Brunno Daltro, ator de Gênesis, teve depressão e escolheu o tema para produzir e atuar em curta: ‘Não é mimimi’


No Janeiro Branco, campanha que busca chamar a atenção para o tema da saúde mental na vida das pessoas, o ator fala com propriedade sobre o assunto, por ter enfrentado uma forte depressão. “Quero usar minha voz para ajudar a quem precisa e não consegue perceber que se trata de uma doença. Tive inabilidade em lidar com determinadas frustrações, certas emoções e percalços que a vida me apresentou. Mostro para o máximo de pessoas possíveis o quão sério é essa condição mental. Quero que se identifiquem e reflitam que há uma solução”, frisa, apontando a lei da atração. “Estava parado na pandemia, precisava me movimentar e um roteiro sobre depressão caiu nas minhas mãos”, enfatiza ele, que acaba de rodar o curta “Solução” e planeja divulgar em festivais

Brunno Daltro, ator de Gênesis, teve depressão e escolheu o tema para produzir e atuar em curta: 'Não é mimimi'

* Por Carlos Lima Costa

Combater o preconceito e destacar em que patamar se encontra a saúde emocional da população. Com esse foco foi criada no Brasil a campanha do Janeiro Branco. Os números mostram que realmente é preciso ficar atento. Há pouco mais de quatro anos, por exemplo, um relatório da Organização Mundial da Saúde mostrou que 322 milhões de pessoas no planeta viviam com depressão e que um terço delas tinha um distúrbio relacionado à ansiedade, sendo que no final de 2020, a mesma OMS apontou que no planeta, o nosso país é campeão no índice de pessoas com esse tipo de transtorno. Eram quase 19 milhões de brasileiros afetados. O ator Brunno Daltro, que interpretou Gade, na novela Gênesis, da Record, conhece bem o assunto, pois ele próprio teve essa vivência por fatores como pertencimento e aceitação. “Tem um pouco isso e também por inabilidade em lidar com determinadas frustrações, certas emoções, percalços que a vida me apresentou. É supernormal, acontece com todo mundo. E nesse Janeiro Branco, quero usar minha voz para ajudar a quem precisa e não consegue perceber que se trata de uma doença”, alerta ele, que, no final do ano passado, abordou o tema em Solução, primeiro curta-metragem realizado por sua produtora, a Quântica Audiovisual, e que pretende levar para vários festivais esse ano. 

O próprio Brunno interpreta Eugênio, personagem principal da trama, nas filmagens realizadas em Teresópolis. “Ele tem a questão de não se encaixar, sente que não pertence a nenhum lugar, um complexo de inferioridade e tenta provar o seu valor a total custo para as pessoas que estão ao redor. Nessa frustração, em um surto, ele corta os pulsos e aí o personagem do André Luís Miranda, que vai virar uma entidade, vai lá entender os motivos que o levaram a fazer aquilo. O diálogo provoca e instiga. Mostra a reflexão de que realmente a vida muda o tempo todo, não é engessada. E as pessoas precisam estar em harmonia com o fluxo do universo”, explica. E prossegue: “Ainda acham que é mimimi. E não, é algo sério! Enquanto ator, ter esse material riquíssimo para trabalhar, que me faz sair da zona de conforto, pesquisar, buscar em mim, fazer um trabalho dessa magnitude, é poderosíssimo. E enquanto executivo, porque sou o dono da produtora, poder contar uma história como essa, é maravilhoso também. Assim, mostro para o máximo de pessoas possíveis o quão sério é essa condição mental. Quero que se identifiquem e reflitam que há uma solução.”

Brunno Daltro filmou recentemente o curta-metragem Solução, que aborda o tema da depressão (Foto: Lúcio Luna)

Brunno Daltro filmou recentemente o curta-metragem Solução, que aborda o tema da depressão (Foto: Lúcio Luna)

Brunno deixa claro que não é a sua vida que está retratada ali. Foi uma espécie de feliz coincidência. A historia lhe foi apresentada por Álvaro Mamute. “Pegamos o roteiro que ele já tinha e junto com a minha sócia, Carla Britto, ex-diretora da Netflix, demos uma modificada”, explica o ator. Em parceria com ela, inclusive, tem projetos maiores visando o streaming. “Eu me identifico com o personagem, porque tive esse quadro depressivo na minha vida já tem tempo. Mas as modificações foram mais para trazer para atualidade. Nada tem a ver com minhas questões pessoais. Foi algo incrível, fantástico, extraordinário, porque não pedi um curta de alguém com depressão, foi literalmente atração. Estava parado na pandemia, precisava me movimentar, falei com o Álvaro e ele trouxe essa história”, comenta.

