*Por Brunna Condini
Há 60 dias a pandemia do novo Coronavírus mudou a vida de todos nós. E para algumas mulheres, as que passam ou passaram por uma gravidez recente, as mudanças estão sendo ainda mais intensas, porque gerar uma vida no meio de uma pandemia pode ser um processo bem mais sensível. Elas carregam um misto de alegria, expectativas e muitas inseguranças, mas também recebem uma injeção de força, esperança e motivação, mais do que bem-vindas nestes tempos.
Chegando em um mundo diferente
A apresentadora Titi Müller, espera com o marido, Tomás Bertoni, por Benjamin, o primeiro filho do casal. “Estou de 34 semanas, o que dá oito meses e meio. A previsão do parto é dia 25 de junho, mas pode chegar antes ou até um pouco depois”, conta.
Você chegou a mencionar que poderia fazer o parto em casa. Já sabe como será? “Quando foi decretada a pandemia, e entendemos que o sistema de saúde do mundo inteiro iria colapsar, fiquei bem preocupada porque nunca precisei tanto de hospital como agora. Não tinha como saber como iria ficar a situação das maternidades. A minha gravidez é de baixo risco, acho lindo e já assisti muitos vídeos de partos em casa. Então, pensei seriamente em fazer um parto domiciliar para não precisar sair de casa, por medo mesmo de ir para o hospital”, recorda Titi. “Mas depois, conversando com a minha médica e os profissionais que estão me assistindo, entendi que o medo não pode ser uma motivação para querer fazer um parto em casa. Até porque, a situação da maternidade que terei o Benjamin, aqui em São Paulo, está bem tranquila. De qualquer forma, eu ia ter que sair de casa para outras coisas depois, como fazer o teste do pezinho, então não faria muita diferença. Planejo um parto normal, humanizado, mas ele deve nascer no hospital mesmo”.
Com um barrigão lindo, a apresentadora divide aqui algumas das apreensões. “Te digo que tenho medo mesmo deste ambiente de hospital, de me contaminar e de contaminá-lo. E, logo depois, têm as questões do início do puerpério. Íamos contar com uma rede de apoio grande. Minha mãe ia vir do Rio Grande do Sul, minha sogra depois. E minhas irmãs também estariam o tempo todo aqui em casa. Ia ter também uma pessoa que iríamos contratar no início, uma enfermeira ou babá, para nos dar uma luz. Ou seja, teríamos todo um staff, e agora nada disso mais vai acontecer”, observa.
“Ainda estamos avaliando se a minha sogra vem, porque como ela é grupo de risco, a gente não quer vir para casa e correr o risco de contaminá-la. Então, nos primeiros 15 dias, seremos nós três mesmo nos virando com bebê, amamentação, comida, casa, tudo. Mas vamos dar conta porque não tem outro jeito. Tanta gente está dando conta e com a gente não vai ser diferente. E estamos entusiasmados, temos muito amor e muita vontade de que flua da melhor forma”.
Ela tem feito um diário para Benjamin, registrando descobertas, alegrias e até as maiores preocupações no caminho da sua gestação, e revela como tem sido sentir seu filho crescendo no mundo de hoje. “São sentimentos bem contraditórios, gerar uma vida no meio disso tudo. Porque ao mesmo tempo que dá muito medo, não sabemos o que vai acontecer, e a gravidez por si só, já é abrir mão do controle, mas passar por isso no meio de uma pandemia, eleva tudo a outro nível. Ao mesmo tempo que dá muito medo, dá muita força, porque é uma esperança, é um propósito, um foco. Preciso ficar bem para receber ele bem. Preciso acreditar que depois disso tudo, o mundo vai ser um mundo melhor. Que a gente vai passar por um período muito difícil mesmo, mas que depois vai ter uma transformação grande nas pessoas, de consciência, de empatia, da forma como nos relacionamos com as pessoas, como consumimos, com a gente vive a nossa vida mesmo”, reflete.
“Então, no início da vida dele, os primeiros dois anos provavelmente, a gente deve ficar mais na toca mesmo. Nós mesmos, só a família e visitando poucas pessoas, depois quando ele realmente precisar de mais convívio social, as coisas devem estar melhores, mais para frente. Espero que com 3, 4 anos, a gente consiga matricular ele em uma escolinha, para conviver com outras crianças. Acabou que o timing foi muito interessante, eu vou passar por um puerpério, por esse momento de recolhimento, quando o mundo todo está neste momento também. É bem simbólico isso tudo, é bem forte passar por isso dessa forma. E fico pensando, se eu soubesse que isso tudo aconteceria, será que eu teria engravidado? Acho que sim. Pode até ser considerado loucura querer estar grávida agora, mas eu estou muito grata por estar passando por isso, gerando uma vida”.
