Christiane Torloni e Oskar Metsavaht participam de debates do ‘Grito pelo planeta’ em prol da proteção da Amazônia


Grupo de pensadores, líderes indígenas, pesquisadores e artistas se reuniu na manhã dessa quinta-feira para falar sobre desafios climáticos, ambientais e culturais da floresta, os diretos dos povos indígenas e engajamento entre arte e ações ambientais

“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”, a frase é o líder pacifista Martin Luther King, mas pode muito bem ser atribuída ao grupo de pensadores, artistas, líderes indígenas e pesquisadores que se reuniram no Museu do Meio Ambiente nessa quinta-feira (19), com o objetivo de lançar um “Grito pelo planeta”. A ideia é alertar opinião pública e governantes sobre a importância da proteção da Floresta Amazônica – a maior do planeta e guardiã de uma biodiversidade fundamental para o equilíbrio ecológico do mundo inteiro.
A manhã de mesas de debate foi realizada graças a uma parceria entre o Espace Krajcberg e o Instituto-E e contou com nomes como Christiane Torloni, atriz que já esteve à frente de importantes projetos como o “Amazônia para sempre”, Oskar Metsavaht, diretor criativo da Osklen, fundador do Instituto-E e Embaixador da Boa Vontade da Unesco, Paula Saldanha, jornalista e fundadora do Instituto Paula Saldanha, os artistas Frans Krajcberg e Ernesto Neto, Rodrigo Medeiros, da conservação internacional, Benki Piyanko, líder Ashaninka, Ianacula Rodarte Kamayura, líder indígena Kamayura, Naira Tukano, líder indígena Tukano, Roberto Vamos, consultor de serviços de desenvolvimento sustentável para ONGs e empresas, Samyra Crespo, presidente do Instituto Jardim Botânico, Claude Mollard, presidente do Espace Krajcberg e Guillaume Pierre, do consulado francês no Rio.

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Nomes importantes nas artes, pesquisas e lideranças indígenas se reuniram para o evento (Foto: Hilnando Mendes)

O dia começou emocionante, com direito a projeção do curta-metragem “Krajcberg, o Grito da Natureza – Expedições”, de Paula Saldanha, em que ela entrevistou Frans Krajcberg para uma reportagem que ganhou o Prêmio Petrobrás de Jornalismo na categoria nacional Reportagem Cultural de Televisão. Em seguida, Samyra Crespo, Frans Krajcberg, Claude Mollard, Guillaume Pierre e Benki Piyanko se reuniram em uma mesa de abertura para explicar que o “Grito pelo planeta” é fundamental para a preservação da floresta e será apresentado na Conferência das Nações Unidas por um Acordo Mundial Sobre o Clima (COP-21) em Paris, nos dias 10 e 11 de dezembro. Na capital francesa, líderes Ashaninka se juntarão a Frans Krajcberg e mais centenas de representantes de povos indígenas de todo o mundo para serem porta-vozes dos povos da floresta. “Nós conhecemos a Amazônia da televisão, mas existe muito mais do que isso”, explicou Samyra.

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Samyra Crespo, presidente do Jardim Botânico, compôs a primeira mesa ao lado de Guillaume Pierre, Frans Krajcberg e Claude Mollard (Foto: Hilnando Mendes)

Na segunda mesa do dia, reuniram-se Rodrigo Medeiros, Roberto Vamos, Ianacula Rodarte Kamayura e Puwe Luis da Puyanawa, que, mediados por Christine Torloni, discutiram desafios climáticos, ambientais e culturais da proteção da Floresta Amazônica e dos diretos dos povos indígenas. A atriz, que participou da minissérie “Amazônia, de Galvez a Chico Mendes”, contou que esse trabalho foi essencial em sua vida. “Naquele momento fui apresentada a uma palavra que mudou tudo em mim: florestania. É um termo novo que já foi movimento político e hoje é quase um mantra para mim. Significa o direito dos povos da floresta de continuarem vivendo na floresta e da floresta, cuidar dela, protegê-la, para nós e de nós”, explicou ela.

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A atriz Christiane Torloni foi mediadora da segunda mesa, que contou com Rodrigo Medeiros, Roberto Vamos, Ianacula Rodarte Kamayura, Puwe Luis da Puyanawa (Foto: Hilnando Mendes)

O líder indígena Rodarte contou que a comissão já aprovou uma PEC para que Congresso Nacional retire da FUNAI a atribuição de demarcar territórios indígenas e que, caso o projeto passe na Câmara e seja votado no Senado, criará um problema enorme, já que o Congresso vê nessas terras foco de plantações, dinheiro e, assim, mais floresta é derrubada. “Nós não guardamos essas terras para nós. É do Brasil, do futuro, das novas gerações”, defendeu Rodarte.

