vai passar.
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