Outra que está prestes a conhecer seu primeiro filho, é a atriz Mayana Moura. Ela tem vivido dias intensos em mais de 60 dias de reclusão, e gerando Lestat, que tem a previsão de chegar ao mundo dia 21 de junho. “Mas acho que ele vem antes, pelo tamanho da minha barriga”, diz, orgulhosa. Tomando todos os cuidados com higienização e cumprindo as recomendações de isolamento social da Organização Mundial de Saúde (OMS), Mayana também tem receio de sair da proteção que se cerca na sua situação de confinamento e ter que ir para o hospital. “Eu estava muito preocupada mesmo com a questão da contaminação. Vou fazer cesariana e vai ser na clínica São José, que é um hospital que tem a parte de emergência e de partos. Mas apesar da minha preocupação, meu médico garantiu que é seguro, então vou fazer lá mesmo”.
A atriz aproveita para revelar uma curiosidade sobre o nome do pequeno, que ela e o marido, o francês Louis Harang, escolheram. “Andei procurando no Google, e o significado de Lestat é urgência. Mas escolhi por conta do livro “Entrevista com o vampiro”, da Anne Rice”, diz. “Assistimos o filme (de Neil Jordan, com Tom Cruise e Brad Pitt) juntos de novo e achamos o nome lindo, é francês, como meu marido. Tem tudo a ver. E, no filme, os personagens são Louis e Lestat, então aqui em casa também vai ser assim”. Mayana conta que a mãe mora nos Estados Unidos, e a sogra, em Paris, na França, e que por conta da recomendação de quarentena, só devem conhecer Lestat pessoalmente daqui há algum tempo. “Elas não podem viajar, vamos ter que esperar. Quando ele nascer vamos manter ainda mais os cuidados. E as pessoas não vão poder vê-lo por bastante tempo, eu imagino. Até inventarem uma cura, vacina para esse vírus”, divide.
A atriz que esteve no ar pela última vez em “Jesus” (2018), na Record, fala que pensa sobre como falará do período para Lestat no futuro. “Vou dizer que ele nasceu no meio de uma pandemia global. Em um momento delicado, em que é exigido o isolamento social, e que por isso, ele não teve um chá de bebê, por exemplo. Essa situação toda foi diferente, especial, em um sentido não tão bom. Mas foi assim. Não sei mesmo como vou explicar tudo para ele no futuro, mas vou encontrar um meio. Gostaria muito que renascesse um mundo mais justo para ele, para todos, mais preocupado com a questão do aquecimento global, da sustentabilidade, e da distribuição de renda”.
O mundo melhor porque você chegou
A conexão direta com a vida, aquela que começa a se manifestar no ventre, e deixa a mulher com as emoções à flor da pele. É isso que Sthefany Brito tem experimentado. A atriz, que revelou no último Dia das Mães sua gravidez, tem vivido um misto de êxtase e medo. “Nunca escondi que o maior desejo da minha vida era ter um filho! Foi uma grande surpresa, porque foi uma gravidez zero programada! Tínhamos planos de ter um filho mais para frente”, conta a atriz, que é casada com Igor Raschkovsky, desde agosto de 2018. “Estar grávida em meio à esta pandemia é assustador e ao mesmo tempo transformador. Estou em casa de quarentena, então posso curtir tudo desse momento. No sentido de quando estou enjoada, poder me dar ao luxo de dormir à tarde ou passar o dia de pijama vendo série. Claro que queria encontrar todas minhas amigas e compartilhar cada momento, mas também estou tendo vários momentos lindos em casa com meu marido e meus cachorros. Então, estou procurando ficar com o lado bom de tudo isso, já que estou vivendo o momento mais mágico da minha vida”.
Como tem lidado com a ansiedade do momento? “Estou procurando me respeitar. Principalmente grávida, procuro respeitar o que meu corpo pede! Tem dias que não tenho um pingo de vontade de levantar da cama e passo o dia de pijama. Assim como têm dias que me maquio e ponho uma roupa toda arrumadinha. E está tudo certo. Vivendo um dia de cada vez! No começo me cobrei muito, tinha que ler livro, sempre tirar o pijama, me exercitar. Agora relaxei e faço realmente o que tenho vontade. O sono também está bem desregulado e no começo isso me angustiava, quando olhava o relógio e via que eram duas, três da manhã, me obrigada a fechar os olhos e tentar dormir. Agora, independente da hora vou dormir quando tenho sono e se no dia seguinte se acordar mais tarde, está tudo certo”.
A atriz fala também das mudanças. “O peso mudou (risos). A barriga já está dando sinais, o quadril já deu uma alargada e sinceramente estou amando! E por dentro, eu ando emotiva demais, choro por qualquer coisinha. Tudo me emociona e acho que estar vivendo isso em meio a uma pandemia me deixa mais sensível ainda”, constata.
