Beto Gatti já clicou os principais nomes da moda e revela para HT que planeja ir mais além: “Quero fazer arte”


Ousado e corajoso, aprendeu fotografia pela internet e garantiu que o essencial na profissão é ter um olhar diferenciado do mundo

Beto Gatti vive por trás das câmeras, mas sua vida poderia ser matéria de capa. E foi ele quem assinou o nosso incrível editorial com a atriz Agatha Moreira. Com apenas 29 anos, o fotógrafo já tem muita história para contar. Ele, que começou a vida profissional na moda, hoje clica estreladas campanhas para revistas. como Vogue, Elle, Glamour, Harper’s Bazaar e outras. Muito antes de assumir o posto atrás das câmeras, o jovem tatuado de sorriso largo já entendia tudo do mundo fashion e foi com sua marca de roupas, a Treelip, que desenvolveu sua criatividade e onde teve o primeiro contato com a fotografia, mas ele planeja muito mais.

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Beto Gatti largou a faculdade para se dedicar à marca de roupas e, logo, passou a clicar as campanhas (Foto: Divulgação)

A bem-sucedida Treelip, que começou despretensiosamente na UniverCidade de Ipanema, onde Beto e seus sócios estudavam, fez sua fama através de conceito de marca. Na época, os três jovens abriam o porta-malas do carro e vendiam as camisetas para amigos. Depois, começaram a promover festas e, quem comprasse o ingresso ganhava uma peça de roupa. Dessa forma, faziam 400 pessoas vestirem a marca. Em pouco tempo abriram a primeira loja, na Rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema. Em seguida, vieram as filiais de Búzios, Fortaleza e os cadernos mais influentes de moda. “Ficamos famosos, íamos em programas de televisão falar sobre a marca. Naquela época, eu me empenhei para ser designer e aprendi tudo sobre malhas, tecidos e toda a parte artística. Mas da mesma forma que crescemos rápido, o tombo foi grande”, revelou Beto.

Assim como os sócios, os investidores, que antes eram consumidores da marca e acreditavam nela, não conheciam a parte operacional e administrativa. Com a contenção de despesas, resolveram não produzir mais campanhas. Beto foi completamente contra e, nesse dia, decidiu: começaria a investir na fotografia. “Eu sempre fui muito a favor do conceito, mais até do que da peça de roupa em si, porque o que faz a gente escolher o produto é a ideia que criamos dele. Sem conceito perde o sentido. Eu não queria de jeito nenhum abrir mão disso, que era o que nos sustentava desde o início, quando tínhamos poucos produtos, mas dávamos festas”, explicou.

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Beto sempre ousou e foi atrás do que quis. Assim, já fotografou alguns dos maiores nomes do mundo (Foto: Divulgação)

Voto vencido, já que os sócios preferiram gastar o capital com roupa em vez de investir nas campanhas, Beto não desistiu. Ligou para o fotógrafo Lúcio Luna, que fazia os editoriais da Treelip na época, e pediu para comprar uma câmera usada. Com uma 50D nas mãos e nenhuma noção de como mexer nela, entrou no curso do Ateliê da Imagem, na Urca, para aprender o básico. “Eu sabia exatamente o que queria passar, mas a técnica era fundamental para colocar para fora. Era primordial manusear a câmera e eu aprendi. Quando fiz a campanha da Treelip, ficou melhor do que as que tínhamos pago antes. Não que eu seja melhor que outros fotógrafos, mas ficou mais fácil colocar a minha criação em imagens do que tentar explicar aquilo para alguém”, contou.

Sua paixão despertou ali. Ele, que gostava de acompanhar os editoriais e ver as ideias tomando forma, passou a considerar uma carreira diferente. “Eu achava tudo aquilo tão mágico. Confesso que eu invejava a vida do fotógrafo, porque amava ver a construção, o ambiente. O dia seguinte era o pior, porque tinham as contas. Ficava pensando que os fotógrafos só trabalhavam com o dia mágico de cada cliente”. Paralelamente a isso, se viu em um momento de pouca autonomia para criar “Quando me vi já não estava mais desenhando com prazer, sim para fechar contas. Eu fazia camisas não por que eu vestiria, mas porque seriam vendidas”, explicou. Quanto mais a empresa crescia e o número de funcionários aumentava, menos Beto explorava seu lado artístico. “Ficava o tempo todo no escritório, resolvendo problemas, contas, multimarcas, vendedores que atrasam. O burocrático ficou muito maior do que a vida linda de criar e desfilar uma coleção”.

