Algumas das maiores personalidades do país se reuniram na noite dessa terça-feira (01/12) no Copacabana Palace para a 9ª edição do prêmio Cariocas do Ano, entregue pela revista Veja Rio a todos aqueles que mostraram uma relação de afeto com a capital do Rio. Claro que, tratando-se da urbe-maravilha, não é preciso ter nascido como um carioca da gema para amar a cidade e seus infinitos atrativos. Entre baianos, paulistas e gaúchos, HT foi saber dos homenageados qual a atitude digna de um carioca do ano e o que os habitantes da metrópole podem fazer para melhorar o ambiente a sua volta.
“Qualquer pessoa do ano precisa se conscientizar e ter noção da cidade, do estado e do país onde mora. Nesse momento bem atípico que é o de pré-Olimpíadas, onde tanta gente pode pegar dinheiro que não deveria pegar, eu espero que haja honestidade. E também gostaria que acontecesse o mesmo que aconteceu nas outras cidades que sediaram os jogos: que fique o legado das construções e as benfeitorias realizadas em cultura, lazer, saúde e educação”, disse Rodrigo Lombardi, eleito na categoria Ator.
O astro global ainda confidenciou ao Site HT que, em sua opinião, a esposa Betty Baumgarten havia feito muito mais do que o próprio para o bem social. “Eu simplesmente exerci o meu ofício. Ela teve a iniciativa de ir para Governador Valadares, em Minas Gerais, para ajudar a distribuir água para os municípios vizinhos”, comentou orgulhoso. No palco, ele voltou a citar o episódio, e ainda declarou: “Eu gostaria de pedir aqui, em frente aos presentes, que 2 ou 2,5% do PIB destinados à cultura é muito pouco. Ela é o nosso berço, faz com que sejamos quem somos. Meu único pedido é para que olhemos para a nossa cultura, cuidemos da nossa cultura e sejamos a nossa cultura”.
A noite foi marcada por discursos socialmente engajados e outros momentos divertidos, como aquele em que a apresentadora da cerimônia, Christiane Pelajo, foi confundida com Renata Ceribelli. Um dos pontos altos da premiação foi quando Fernanda Montenegro subiu ao palco para entregar o troféu da categoria Cinema para Regina Casé, sendo aplaudida de pé por quase um minuto pelos convidados. Em seu discurso, a apresentadora do “Esquenta” comentou que sempre foi criticada por acharem que ela era nordestina e fingia ser carioca, o que arrancou risos da plateia.
Alguns minutos antes, Regina e Fernanda comentaram com HT o que considerariam uma boa atitude de um carioca do ano. “Limpar a Baía de Guanabara! Esse é um sonho que eu tenho desde criança. E acho que precisa sair em escola de samba pelo menos uma vez também”, concluiu Casé. Fernanda Montenegro, sentada ao seu lado, comentou: “Eu lembro de ter visto a Lagoa Rodrigo de Freitas limpa, era um sonho! Mas isso foi há 80 anos. Naquela época, a Ilha do Governador e Paquetá também eram lindas de morrer”, contou a dama da dramaturgia brasileira. Para ela, resta um desejo para o futuro da cidade: “Queria ver um chefe de polícia que fizesse parar a morte de inocentes nessa cidade. Alguém tem que tomar uma atitude! É uma barbaridade o que aconteceu neste fim de semana, um insulto à humanidade”, desabafou, completando que se arrepia toda vez que lembra da notícia.
Marieta Severo, por sua vez, volta ao teatro em março, com nova temporada da peça “Incêndios” no Theatro NET Rio, e responde de prontidão: “Carioca precisa ter a mente muito aberta”. Sentado ao seu lado, acompanhado da esposa Flora Gil, Gilberto Gil completou: “Andar na praia. É preciso apreciar a vista”. HT não se segurou e perguntou para o baiano sobre as novas datas de “Dois amigos, meio século de música”, turnê mundial com Caetano Veloso que, após uma temporada de sucesso no Metropolitan, ganhará novas apresentações sob a lona do Circo Voador. “Resolvemos fazer shows lá porque o Caetano ama aquele lugar e eu também. Queríamos levar as músicas para uma galera mais jovem e descolada”, disse, com os olhos brilhando de animação.