Roberto Vamos foi além: “Está tudo conectado, a queima de petróleo, as mudanças climáticas e outros fatores que levarão às guerras, conflitos armados e mortes. Uma das causas da guerra na Síria foi a seca surreal, o gado, as plantações morreram e as pessoas que viviam disso migraram para as cidades, sobrecarregando estruturas”, disse ele, que acredita que a terceira guerra mundial já está acontecendo. “É da humanidade contra a natureza e é uma guerra suicida. A natureza vive muito bem sem nós, nós é que não vivemos sem ela”, ressaltou. Paula Saldanha completou: “O agronegócio é simples: os políticos, financiados pelas organizações internacionais querem transformar o Brasil em quintal do mundo. Nós não vamos deixar”, protestou.

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Frans Krajcberg mostra seu livro para o líder indígena Puwe Luís (Foto: Hilnando Mendes)

Christiane Torloni concordou e acrescentou: “Não dá mais para esperar, está morrendo gente. Agora vão começar a morrer de sede, de fome. Só porque está chegando a seca em São Paulo nós vamos ficar nervosos? E o resto? A maior parte da madeira da capital paulista é ilegal, não tem registro. É o momento de revisitar nossos hábitos e ver se não estamos consumindo muito. O que está matando o mundo é o ‘precisar ter’. Não temos nem planeta e nem país para essa fome de consumo”, destacou. Apesar dos problemas, ela ainda tem esperança: “Tem um movimento muito bonito acontecendo, que é das pessoas irem nos brechós, isso tem que existir, cada um fazendo algo. São as atitudes mínimas do dia a dia e essas dependem de nós”, disse.

A última mesa foi composta por Paula, Oskar, Frans Kracjberg e Ernesto Neto para discutir perspectivas internacionais de engajamento entre arte e ação ambiental. Oskar, que sempre realizou projetos artísticos, alguns, inclusive, transformados em moda nas coleções da Osklen, fez um mergulho profundo na tribo Ashaninka para realizar um trabalho da relação entre o homem e a natureza. “Eu fui convidado pelos Ashaninka para participar do ritual que eles tem uma vez por ano. ‘Ashaninka’ quer dizer povo das estrelas e esse ritual acontece no dia do ano que usam para se comunicar espiritualmente com o cosmos, para se conectar com a floresta e a espiritualidade do homem. Eu estive lá, experimentei o ritual deles, observei, tive uma experiência metafísica e sai interpretando. Quis compartilhar com as pessoas o que vivi, minha viagem espiritual comandada pelo xamã. Fiz uma exposição com projeção audiovisual que dava oportunidade para as pessoas entrarem no meu imaginário, depois verem as fotos com fragmentos da minha memória e, em seguida, a pintura, uma síntese de tudo isso. Fui convidado para levar essa exposição para Nova York e talvez eu vá para São Paulo também, no Museu da Arte e do Som”, adiantou Oskar ao site HT.

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A última mesa contou com os artistas Ernesto Neto, Oskar Metsavaht e Frans Krajcberg, mediados por Paula Saldana (Foto: Hilnando Mendes)

Oskar ainda fez questão de se declarar um otimista sobre a situação do mundo durante a mesa de debate. “O reconhecimento da questão da preservação ambiental é muito recente. A poluição e o aquecimento surgiram na era industrial, são 200 anos e ainda vivemos na inércia disso, mas a humanidade existe há milhares de anos e apenas há 70 entendemos a questão da sustentabilidade. Nós estamos tendo o prazer de viver a transição entre um mundo que estava morrendo para esse que vai viver. Acredito que nós somos a geração que vai salvar o planeta. Nós, a raça humana, temos a capacidade de fazer isso”, disse ele, que ainda fez questão de emendar que seu sobrenome, Metsavaht, significa, em estoniano e finlandês, “guardião da floresta”. “Aliás, a Estônia tem a maior área de florestas preservadas até hoje”, destacou. Oskar ressaltou ainda que a mesma relação de desrespeito do ser humano com a natureza acontece entre nós mesmos. “Nosso grito tem que ser político, artístico e acima de tudo ético. O homem é tocado emocionalmente e sensorialmente pela arte”, disse.

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Ernesto Neto e Oskar Metsavaht posam com Frans Krajcberg (Foto: Hilnando Mendes)

Frans Kracjberg foi quem encerrou a mesa e a tarde, com sua história de superação e a lição de que dias melhores sempre vêm.