Com mais de um 1 milhão seguidores, educadora Cíntia Chagas será musa no carnaval e opina se estamos ‘emburrecendo”


Professora de língua portuguesa que alcançou status de celebridade no Instagram, Cíntia estará no Camarote Nº 1 na Marquês de Sapucaí como musa, ao lado de nomes como Sabrina Sato e Alcione, e vibra com a estreia. Nesta entrevista, ela fala do fato de alcançar a fama popularizando o acesso à língua, comenta sobre o preconceito linguístico existente no país, e também sobre sua crítica ao uso do pronome neutro, e diz se estamos ficando menos inteligentes por aqui. “O brasileiro nunca leu tanto. Mas o problema é que ele nunca leu tantas bobagens”, abre sobre o tema

*Por Brunna Condini

O samba é democrático e o carnaval para todos, tanto que a educadora, escritora e palestrante Cíntia Chagas se prepara para estar ao lado de nomes como Sabrina Sato e Alcione, em um dos camarotes mais disputados, o Camarote Nº 1, na Marquês de Sapucaí. “Isso também mostra uma maior valorização dos profissionais da minha área. Quando se imaginou uma professora de português ocupando esse posto? Vejo uma valorização da educação, da língua portuguesa e da comunicação. Talvez se trate de uma demonstração de que o ‘apenas belo’ já não seja mais suficiente. Há de se ter algo a mais”, diz a mineira, que tem mais de um milhão de seguidores no Instagram e também se tornou influenciadora digital. E também comenta sobre sua ligação com o carnaval: “Ouvi samba durante boa parte da minha infância, pois a minha mãe é a mineira com a alma mais carioca que já vi. Tenho até um certo samba no pé, mas fiz algumas aulas para não fazer feio na Sapucaí”.

Formada em Letras pela UFMG, Cíntia vem popularizando o acesso à boas dicas da língua há cerca de três anos no Instagram, de forma bem-humorada, e opina sobre a afirmação de alguns especialistas de que a população vem ‘emburrecendo’ ou ficando menos inteligente nos últimos tempos. “O brasileiro nunca leu tanto. Mas o problema é que ele nunca leu tantas bobagens. Eu não usaria o verbo ‘emburreceu’. Diria que o brasileiro se perdeu no mar de inutilidades da internet, infelizmente”.

A educadora Cíntia Chagas se torna musa no carnaval carioca (Foto: Pedro Dimitrow)

A educadora Cíntia Chagas se torna musa no carnaval carioca (Foto: Pedro Dimitrow)

A professora alcançou status de celebridade trabalhando com o ensino da língua portuguesa. Isso em um país que vem sofrendo com a defasagem no sistema educacional ao longo do tempo, lança luz na importância do tema, acompanhando a comunicação em tempos virtuais.

Nunca imaginei que, como professora, pudesse alcançar esse patamar de fama. Não que o professor não mereça isso, mas porque, no Brasil, não lhe é dado o merecido valor. E eu cheguei a esse lugar hoje justamente por ser professora e por trabalhar com o ensino de língua portuguesa. Popularizar o acesso à ela, significa ensinar de forma objetiva, descomplicada e leve, utilizando o mínimo possível de nomenclaturas técnicas e o máximo possível de situações do dia a dia – Cíntia Chagas

"Nunca imaginei que, como professora, pudesse alcançar esse patamar de fama. Não que o professor não mereça isso, mas porque, no Brasil, não lhe é dado o merecido valor" (Foto: Pedro Dimitrow)

“Nunca imaginei que, como professora, pudesse alcançar esse patamar de fama. Não que o professor não mereça isso, mas porque, no Brasil, não lhe é dado o merecido valor” (Foto: Pedro Dimitrow)

Pronome neutro

Em entrevista recente, Cíntia criticou o uso do pronome neutro em eventos do governo federal. Segundo a especialista, o pronome ‘todos’ já abriga o gênero neutro. Os pronomes neutros representam inclusão, quando falamos de identidade. A utilização desses pronomes não deveria ser incorporada por todos, já que manifesta o respeito à diversidade existente no país, e a gramática não deveria acompanhar as mudanças de expressão na sociedade?

