O maiô do Miss Brasil agora é chinês. Como assim? Bom, o industrial Jan Van Kuyk, argentino descendente de europeus com quarenta anos de Brasil – e que deu continuidade à empresa familiar fundada em Petrópolis nos idos de 1937, a antiga Malharia Águia, hoje Águia Confecções –, cansou das agruras econômicas desse Brasil grande que o governo não se cansa de apregoar. Mesmo orgulhoso com o apoio dado ao Miss Brasil e ao Miss Universo por décadas a fio (fabricava o maiô das candidatas nos concursos) e de ter sido o precursor da exportação da moda praia nacional, ele decidiu fechar sua unidade fabril, demitindo quase todos os funcionários e passando a produzir seus biquínis na China, em Guangzhou. O motivo? Os altos custos de produção na terra do Zé Carioca. Portanto, a partir de agora, Carmen Miranda vai falar mandarim. “Os valores no país estão impraticáveis, assim como as cargas tributárias, o preço das matérias-primas e os encargos trabalhistas, que me fizeram rever todo o processo de fabricação e partir para faccionar no exterior”.
Além disso, Van Kuyk ressalta a sazonalidade da moda praia, pois é preciso pagar encargos o ano inteiro e manter a estrutura no longo período de entressafra, vendendo a coleção para valer por apenas alguns meses do ano. “Um horror”, afirma ele, que tem ótima rede de distribuição, com mais de 800 multimarcas no país, além de seis lojas próprias, e exportações para Espanha e Estados Unidos. “Durante muito tempo, produzi para marcas “quentes” como Vix, nos Estados Unidos, e Miss Biquíni, na Itália, mas a taxação sobre os produtos torna tudo impraticável por aqui e estamos perdendo mercado para confeccionistas da China e até da Romênia”, completa.
Segundo o empresário, os custos de fabricação vão cair até 75% e, no total, com distribuição e todas as providências necessárias, a nova estrutura vai gerar uma economia de cerca de 50%. Para isso, ele vai manter uma equipe de modelagem, pilotagem e desenvolvimento com cerca de apenas 10 pessoas, demitindo o restante. “Ano passado dispensei cerca de 100 profissionais, agora serão mais 100”, ressalta, dizendo que a qualidade dos produtos vai continuar premium, talvez até elevar. “A lycra de lá é ótima e com os novos preços, vou poder incrementar nos acabamentos mais ainda. Aqui eu era obrigado a fabricar o forro em helanca, agora ele vai poder ser confeccionado também em lycra. E os aviamentos, nem se fala: mais baratos e mais resistentes. Até o elástico tem maior durabilidade que o nacional”, reitera Jan, alegando que todo o label design também será produzido lá fora.
“Como meu produto é muito básico e muito comercial, já adiantei a produção de 20 mil peças em cores lisas e agora, durante o carnaval, já volto à China pra resolver as bandeiras de estampas”, finaliza Van Kuyk. Bom para o mercado e para os consumidores, péssimo para o Brasil da Era Lula.
A notícia cai como uma bomba na semana em que a Luminosidade, empresa com direção criativa de Paulo Borges e responsável pelas semanas de moda do Rio e São Paulo, declara, segundo o jornal O Globo, que as edições de inverno do Fashion Rio poderão ser abolidas no ano que vem em prol de um reforço da imagem do Rio como lançador de moda verão, com a inclusão de uma edição de alto verão entre julho e agosto, inclusive com presença de marcas estrangeiras nos desfiles. Tudo bem, Jan não desfila em semana de moda e seus esforços em comunicação de marca até são insípidos, mas… E se essa for uma tendência de mercado diante da falta de incentivos do governo? Moda verão brasileira produzida na China?!?
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