E aos que estão no meio do processo da depressão, ele aconselha: “Primeiro, se conheçam e se afastem de tudo que faz mal. Assim, você vai saber o que o leva a ter determinados comportamentos, quais seus maiores medos, dificuldades, inseguranças. A partir daí comecem a dar o primeiro passo. Não imaginem um caminho longo lá na frente. Tenham calma, respirem e pensem: ‘É só por hoje’. Entrem em contato com a espiritualidade, com o universo, a natureza, como você quiser chamar. É útil ter essa sensação e praticar”, observa.

"Acontece muito no quadro depressivo, viver a melancolia do passado, ficar ansiando o futuro e esquecer de viver o presente, ficar inerte. Essa inércia mata, é cruel", ressalta Brunno (Foto: Lúcio Luna)

“Acontece muito no quadro depressivo viver a melancolia do passado, ficar ansiando o futuro e esquecer de viver o presente. Essa inércia mata, é cruel”, ressalta Brunno (Foto: Lúcio Luna)

Ele deixa claro que não é um processo fácil. “Parei também de beber. Não era questão de quantidade ou frequência. Mas identifiquei que aquilo me prejudicava, então, me afastei. No processo de amadurecimento, autoconhecimento, de entrar em contato com a espiritualidade, comecei a meditar, fiz um movimento contrário aos meus impulsos primários, não agi em cima da raiva, de inveja, coisas ruins. Claro, sou humano, sinto tudo isso, mas não posso é agir em cima desses sentimentos, porque isso não vai fazer bem. E pró- atividade, ação contra a inércia. Isso também é algo que acontece muito no quadro depressivo: viver a melancolia do passado, ficar ansiando o futuro e esquecer de viver o presente. Essa inércia mata, é cruel. É isso, pró-atividade, ação, vida.” Brunno acrescenta, que não teria conseguido colocar em ação a sua produtora na época em que estava depressivo. “Tinha as boas intenções e ideias, mas não sabia dar o próximo passo. Travava e aquilo me dava pequenas frustrações, medo, ficava com raiva de mim e tudo isso foi crescendo”, lembra.

Os transtornos de Brunno aconteceram antes do envolvimento com a atriz e cantora Leticia Almeida, de quem se separou em setembro, e que é mãe de sua única filha, Maria Teresa, de um ano e oito meses. “Términos acontecem, acho que cumprimos nossa missão juntos e vida que segue. Temos uma filha e uma relação cordial pelo bem dela. A chegada dela me deu mais força para seguir nessa minha nova versão. Com certeza, veio coroar e afirmar esse meu momento. Minha filha é tudo pra mim. Muda completamente a percepção sobre tudo. Eu só entendi o amor dos meus pais, depois que eu a tive. Não tem como enxergar a vida como antes. E estou ótimo, graças a Deus, fazendo o que tem de ser feito todo dia, focado no meu trabalho”, assegura o ator.

"A chegada da minha filha me deu mais força para seguir nessa minha nova versão. Com certeza, veio coroar e afirmar esse meu momento", diz o ator sobre Maria Teresa (Foto: Eduardo de Paulla)

“A chegada da minha filha me deu mais força para seguir nessa minha nova versão. Com certeza, veio coroar e afirmar esse meu momento”, diz o ator sobre Maria Teresa (Foto: Eduardo de Paulla)

No momento, ele está com o projeto de um longa-metragem com Adriana Dutra, uma das sócias da produtora Inffinito. Sem dar detalhes, diz que vai abordar também um tema atual com o qual as pessoas vão se identificar, refletir e ter mais compaixão com o próximo. “Posso adiantar que vai ser uma história incrível”, avisa Brunno, que estreou na televisão, com O Rico e Lázaro, em 2017. Ele começou a estudar teatro aos 23 anos, na CAL – Casa das Artes de Laranjeiras, onde se formou três anos mais tarde, produzindo em seguida sua primeira peça. “Mas não tinha a mentalidade e ferramentas que tenho hoje”, diz.

"Enquanto ator, ter material riquíssimo para trabalhar, me faz sair da zona de conforto", ressalta Brunno (Foto: Matheus Linhares)

“Enquanto ator, ter material riquíssimo para trabalhar, me faz sair da zona de conforto”, ressalta Brunno (Foto: Matheus Linhares)

Brunno está envolvido também com a Rede Daltro Educacional, fundada por seu avô materno, João Daltro, já falecido. “É uma escola tradicional, mas através de bolsas de estudo incentivamos muito a cultura e o esporte. Temos, inclusive, alunos que foram campeões estaduais agora, no surfe. Infelizmente no Brasil não temos a cultura de incentivar essas duas áreas. E se minha família tem essa oportunidade, devemos ser úteis à sociedade”, ressalta ele, que se envolve mais na questão dos patrocínios. É um escola regular, mas técnica também, tem uma parceria com o Retiro dos Artistas. “Temos diversos formandos, alunos da área da saúde, que colocamos para trabalhar junto ao Retiro, dando todo amparo nessa área da saúde aos artistas do passado”, conta.