O turbilhão de emoções derivadas do nosso sistema político afeta todas as camadas da população. Os cidadãos estão conhecendo seus próprios líderes, verdadeiramente, depois dos escândalos de corrupção que trazem faces antes escondidas. Esta nova percepção da realidade está fazendo parte do cotidiano do ator Juca de Oliveira. “Só conheci uma sociedade onde praticamente todo o governo é absolutamente corrupto agora. Nunca houve uma situação na qual praticamente ninguém fosse verdadeiro. Havia uma oposição política correta àqueles que haviam tomado o poder. Hoje, parece que ambos exercem a corrupção”, lamentou.
Estes acontecimentos acabam refletindo na sociedade e servindo de inspiração para novos trabalhos no mundo das artes. A forma que Juca de Oliveira tem de expressar a sua indignação quanto aos recentes escândalos é escrever, criticamente, sobre isto. Além de ator, o artista também é um dramaturgo de sucesso. Ao mesmo tempo que estes casos são um prato cheio para uma história, apresentam uma dificuldade no enredo o qual o profissional está tendo dificuldades de se adaptar. “Como escritor, estou tentando resolver uma equação onde todos os personagens da minha peça são corruptos. Temos dificuldade de encontrar o lado bom. Estou estudando como fazer um espetáculo só de vilões, porque no teatro é preciso ter uma oposição, um protagonista e um antagonista. Se todos são malvados, quem irá se opor? Afinal, o conflito é fundamental. Quando é só um lado, fica chato”, contou.
Algumas peças escritas por Juca já viraram um livro chamado Juca de Oliveira – Coleção Melhor Teatro. A ideia era reunir os quatro grandes sucessos do autor como Meno Male!, de 1987, Qualquer Gato Vira-lata Tem a Vida Sexual Mais Sadia Que a Nossa, de 1990, Caixa Dois, de 1997, e Às Favas Com os Escrúpulos, de 2007. Apesar das montagens terem ganhado o coração do público, o dramaturgo garantiu que o precisou de uma ajudinha extra para escrever estes textos. “As musas do teatro me ajudaram a escrever estas peças e fazer delas um sucesso, elas não abandonam o ator. Às vezes, acredito que estas deusas criaram aqueles espetáculos por mim. Amo muito o teatro e sinto que são muito solidarias com quem o venera”, afirmou. O ator se refere às duas máscaras do teatro que representam a comédia e a tragédia.
Juca de Oliveira faz parte do elenco da novela das 9, O Outro Lado do Paraíso. Junto dele, estão em cena alguns atores com quem sempre contracenou ao longo de toda a sua vida como Nathalia Timberg, Lima Duarte e Fernanda Montenegro. “Este não é um reencontro porque estamos sempre juntos. Trabalhei com a Nathalia em uma das primeiras peças que fiz na minha vida e nos cruzamos sempre. O Lima Duarte é um amigo excepcional, já fizemos teatro juntos e estou feliz por retomarmos a experiência como atores juntos. Nós somos, na verdade, uma quadrilha, uma família que se quer, se solidariza e se ajuda muito”, garantiu o ator.
Este carinho mútuo se deve, principalmente, à quantidade de momentos que viveram juntos. O grupo de atores passou por alguns momentos obscuros do Brasil como a própria ditadura quando a classe artística precisou se manter unida para sobreviver. Segundo o ator, as dificuldades que sempre existiram na carreira fazem com que os grupos artísticos sejam muito ligados. “Como atores, inicialmente, nós fomos expulsos das igrejas, porque o teatro se fazia dentro delas. Acabamos nos encontrando nas encruzilhadas, em um patamar marginalizado como batedores de carteira, prostitutas e homossexuais. Este caráter de marginalidade ainda é atribuído a nossa classe, às vezes, mas nos interessa apenas a evolução da nossa sociedade e a ascensão do homem. O objetivo social é tornar as pessoas mais generosas e solidárias. Esta é a função comunicativa do ator que exercemos apaixonadamente”, comentou.
No enredo de O Outro Lado do Paraíso, Juca de Oliveira interpreta Natanael, um homem ambicioso que defende uma boa vida para a família de acordo com os seus ideais. Para isso, o personagem trama uma cilada para a nora se separar de seu filho, por não aceitar o casamento do mesmo com alguém que possui uma situação econômica inferior a sua. Apesar de estar atuando com Natanael, o ator garantiu ter uma percepção de vida completamente diferente de seu papel. “Cada um escolhe fazer o que quer. Não podemos ser condenados à convivência. Às vezes, por exemplo, as pessoas se casam, mas acabam se apaixonando por outra. Isto é normal. O ideal é que a outra compreenda e se separem, pois não há nenhum sentido continuar junto mesmo depois de saber que o outro não te ama. Não existe motivo para ter brigas”, informou.
A novela de Walcyr Carrasco prega a ideia da lei do retorno, ou seja, tudo o que fazemos possui consequências e volta para nós. “A lei do retorno é uma característica literária dos grandes autores de novela do passado que se tornou um modelo do ponto de vista do enredo das histórias. A Visita da Velha Senhora, por exemplo, possui uma trama parecida”, explicou. No entanto, este ponto de vista não fica restrito às tramas. Na vida real, muitas pessoas acreditam no karma que faz parte, principalmente, dos ensinamentos budistas. “Acho que aquilo que fizemos aqui, temos que pagar aqui, concordo absolutamente com isso. Acho que devemos ser afetivos, generosos e solidários sempre. Caso não sejamos assim seria ótimo que sofrêssemos as consequências”, afirmou Juca.
Apesar do ator não ter gravado no Tocantins, como parte do elenco, Juca de Oliveira está se dedicando à rotina puxada de gravações. Mesmo com a correria, ele não cogita se aposentar. “Acho que trabalho hoje muito mais do que quando tinha 20 anos. A idade e a maturidade ajudam o artista a melhorar o texto, porque vamos assistindo materiais que passam na sociedade e eles se somam à experiência melhor. Isto engrandece as criações e tornam a pessoa mais sensível às coisas”, informou.
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