Após sete anos de sucesso, a Treelip fechou suas portas. “Fiquei completamente perdido, porque eu tinha abandonado a faculdade para trabalhar. Vivi intensamente a marca por anos e eu tinha tanta certeza que ia dar certo que tatuei nas costas”. A partir daí, Beto se deparou com uma grande decisão: restaurar a marca ou ser fotógrafo e viver o trabalho que tanto gostava. “Eu tinha que começar do zero”, ressaltou. Com coragem, optou pela arte. “Me dediquei muito, meus melhores professores de fotografia foram online. Eu via vídeos de Mario Testino, Annie Leibovitz e ficava prestando atenção em como se comportam, direcionam a modelo, a luz que usam, o ambiente”.

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Beto é apaixonado por arte e conta que seus melhores professores de fotografia foram através da internet (Foto: Divulgação)

As redes sociais se tornaram, inclusive, suas ferramentas de trabalho. “A gente acaba acompanhando a intimidade das pessoas que nos inspiram, o que não deixa de ser estudo”. Ele, que tem muitos seguidores e gosta de dividir sua arte, acredita que todos podem usar seu canal para gerar benefícios. “Não há barreiras, temos a faca e o queijo na mão. Antigamente nos prendíamos a um canal que passava todo o conteúdo que poderíamos consumir. As redes sociais possibilitaram turbilhões de informações, podemos divulgar nossos trabalhos da melhor forma e é completamente gratuito. Então, temos a nossa própria TV. Nossos seguidores são nossos espectadores”.

Com quatro anos de profissão, Beto já viveu histórias dignas de veterano. Uma vez por mês, viaja para Los Angeles, onde fotografa para a Five Four clothing, uma marca de roupas masculinas. “Conheci o dono da marca em um Carnaval no Rio e dei uma campanha inteira para ele, que me disse para procurá-lo quando eu estivesse na Califórnia”, contou. Sem passagem, disse que viajaria no mês seguinte. “Ninguém vai ligar e dizer que tem uma campanha para você fazer em Los Angeles, temos que correr atrás, gerar oportunidades, se destacar”, afirmou.

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Beto Gatti faz graça com a tatuagem que tem em homenagem à fotografia (Foto: Divulgação)

Com esse espírito proativo, clicou também a campeã no America’s Next Top Model em plena Times Square – em sua primeira viagem a Nova York. A história, ele declarou, foi resultado de sua paixão pela profissão. “Eu estava com um casal de amigos na Times Square, vi uma sessão de fotos rolando e fiquei tão deslumbrado que não queria sair dali. Os meus amigos ficavam me chamando para jantar, mas tinha um ímã me atraindo naquele lugar incrível. Fui até a produtora, me apresentei como um fotógrafo do Rio de Janeiro e ela adorou. Perguntou quanto tempo eu ficaria na cidade, quando eu disse que eram só mais duas noites, ela me chamou para fotografar na tarde seguinte. Pirei”, relembrou. Ao chegar no hotel, pesquisou imagens e enviou referências para a produtora. No dia seguinte, ao chegar na Times Square, se deparou com a modelo Jaslene Gonzalez, fenômeno no país, e uma mega produção. “Fiz amizade com eles, o ensaio ficou o máximo. Jaslene amou ter suas fotos divulgadas em um caderno de moda”.

