Com direito a melhor vista do Rio, Gil grava DVD, canta a bossa João Gilberto e encanta o público em Niterói


Com o Teatro Municipal de Niterói lotado, o baluarte da MPB emociana os presentes em material que será lançado em novembro. Agora resta segurar a vontade e esperar o registro chegar!

* Por Bruno Muratori

Gilberto Gil é puro encanto! Com seus 72 anos e mais de 50 álbuns lançados, o artista sempre é plural, mas, agora, mais do que nunca, são vários. Nesta noite de terça-feira (2/9), ele mostrou toda a sua multiplicidade no Teatro Municipal de Niterói, ao gravar a primeira metade do DVD “Gilbertos Samba”, do álbum lançado em março, sucesso total de público e crítica que já rodou o país. Esse novo registro deverá chegar às lojas em novembro pela Sony Music e a direção é de Andrucha Waddington. Parada séria, portanto, mais do que top!

Sobre o local, Gil é categórico: “Já estive no Teatro Municipal de Niterói, mas nunca havia me apresentado aqui. O lugar é mesmo bonito, uma inspiração a mais”. De fato, esta sala de espetáculos tem lugar cativo na história. Criado em 1827 onde antes funcionava uma pequena casa de shows, o espaço passou por uma série de investidas para fazê-lo bombar, até que o ator, diretor e empresário João Caetano adquire o teatro a título de concessão e o transforma no Teatro Santa Tereza.

Mais tarde, em agosto de 1884, o espaço é reinaugurado com a presença ilustre do imperador e da imperatriz, o que revela a importância do local para os fluminenses. Luxo total! Dessa forma, um teatro digno de monarca só podia mesmo abrigar a realeza musical de Gilberto Gil, com o músico irradiando no palco toda a magnitude. Um resultado que, afinal, arrebatou o público neste início de semana. “Gilbertos Samba” apresenta um repertório que flana por canções que fizeram sucesso na voz de João Gilberto, assinadas por gente graúda como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Caetano Veloso. Daí, naturalmente, o Gilbertos com “S” no final, um duplo sentido tanto com a versatilidade de Gil quanto com a alusão aos dois homônimos da MPB: o Gil e o João.

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

As canções escolhidas a dedo dialogam profundamente com a essência do criador da Bossa Nova, incluindo a inédita “Gilbertos”, composta especialmente pelo primeiro para o projeto. “Estou muito feliz de estar em Niterói nesse teatro lindo interpretando esse grande artista que é o João Gilberto, presença extraordinária na música popular brasileira. Ele é incrível com a sua capacidade de criação e invenção, influenciando significativamente e principalmente a minha geração”, disse Gil. E continuou: “Sabe, na minha geração, João foi o primeiro grande impacto! Marcou não só a mim, Chico, Caetano, Gal, Bethania, Elis, pessoas que fizeram da música suas vidas, mas determinando de maneira contundente todos os que até hoje fazem a MPB continuar acontecendo no Brasil”.

Gil é acompanhado por três músicos: Bem Gil (violão, guitarra, flauta, percussão e MPC), Domenico Lancellotti (bateria, percussão e MPC) – que se diz pura alegria por tocar em casa, o cara é niteroiense – e Mestrinho (sanfona, percussão e MPC). Teatro lotado, Gil sentado com seu olhos fechados como se estivesse imaginando um sarau com o próprio João Gilberto. O público, de tão atento aos acordes, até desconfia se alguém respirava, tamanho o silêncio. Nem sequer um piscar de olhos e concentração total no mestre.

Um grande prenúncio para o material que chegará ao mercado em breve, com a nítida impressão de que bastaria colocar as câmeras posicionadas que já se teria um excelente trabalho por si só, de tão natural que é Gilberto Gil. O show é tão delicioso e intimista, amplificado pela atmosfera do local secular e do falar malemolente do artista, que se tem até uma deliciosa sensação de déjà vu, de tão bom! Destaque absoluto também para Mestrinho e sua sanfona: o rapaz brinca de tocar e agrada em cheio a galera.

Outro momento hot do espetáculo é a participação de Moreno Veloso, filho de Caetano Veloso, que sobe ao palco com a benção do “Tio Gil”. Ele acompanha os músicos com um prato e uma faca, e o resultado é de botar plateia abaixo! No geral, o show se divide em duas partes, uma mais intimista com faixas como “Desde que o Samba é Samba”, “Doralice”, “Você e Eu”; e outra que dá espaço para experimentações, numa outra pegada, brincando com sons feitos por lixa de parede, algo muito semelhante a chocalhos e recursos de MPC. Cool! Nesse segmento rola de “Desafinado”, com o público cantando junto bem afinadinho, até “Um abraço ao João”, “Eu vim da Bahia” e, como não podia faltar, “O Pato” que, óbvio, cantou alegremente: Quém! Quém! Quém! Quém!” .

Gil e João juntos são, de fato, muito fortes, tudo tem uma presença cênica formidável. E a banda esbanja simpatia e leveza, em total sintonia com o músico.  Teatro de pé e, no bis, o baluarte da nossa música não podia mesmo deixar de dar aquele abraço a Realengo, a torcida do Flamengo, ao Chacrinha, a todo mundo da Portela, porque, afinal, com Gil o Rio de Janeiro sempre continua lindo, mesmo com a prata da politicada deixando a desejar…

 

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Fotos: Instagram Oficial Gilberto Gil