*Com Lucas Rezende
A busca incessante por dar visibilidade a talentos da moda, movimentar a indústria têxtil e, sobretudo, deixar os sangues-novos prontos para o mercado, continuou no segundo dia da 37ª edição da Casa de Criadores, no Ginásio Esportivo do Pacaembu, em São Paulo.
E nada melhor que um começo com Raphael Debei (pelo Projeto LAB). Se, no ano passado, Raphael levou sua alfaitaria para beber da fonte dos garimpeiros da Serra Pelada, dessa vez ele foi além. Baixou em Cuba e trouxe para a passarela os ares do militarismo da ilha de Fidel. Inspirado também na famos banda Buena Vista Social Club – que por sinal influenciou o nome da coleção, “Dos Gardenas”, uma música do grupo -, o estilista aposta em peças bordadas e camisas com um quê de feito à mão. Tudo ligado à bela alfaitaria. O estilista traz uma cartela de cores que vai do pastel ao azul e laranja fortes. Seu verão é despojado, sem ares de peças feitas em cadeias automatizadas, rementendo à realidade de sua inspiração: Cuba. As bermudas, por exemplo, são cortadas manualmente, sem aquele reparo tradicional. Tudo livre, leve e solto.
Felipe Fanaia foi um dos que mais se aproximou às tendências mostradas pelos veteranos da São Paulo Fashion Week. O estilista mergulhou em influências da década de 70 para formar sua coleção – algo que grifes como Lilly Sarti e Juliana Jabour também fizeram. A influência setentinha de Fanaia foi reforçada por sua inspiração no longa-metragem “The Warriors”, sucesso à época, que mostrava uma gangue americana perseguida após acusação de assassinato. Aí foi só partir para o abraço. A catwalk ficou repleta de calças boca de sino, xadrez, jardineiras, suspensórios, franjas e jeans. As peças apareceram em figurinhas carimbadas da época, como os jogadores de baseball – na crista da onda – e os hippies. Uma viagem para um tempo em que a elegância era descompromissada, assim como no verão.
A terceira leva de modelos riscando a passarela ficou sob o comando de Fernando Cozendey. E que leva. Gays, drag queens e transgêneros tomaram a catwalk de assalto com looks que, indiscutivelmente, cumpriram o dever de casa de transmitir a mensagem de Fernando: transformar para evoluir. E não havia símbolo melhor do que a borboleta. Muitas delas foram vistas, seja no formado das roupas, que abriam “asas” nos braços em maiôs, ou em detalhes agregados. O que importava ali era a mensagem. Para tanto, Fernando Cozendey apresentou looks que remetiam à cirurgia plástica na primeira leva. O segundo, em alusão aos casulos, e por fim, a evolução propriamente dita da borboleta. Tudo ao som de Fabiano Moreira, como a gente já contou aqui. As imagens falam por si só.
Eis que a primeira mulher mostrou suas ideias nesta edição da Casa de Criadores. Fabia Bercsek continuou naquela sua pegada de apresentar looks sem estação definida, e chamou atenção por sua parceria com a grife Cravo e Canela para confecção de sneakers super estilosos. O hiato de Fabia na semana de moda foi quebrado pela manutenção na linha slow fashion, na qual ela nada na contramão das peças para as massas e defende looks atemporais, feitos à mão. E o resultado não poderia ter sido melhor. Transparência, couro + renda, babados, em uma cartela de cores que foi do preto ao salmão. Para usar sem calendário.
O segundo happening da temporada ficou por conta de Isaac Silva, que trouxe óleo de dendê para a Terra da Garoa. Com inspiração em “Bahia Tropical”, o estilista colocou até fitinha do Senhor do Bonfim para agregar valor aos seus looks, que foram da estampa de onça ao puro branco. Isaac aposta em um verão com babado nos vestidos, calças e saias (lápis) com cintura alta, e top cropped. A baianidade ficou por conta dos turbantes e o tropicalismo na leveza do movimento das saias e nas estampas florais.
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