Alessandra Maestrini é um zero à esquerda na cozinha. Ou melhor: na arte de cozinhar, porque comer, ah…comer é “feito um glutão”, ela nos conta. Sua atual personagem na TV paga, a ex-publicitária Cecília também não se comporta muito bem em meio a panelas e condimentos. Quer dizer, até que o acaso mudou tudo. “Tempero Secreto” (às quartas, 23h30, no GNT), conta a história de Cecília, que resolveu usar de seus talentos marqueteiros para abrir um restaurante direcionado ao público foodie, cujo prato único é um frango ao molho de um tempero secreto, feito por sua avó, Maroca. Mas um acidente deixou a matriarca em coma e, no desespero, Cecília acabou inventando um molho à base de sachê de macarrão instantâneo. Surpreendentemente….o molho é um sucesso. E daí tudo desandou: Cecília e sua equipe estão tendo que sustentar a farsa do suposto “frango caseiro”, enquanto tentam descobrir a receita verdadeira. Em tempos de raio gourmetizador atingindo brigadeiro e até a santa água mineral, a trama é uma referência das boas para esse mundo gourmet metido à besta.
Alessandra discorda. “Eu não diria isto. Mas, para quem tem um olhar perante a vida que tem como base o humor, o enredo abriu portas para situações e observações muito engraçadas. Eu não cozinho nada e como feito um glutão. Nisto, Cecília e eu somos iguais. O que temos de diferente é que ela só come junkie food (comida rica em calorias e de baixa qualidade nutritiva). Eu cortei já faz tempo o glúten, leite e seus derivados, e açúcar refinado”, revela. Alimentação à parte, Alessandra e seus companheiros de elenco (Fabio Marcoff, Leandro Soares, Walderez de Barros, Arthur Kohl, Andre Bankoff, Paulo Chun e Natalia Lage) terminaram de gravar os episódios há cerca de três meses. Ou seja: o que tiver de ser será na recepção do público. “Acho artisticamente muito mais ético e, como resultado, muito mais rico para o público também. À César o que é de César”, opina.
Com produção da Primo Filmes, “Tempero Secreto” foi gravado toda no modus operandi de uma produtora independente, diferente dos estúdios da Rede Globo, como Alessandra estava acostumada (ela já fez, dentre tantos trabalhos, “Guerra dos Sexos”, “Toma Lá Dá Cá”, “Sexo e as Negas”, “Mister Brau” e por aí vai). “Sinceramente, não senti diferença alguma no resultado final, com relação à qualidade. Comparando com os produtos que já fiz, acho que a Primo merece imensos aplausos porque, realmente, fez com a estrutura de uma produtora independente o que se faria numa grande emissora. Mesmo resultado. Senão melhor, justamente pela liberdade que o artesanal permite também, sem tantas cobranças da grande indústria. Sem demagogia”, assegura ela que, em paralelo, ainda retomou com seu show teatral “Yentl Em Concerto” – que estreou no final de 2014 -,no Teatro Porto Seguro, em SP, todas às segundas-feiras, até 30 de maio – e ela volta para o mesmo teatro em agosto, onde fica até o começo de setembro.
O motivo do fim do hiato? “Porque saímos de cartaz ano passado com overbooking e ainda há uma imensa solicitação de público para assistir. Tanto em São Paulo quanto no Rio, e também em outras cidades. O público de ‘Yentl’ costuma voltar para assistir, muitas e muitas vezes, e existem pessoas que, literalmente, assistiram a todas as apresentações, e já avisaram que pretendem assistir a todas que puderem, sempre. Cada vez é um novo espetáculo, com novas descobertas. Além disto, os assuntos em pauta continuam extremamente vigentes: a importância do estudo e a liberdade que só o conhecimento nos traz, o direito à própria identidade, identidade de gênero, diferenças, semelhanças, direitos e tabus entre gêneros e seus ‘papeis’ na sociedade, a importância de vencer limites… É um espetáculo do qual se sai renovado após cada sessão – digo eu como artista, e me diz o publico, sempre à saída de cada uma”, explica.
O espetáculo, um mix de musical, concerto, teatro e stand up comedy, baseado na obra “Yentl – The Yeshiva Boy”, de Isaac Bashevis Singer – famoso com Barbra Streisand no filme homônimo, de 1983; é reflexo da educação de Maestrini. “Estudei em escola americana quando pequena. Lá se aprende a fazer musical desde o berço. Comecei a estudar dança antes de tudo. Em seguida teatro e, então, música. Fiz vários cursos de teatro e aulas particulares de canto no Rio, então ganhei uma bolsa para estudar teatro nos EUA. Já nos primeiros nove meses voltei ao Brasil com saudades. Imediatamente, estreei no teatro com ‘As Malvadas’, o primeiro musical da dupla Charles Möeller & Claudio Botelho – inédito, com um personagem criado especialmente para mim. Desde então não parei mais”, lembra. “Yentl Em Concerto”, bom lembrar, tem um gancho feminista. A protagonista precisa se travestir de homem para poder estudar as escrituras proibidas da época.
Por isso, HT quis saber de Alessandra: “Em um mundo onde a equiparação de gêneros é discutida com muita força, como você se posiciona?”. “Acredito que cada gênero tem as suas idiossincrasias, suas peculiaridades; genericamente falando. Ao mesmo tempo, acredito que o ser humano é criativo e que indivíduos são nesta criatividade do que ser, individuais. Acima de tudo, acredito que tudo que nos faz bem e não fere o outro é um direito e um dever de todos. Acredito que investir na própria felicidade é um direito e um dever de todo e cada indivíduo, pois viemos ao mundo com energias únicas. Só respeitando e cultivando suas potencialidades mais essenciais temos como honrar o plano do Criador”, filosofa.
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