“Ao contrário do que muitos inocentemente pensam, os pronomes neutros mais excluem do que incluem. Cegos, surdos, disléxicos e indivíduos com deficiências mentais, ou seja, cidadãos pertencentes a grupos que enfrentam dificuldades severas no que diz respeito à comunicação, são preteridos em favor de um modo de falar que beneficia uma parcela ínfima da população (menos de 2%). Ainda que a língua seja viva, como muitos adoram dizer, ela não pode estar sujeita a mudanças artificiais e arbitrárias, como as oriundas da linguagem neutra. Há de se encontrar outra solução para a inclusão dos não binários”, opina.

"Um povo que não conhece sua língua, está suscetível não somente à perda de oportunidades, mas também a manipulações de diversos tipos" (Foto: Pedro Dimitrow)

“Um povo que não conhece sua língua, está suscetível não somente à perda de oportunidades, mas também a manipulações de diversos tipos” (Foto: Pedro Dimitrow)

Preconceito 

Ela também esclarece para que não se confunda falar ‘certo ou errado’ segundo a norma culta, com preconceito linguístico: “Isso está diretamente ligado à intenção. Ao debochar do modo como alguém fala, manifesto o meu preconceito. E isso é bem diferente de dizer que quem ensina o uso da norma culta, como eu faço, propaga o preconceito linguístico. Certo e errado existem na gramática normativa”.

Muitas vezes o preconceito linguístico se confunde com xenofobia, como vimos acontecer com a Juliette, por exemplo, em rede nacional no BBB21. “Não deveria haver razão para acreditarmos que o sotaque possa ser motivo de mérito ou de demérito. O sotaque simplesmente é. E ele nada tem a ver com erros de português. No que diz respeito ao combate desse preconceito, cabe a cada um a valorização das próprias origens”.

A língua como caminho

Na sua opinião, qual o motivo de muita gente dizer que não curte o estudo da Língua Portuguesa e acha chato? “Primeiramente, o fato de o português falado ser muito diferente do português escrito já causa arrepios na pré-adolescência, quando entramos em contato com normas linguísticas um pouco mais complexas. Outro fator agravante diz respeito ao perfil da maior parte dos professores de português, que tendem a ser mais sérios. Já percebeu que, majoritariamente, os professores divertidos são os de Física ou os de Química?”, indaga.

“Um povo que não conhece sua língua, está suscetível não somente à perda de oportunidades (34 % dos currículos são descartados antes mesmo da leitura completa devido a erros de português), mas também a manipulações de diversos tipos. Sem a norma culta, como seria possível interpretar textos mais complexos? Sem a norma culta, como seria possível desenvolver pensamentos mais elaborados? A norma culta é o único caminho”. E comenta sobre o cenário da educação no Brasil: “É preciso investimento na educação de base, pois o foco de investimentos públicos, ao longo das últimas décadas, sempre esteve voltado às universidades, por razões puramente políticas e ideológicas”.

A educadora Cíntia Chagas se torna musa no carnaval carioca

Decolando

Cíntia fala sobre os preparativos para o carnaval que promete ser inesquecível, e para o ano que já começa com novidades. “Para o carnaval, mantive a musculação, aumentei a dieta e tenho feito aulas particulares de samba. Essa preparação tem sido, antes de tudo, divertida. Estou adorando! E este ano, estou com três pilares: palestras, que já tenho marcadas até outubro; publicidades (as marcas têm percebido quão benéfico é associar o produto delas à educação); e cursos on-line de gramática para o dia a dia e de oratória. Também vou lançar o meu curso de marketing digital. Quero que as pessoas aprendam a ganhar dinheiro por meio do Instagram”, anuncia.