Cidade Partida, mas ainda Maravilhosa: no Rock In Rio, artistas celebram os 450 anos da capital fluminense e repercutem os arrastões


No Palco Sunset, turma animada com Gabriel O Pensador, Roberta Sá, Alcione, Buchecha, Fernanda Abreu, Léo Jaime, Davi Moraes, Maria Rita e Wilson Simoninha comemorou o aniversário da cidade e ainda falou com HT sobre a divisão social que tem tomado conta da mídia

Eis que os 450 anos do Rio de Janeiro e o aniversário de três décadas do Rock In Rio se realizam em 2015 e nada mais coerente do que celebrar essa dobradinha com muita música de qualidade. Para tal, o festival reuniu artistas como Gabriel O Pensador, Roberta Sá, Alcione, Buchecha, Fernanda Abreu, Léo Jaime, Davi Moraes, Maria Rita e Wilson Simoninha em uma homenagem emocionante que comemora o aniversário da cidade que, apesar de partida, nunca deixou de ser maravilhosa. E HT não poderia deixar de saber dessas lendas da música como avaliam o momento atual da capital fluminense e ainda o que acham necessário para que a polêmica dos arrastões pela orla da Zona Sul não termine como uma tragédia social.

“O Rio de Janeiro é uma cidade que já foi tão sacaneada, que merece muito uma homenagem hoje. Eu moro aqui há 48 anos e, desde que me entendo por gente, só vejo pessoas entrando aqui para sacanear o Rio. Agora, que nós conseguimos uma Copa do Mundo e as Olimpíadas, temos também o Rock In Rio, vamos festejar e cantar essa cidade, a mais linda do mundo!”, declarou Alcione, que no Palco Sunset cantou “O morro não tem vez” e “A voz do morro”. Sobre o atual momento social da capital fluminense e o debate ente quem apoia a polícia interditar ônibus e quem acha que isso não passa de preconceito, a lenda do samba opinou: “O direito de ir e vir ninguém pode cercear. É preciso uma organização, policiamento e não ter desordem. Mas impedir alguém de ir à praia é algo que não existe, ainda mais no Brasil! O que não pode é tirar a liberdade dos outros com arrastão – isso é problema da polícia, eles que precisam colocar ordem nisso”.

Alcione homenageia o Rio de Janeiro no Rock In Rio (Foto: AgNews)

Alcione homenageia o Rio de Janeiro no Rock In Rio (Foto: AgNews)

Claro, HT não poderia deixar de saber da diva como ela tem encarado a repercussão de “Juízo final” em “A Regra do Jogo” e o sucesso estrondoso que o #OSoool tem feito nas redes sociais. Entre gargalhadas, Marrom comenta: “Eu amo! Acompanho tudo e fico muito feliz, acho engraçado. Mas eu sempre fui fã dessa música, porque é uma composição linda de Nelson Cavaquinho. As pessoas pegaram esse verso de ‘O soool’ e ficou, mas também entenderam que se trata de uma música muito profética, que fala sobre o bem, algo que todos nós queremos”. Ah, e a gente não poderia sair do camarim sem comentar a túnica maravilhosa dela – by Laellyo Mesquita – com o rosto do Axl Rose, líder dos Guns’n’Roses estampado, de quem Marrom é fã. Aliás, parece que a recíproca é verdadeira, já que Axl mando um tweet direcionado a Alcione com o seguinte texto: “Adorei a foto! Fico muito honrado e muito feliz em te ver tão bem. Obrigado”.

Alcione no backstage do Rock In Rio (Foto: João Ker)

Alcione no backstage do Rock In Rio (Foto: João Ker)

Roberta Sá, que destilou suingue ao cantar músicas como “Ela é carioca” durante o show, não deixou de levantar a bola sobre o paradoxo de o Rio ser uma das cidades mais lindas e, ao mesmo tempo, uma das mais perigosas do mundo. “É uma cidade que dá muito para a gente, tem um povo muito querido, mas acho que precisamos nos concentrar para tirar a cidade dessa onda de medo pela qual ela passa. Estamos com medo hoje, de sair e ficar até mais tarde na rua”, disse. Sobre a divisão histórica entre Cidade Alta e Cidade Baixa, ou Morro e Asfalto, Roberta aponta: “Acho que a solução para o mundo todo é a educação. Eu sinto esse apartheid no Rio e acho que as pessoas precisam de acesso a tudo – transporte, saúde, atenção a todas as áreas da cidade… Isso deve ser um projeto para que começamos a respirar no futuro, mas também não acredito em uma solução imediata”.

Roberta Sá durante homenagem aos 450 anos do Rio no Rock In rio (Foto: AgNews)

Roberta Sá durante homenagem aos 450 anos do Rio no Rock In rio (Foto: AgNews)

Buchecha, que foi responsável por “Solteiro no Rio de Janeiro” na setlist, fazendo coro ao que o Cidade Negra havia cantando apenas alguns minutos antes, acredita que a onda dos arrastões acabou tomando proporções maiores do que devia graças às redes sociais e à proliferação dos virais. “Hoje, as pessoas fazem isso de não retratar toda a realidade e têm a tendência em fazer um alarde maior do que aquilo real. Eu acho que, sim, há uma diferença, mas acredito que ela esteja melhorando, porque basta olhar para esses links entre Zona Norte e Zona Sul e você vê que, como o próprio carioca diz, está tudo junto e misturado”.

Buchecha e Leo Jaime no backstage do Palco Sunset (Foto: João Ker)

Buchecha e Leo Jaime no backstage do Palco Sunset (Foto: João Ker)

Ali, no mesmo camarim, Léo Jaime não ficou de fora da conversa e, primeiro comentou sobre a homenagem à cidade. “O bacana é encerrar uma festa com a grandeza do Rock In Rio com uma homenagem à cidade que dá nome a esse evento e é levada por ele a tantos outros lugares do mundo. Isso aqui é tipicamente carioca: um festival que une todas as tribos”. Sobre a questão polêmica, ele aponta: “Há essa suposta polarização entre o direito de ir e vir e a questão da ordem. Mas a constituição prega que ambas devem existir e não uma contra a outra. O errado é achar que o jovem comete crime porque não teve educação e é pobre. Não! O pobre é trabalhador, em sua grande maioria. E dizer que todos são capazes de cometer crimes é uma ofensa. Essa bagunça apenas precisa ser coibida, porque a praia é um direito geral para que todos possam se divertir”.

No palco, o rock de Léo Jaime, o funk de Buchecha, o samba de Alcione, o suingue de Fernanda Abreu, e todos os ritmos que transformaram o Rio de Janeiro na capital cultural que ele permanece sendo, conviveram em harmonia e mostraram que há um objetivo maior tanto para a cidade quanto para o festival e a música: a união. Afinal, a individualidade e o preconceito não caem bem com o brasileiro, muito menos com o carioca.