Ousado, Beto Gatti procura sempre ir além do convencional. “Eu trabalho enquanto estou vivendo. Crio oportunidades, me jogo e estou preparado sempre. Tem que ter sorte também”, assume. Combinados, esses elementos foram fundamentais para clicar um de seus grandes ídolos, Oskar Metsavaht, da Osklen. “Sugeri para a Harper’s Bazaar de fazemos fotos diferentes, porque o Oskar está sempre de braços cruzados, com a mão no queixo. Ele é bem reservado. A Osklen nem cogitou falar com ele e já vetou, de antemão. Comecei a pesquisar e sei que ele adora fotos P&B”. Munido de referências, chegou com um peixe enorme no apartamento de Oskar, no Arpoado,r e muitas ideias para reproduzir. “Levei uma foto do Yves Saint Laurent nu, a ideia de usar a saia que Oskar havia ganhado de presente do Yamamoto, e sei que ele ama o mar, então sugeri uma foto embaixo da água e outra de um pescador segurando um peixe de dois metros. Joguei tudo em preto e branco para ele visualizar, quatro fotos impossíveis, que ele nunca faria”. E fez. Quando Beto sugeriu, o empresário amou e disse que nunca na vida haviam proposto algo parecido. “Ele disse que só não faria a nu, porque não estava se sentindo bem fisicamente, mas se um dia fizesse seria comigo”.

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Beto fotografou a modelo Jaslene Gonzalez em plena Times Square, em Nova York (Foto: Reprodução/Facebook)

O resultado: oito páginas na Harper’s Bazaar com Oskar de saia, embaixo d’água e segurando um peixaço enorme na sala de seu apartamento, reproduzidas na Harper’s Bazaar China e vendidas para uma publicação argentina. “Oskar ficou impressionado. Até hoje ele me segue nas redes sociais e curte as minhas fotos. Na época, comentou que, na semana anterior, uma revista de Paris foi fotografá-lo e gastou com produção e viagem para registrá-lo de braços cruzados com a mão no queixo encostado na parede. Nós o ganhamos no diferencial”, analisou.

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O fotógrafo tem sonhos ainda maiores do que os que já realizou. Para o futuro, quer trabalhar com arte autoral e obras em galerias e exposições. “Criar um projeto e transformar em um quadro, um livro, seria incrível”, declarou. Ele, que começou clicando apenas moda, atualmente já transita entre outros meios. “Fui para todos os lados, faço música na Billboard. Na Harper’s Bazaar, clico pessoas mais do que a moda em si. Não fico preso”, disse ele, que não tem preferências ao trabalhar em estúdio ou externas. “Quero fazer o máximo de arte possível, independente de onde”. Em seus trabalhos, Beto só tem uma exigência: boas equipes. “Uma foto boa não depende só de mim. Tem modelo, roupa, maquiagem, local, proposta, o dia e, principalmente, a energia da equipe. Esse é o segredo da foto, todos juntos”, afirmou, convicto.

De equipe ele entende. Seu assistente, Igor Torinhö, que clicou os bastidores do nosso editorial exclusivo com Agatha Moreira, garantiu que aprende muito ao lado de Beto e tem uma história de vida parecida com a do chefe. Apaixonado por moda, Igor cursou design, estamparia e produção no SENAI-CETIQT e foi quando se interessou por produção que decidiu mergulhar na fotografia. “A moda sempre foi meu foco principal. Desde pequeno sempre gostei muito de roupa. Quando eu era criança não queria comprar brinquedos, queria camisetas estampadas. Depois, virei ilustrador e veio a vontade de fazer a faculdade”, contou ele, que já estagiou em gráficas, fábrica de estampas e estúdios de fotografia e mistura as duas profissões. “Meu primeiro contato com o Beto foi no estúdio que eu trabalhava, aí ele me chamou para fotografar. Aprendo todos os dias”, garantiu.

Para o amigo, essa característica é fundamental para ser fotógrafo. “É essencial querer aprender muito, pesquisar, ser fanático por filmes, além de, é claro, saber técnicas de luz, trabalhar em equipe e ter um olhar diferenciado do mundo”, disse Beto Gatti, que, com essa visão, clicou o teto da estação do metrô de Napoli, na Itália, e transformou em quadro. “Parece o céu, é um cubo enorme azul. Quem tem o olhar e a percepção do que é arte não deixa passar esse tipo de oportunidade”, explicou ele, que pretende passar uma temporada em Milão. “Fiquei por um mês lá e fiz muitos contatos, agora tirei meu passaporte italiano. Eu já trabalho em Los Angeles e quero expandir, tenho vontade de viajar muito e fazer arte”, declarou, com os olhos brilhando. Quem duvida que Beto vai longe?

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