Enquanto isso, Bela Gil, que recebeu o abraço orgulhoso do pai no palco da premiação, ao vencer na categoria Televisão, comentou com HT: “Todo bom cidadão tem seus deveres básicos, né? Mas acho que o Rio tem a praia como um dos grandes cartões-postais da cidade, e é muito feio deixar lixo na areia. Nem no nosso quintal fazemos um tipo de sujeira desse tamanho. É algo que me deixa muito indignada”. E o lugar preferido de Bela na cidade? “A Praia da Joatinga. É perto de casa e bem escondida, quase um oásis”, responde.
Para Grazi Massafera, vencedora na categoria Atriz, o desejo é simples e certeiro: “Acho que o mais importante é exercer a cidadania, em qualquer lugar que você more. Principalmente no Rio, que é uma cidade tão importante para o país e tem tantos atrativos bons para oferecer”, disse a musa, que tem no Jardim Botânico um dos seus lugares preferidos em toda a urbe-maravilha.
Por sinal, Grazi tem sido unanimidade durante a temporada de premiações, recebendo consecutivamente os Prêmios Extra, GQ e, agora, de Carioca do Ano pela Veja. Será que ela tinha noção de que a Larissa, de “Verdades Secretas”, teria um impacto tão grande no público? “Não tinha. Mesmo porque, quando começamos a leitura, tínhamos medo de que houvesse uma rejeição das pessoas pelo núcleo ser muito pesado. Acabou que isso chamou a atenção para a questão social do crack e da dependência química e foi um sucesso. Devo muito à equipe, que fez um produto incrível”, disse, mantendo a humildade e simpatia que a fazem ser tão querida pelo pessoal de casa e seus colegas de trabalho.
E, se pudesse defender alguma causa social na carreira de atriz com um próximo papel, o que escolheria? “Nossa, que difícil! São tantas! É como me perguntar o que eu gostaria de salvar, caso fosse uma super-heroína”, diz. Ela pausa, pensa mais um pouquinho, e responde: “Bem, no momento atual, acho que a minha escolha e a de todo mundo seria a dos problemas com a água”, responde séria.
Outra atriz que chamou a atenção durante a noite foi Malu Rodrigues, vencedora na categoria Teatro, graças à sua trajetória nos palcos. E isso porque ela só tem 22 anos! “É preciso ter mais compaixão pelo outro, só assim conseguiremos melhorar a cidade. Precisamos cuidar, para mantê-la da melhor forma possível”, disse a jovem, que também realiza um trabalho comunitário através do projeto Cantareiros, o qual leva atores de musicais para se apresentarem em orfanatos, creches, asilos etc.
Mas Fernanda Montenegro não foi a única ovacionada pelos convidados. Ao ser chamado ao palco por Diogo Nogueira, Paulinho da Viola, o homenageado na categoria Música, gerou uma comoção unânime e não teve quem deixasse de levantar para aplaudi-lo. Entre “causos” e anedotas, o mestre do samba comentou com HT o que acha necessário para um carioca do ano: “Sem querer cair no saudosismo, mas é preciso conhecer mais a cidade. Não digo os monumentos, que todos já viram. Mas sim caminhar pelo centro, observar as pessoas e aprender a cuidar mais da cidade”.
É claro que o Rio de Janeiro rende elogios, declarações e memórias inesquecíveis a qualquer ser humano que pise em seu perímetro. Mas, ao mesmo tempo, é impossível negar os problemas pelos quais a cidade passa, seja na violência discriminada, na infraestrutura, no acesso à educação ou em qualquer outra esfera social. E, aqui, ficamos com a reflexão de Marcelo Calero, secretário municipal de Cultura e um dos homenageados da noite: “Tentamos empoderar os jovens, ao mesmo tempo em que os tratamos mal. Precisamos pensar em qual cidade queremos construir para o nosso futuro”.
Cinema – Regina Casé
Atriz – Grazi Massafera
Ator – Rodrigo Lombardi
Televisão – Bela Gil
Teatro – Malu Rodrigues
Música – Paulinho da Viola
Arte – Toz
Negócios – Marcos Pereira
Esporte – André Brasil
Medicina – Fábio Barbirato
Cultura – Marcelo Calero
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