Ainda sem saber o sexo do bebê, ela fala dos desejos que tem para seu filho. “Acho que ele ou ela já vem em uma geração com muito mais consciência em relação às mulheres, por exemplo, com o feminismo. Mais consciente do racismo, da homofobia. Eu desejo que ele ou ela tenha respeito por tudo e por todos. Desejo consciência para essa criança e para o mundo. Acho que depois do que estamos passando, nunca mais voltaremos a viver como antes. Acredito que será um novo momento para o planeta, e espero que seja de mais empatia e respeito pelo próximo e pela natureza”.
E quando a conexão com a nova vida já acontece do lado de fora, neste mundo incerto, estranho e em transformação que estamos vivendo? Puerpério, também chamado de resguardo ou quarentena, o nome dado para a fase pós-parto da mulher. Tempo natural de recolhimento, e muitas vezes de exaustão física e emocional. E nos dias de hoje, também um tempo de recolher-se dentro do recolhimento.
A cantora e compositora Anna Ratto tem passado por esse desafio e outros mais. Ela é mãe de Martin, de dois meses, e de Caio, que completa 4 anos no próximo mês. “Martin nasceu de 39 semanas e 2 dias. Queria muito que fosse parto normal, ele estava encaixadinho, entrei em trabalho de parto, estava tudo no caminho certo, mas tive praticamente zero dilatação (e esperamos um tempo razoável), e como tive uma cesárea prévia (porque o primeiro estava pélvico, sentado), não podíamos arriscar. Era perigoso para nós dois. Foi cesárea, novamente. Uma cesárea humanizada, como a primeira. Foi lindo. Com direito à música, luz baixa, sala quentinha e o acolhimento digno de uma equipe maravilhosa. O neném nasceu e veio direto para o meu peito. Foi na perinatal de Laranjeiras”, recorda Anna.
“Estamos isolados desde a maternidade. Ele nasceu exatamente na semana em que se começou a falar de quarentena. Tomei as providências de não receber visitas e todo o resto de super higienização. Cá estamos por todo esse tempo. Todos nós. Meu marido é psiquiatra e está conseguindo atender de casa. Só ele desce para pegar delivery e correspondências. Não saímos para nada. Eu nunca mais cheguei nem no elevador. Eu, puérpera, na bolha da bolha. Ao mesmo tempo, nunca estivemos tão disponíveis para os filhos, apesar de sempre muito presentes, ambos. Nosso vínculo familiar está intensíssimo. Todo mundo se ajuda, se acolhe. Claro que a gente se estressa, se desgasta, cansa, mas tem muito amor e “vida” na casa. Não vamos esquecer jamais dessa experiência”.
Ela lembra com gratidão de já estar em casa com os filhos no início da pandemia e da recomendação de quarentena. “Tinha muito receio da fragilidade dele, recém-nascido, sem vacina, imunidade. Muito assustador. Amamento em livre demanda, mais que nunca, para dar o máximo de proteção a ele. Com o tempo, e nos habituando a fazer o que se deve – lavamos compras como ninguém! – fui ficando mais tranquila e resignada. As crianças são vetores, mas as menos afetadas pelo vírus, pelo que vemos. O que alivia, um pouco. E estamos mesmo completamente isolados. Agora, eu estou de boa, de verdade. Vivendo um dia de cada vez. Sem projetar tanto para frente”, compartilha a artista. “A ocupação de um recém-nascido acaba ajudando nisso. Amamentação, troca de fralda, botar para dormir, ficar com o outro, aproveitar o tempo que sobra para resolver coisas, quando vejo, o dia acabou e lá vem outro. Não dá tempo de pirar muito. Tenho aprendido muito com o mais velho. Impressionante a facilidade de fazer do limão, uma limonada. Ele está felizão de ter pai e mãe em tempo integral. Cria mil coisas com brinquedos e objetos da casa. Quando a gente acha que não tem mais “repertório”, ele inventa outra coisa. Não parece entediado e nem estar sofrendo. Mais um alívio. Sentimos, sim, muita falta do ar livre, do sol na cara, dos programinhas, mas ele está bem, sabe? Acho que com filhos mais velhos, com ano letivo para dar conta online, mais “conscientes”, deve ser mais duro. Mas não tem receita. Fato é que por aqui, estamos resilientes. Benza”
Que significado tira de um nascimento no meio de uma situação como essa? “Meus filhos terão a oportunidade de crescer sob novos rumos. Quem sabe? É difícil prever exatamente quais são eles, mas as fichas estão caindo, ao menos, para as pessoas que tenho escolhido estar perto. Quero estar sempre atenta para que eles tenham fontes de informação seguras sobre as coisas, que tenham uma educação sadia, que eu possa estar sempre aberta e disponível para trocar e aprender com eles porque é para frente que se anda”.
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