*Por Karina Kuperman
Ava Simões é modelo, dentista e vai arranjar um tempinho na agenda lotada para passar dez dias em Barcelona, na Espanha, para concorrer ao título de mais bela transexual do mundo, no concurso Miss Trans Star Internacional, entre os dias 6 e 16 de dezembro. Acostumada com o mundo miss, ela já foi Miss Brasil Gay e, agora, leva o badalado estilista carioca Henrique Filho, conhecido mundialmente por vestir as rainhas de bateria no Carnaval, para ajudá-la a levar o título. A única questão é: ela disputa pela Angola. “A produção do concurso seleciona as 33 mais belas trans do mundo e o Brasil já tinha representante. Eu tinha que escolher um país com língua portuguesa, sou morena, cacheada, nada melhor do que Angola”, conta. A expectativa é alta, já que, apesar dos concursos de beleza não serem novidade na vida de Ava, é a sua primeira vez como trans. “No Miss Brasil Gay, eu ainda não tinha operado os seios, colocado silicone”, lembra, sobre o concurso de 2009.
Falando no mundo miss, qual será a opinião de Ava sobre a Miss Espanha, Angela Ponce, que causou polêmica ao se tornar uma das favoritas ao título do Miss Universo? “Acho incrível. Hoje em dia está muito fluido. Somos mulheres, nosso corpo precisa de um trabalho árduo e muito difícil para coincidir com a cabeça. Podemos competir normalmente como mulheres, porque é o que diz nosso coração, nosso corpo, o modo como vivemos, tudo que somos”, destaca ela, que fez a cirurgia de seios há apenas um ano. “Meu caso foi mais longo. Sempre sonhei em ser dentista, desde pequena. Venho do interior de Minas Gerais e tinha noção que para vencer na vida, sabendo que um dia eu seria menina, porque meu corpo nunca bateu com quem eu me entendia, precisava estudar, me estabelecer. Me formei, virei dentista e só ha um ano operei”, conta.
E como será que foi a reação da família? “Todos apostavam muito em mim, desde criança. Falando francamente era assim: ‘quer ser gay? Ok, vai estudar’. Era uma família humilde mas muito esclarecida e o maior bem que todos me deram foi o estudo. Já formada foi meio confuso. Meus pais ficavam naquele questionamento de ‘como meu filho doutor vai virar filha doutora? Como seus pacientes vão encarar?'”, explica. E eles lidam muito bem: “Todos amam. Sentam na cadeira e ficam me perguntando das festas, de concursos de beleza, de tudo. Concilio as profissões muito bem. E eu não me importo se me chamam de doutor, doutora, ele, ela… respeito o tempo das pessoas. Acredito que temos que ser tolerantes”, ressalta.
Em uma época que a causa trans tem tido cada vez mais espaço na mídia, com personagens em novelas, temas de filmes, participando de reality shows, Ava destaca: “Não viemos tomando a mídia, a gente ganhou nosso espaço, o que é bem diferente. Imagine uma trans dentista? Fui eu que cheguei até lá. Mas acho legal que abordem o tema, assim ganhamos força, desmistifica a coisa da esquina, marginalizada”, opina.
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