Atriz de “Verdades Secretas”, Bel Kutner solta o verbo sobre a trama: “Quem não gosta muda o canal. Vai ler um livro ou bordar”


Ao site HT, durante o 22º Festival de Cinema de Vitória (ES), ela falou sobre diversos temas e comentou ainda sobre a gravação do enterro da personagem Carolina (Drica Moraes), na semana passada. Além disso, abordou a polêmica do vazamento de capítulos na reta final da novela

(Foto: Alex Falcão / Divulgação)

(Foto: Alex Falcão / Divulgação)

Os incomodados com as cenas de prostituição, consumo de drogas e álcool, sexo, traição, aborto e pedofilia de “Verdades Secretas”, novela das 23h da TV Globo, que se mudem. Esse é o recado de Bel Kutner, atriz de 45 anos que vive a Darlene na trama de Walcyr Carrasco. “Quem não gosta muda o canal. Vai ler um livro ou bordar”, disse em entrevista ao HT durante o 22º Festival de Cinema de Vitória (ES). Para ela, qualquer que seja a polêmica de uma trama, tolher os rumos de um roteiro em prol de uma resposta maior da massa é inadmissível. “Eu sou contra qualquer tipo de censura”, garantiu. Mas, e se a audiência cair com a rejeição de um nicho conservadorista? “E, daí? Você não tem que ter audiência 24 horas. O cara do comercial que tem que pensar assim. Mas o artista não. Eu acho que um horário mais tarde em uma TV é para isso: tem que experimentar coisas novas”, opinou.

Para Bel, a maneira de fugir dessa possível repulsa do público é buscando personagens contraditórios. “Isso é que faz o drama: a pessoa que não é só boa ou só ruim, e sim uma que a gente se identifique. A gente se acha bom, mas em algum momento a gente comete uma falha. Sem querer você pode achar que está fazendo a coisa certa, mas está prejudicando um filho, por exemplo. Não está vendo um pedido de limite. Ou numa relação amorosa, você justifica na paixão, no amor, mas às vezes não enxerga uma pessoa perigosa, perversa, destrutiva. O que você busca para você? E é aí que vem a busca pela moral. Aí você conta tudo isso com graça, beleza, com charme, rompendo barreiras. Não é questão de ter gente nua ou não nua”, explicou.

A intenção, na verdade, é levar o telespectador a uma reflexão. “É desmascarar um business da prostituição de uma maneira muito jornalística. Tem que ver o que pode e o que não pode. Não é proibido se prostituir, mas a prostituição não pode ser comercializada por terceiros. Você não pode namorar menor de idade. Um cara namorar uma menina de 17 tendo 18 é um perverso? Ah, só um ano de diferença pode? Mas se o cara tiver 35 e ela 17? Não pode? Por que não? Depende de quem é o indivíduo?”, questionou provocativa. Bel acha que tudo depende do ângulo. “Você, às vezes, vê algo corriqueiro, mas, por baixo, corre aquela veia da dramaturgia, das grandes paixões e tragédias, das coisas veladas, e ainda tem por trás o jornalismo”.

Foto: Alex Falcão / Divulgação)

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É lidando assim que, para ela, se consegue digerir sem cara feia tantos temas polêmicos que abrem esse texto. “É aí que a gente conta que a prostituição é institucionalizada, que têm pessoas que lidam com isso e que se destroem. Também tem as questões das drogas. O Walcyr tira aquelas fantasias de que a droga é só ruim. Ele mostra os jovens curtindo até que uma pessoa perde a mão e cai numa cilada e vai até se explodir e leva a família inteira”, exemplificou. Aliás, é desse balaio polêmico que a massa gosta. “O povo gosta, principalmente, de discutir em casa, ter opinião, de discordar: ‘Ah não, ele é ruim, mas ele é charmoso’ ou ‘ah, ela vai descobrir?’ ou ‘aquela pessoa vai melhorar?’. A novela fomenta o debate, alerta para situações que são aparentemente esdrúxulas ou raras ou tenebrosas, mas que podem acontecer com qualquer um”, comentou.

No papel da professora de literatura que tentou alertar a amiga de que seu marido a trai com a própria filha, Bel faria o mesmo se estivesse no lugar do personagem. “Eu tentaria avisar, mas se também me ignorassem lavaria minhas mãos”. Nessa reta final da novela e com notícias girando em torno da possível morte de Carolina, personagem de Drica Moraes, Bel Kutner confirmou ao HT que participou da gravação do enterro no dia 11 e deu seu ponto de vista sobre a questão do vazamento de capítulos. “Sempre vaza, mas têm vários finais e nem todo mundo recebe tudo. E eu acho uma chatice quando vaza. Isso é bobagem”. Bobagem? ” O que interessa não é que vai acontecer alguma coisa, e sim como vai acontecer. Se fulano vai morrer ou vai matar, ou se terminará a trama com todo mundo feliz e contente, é uma surpresa. Eu não deixo de ver ‘Romeu e Julieta’ [tragédia de Shakespeare] só por que já sei que o casal morre no final”, comparou.

Na TV desde 1987, quando estreou em “Corpo Santo” da extinta TV Manchete, Bel garante ser uma mulher sem limites pré-determinados. Talvez por ser geminiana. “Hoje, por exemplo, eu não quero que você me encoste e amanhã eu já quero escalar uma montanha pelada. Entende?”, tentou explicar aos risos. Limite para ela é algo muito abstrato, mas não necessariamente desconhecido. “Eu já arrisquei tanto minha vida por besteira. Então, eu não me sinto limitada”, avaliou. Filha dos atores Dina Sfat e Paulo José, Bel nunca sentiu a cobrança de se igualar a performance dos pais. “Ninguém fala isso para mim”, disse, despreocupada. Mas já sentiu reações piores.

(Foto: Alex Falcão / Divulgação)

(Foto: Alex Falcão / Divulgação)

“Tem a questão que a minha mãe morreu e as pessoas não sabem muito bem quando, nem como. E sempre tem aquele excesso de normalidade como se minha mãe estivesse ali na esquina ou aquela coisa do coitadinha. Mas ela morreu na década de 70 e isso é um assunto muito bem trabalhado na minha família”, afirmou. E já que o assunto é família, Bel, além de lidar com a morte de Dina, convive com o pai portando Mal de Parkinson e o filho Davi, que foi diagnosticado com esclerorose tuberosa. Como enfrenta tudo isso com um sorriso no rosto e disposição para trabalhar?

“Eu gosto muito de brincar. Eu sou uma velha que me sinto com 12 anos. Tenho 45 e me sinto com 12. Eu perdi minha mãe com 18 anos. Ela era uma mulher vital. E isso não me deprime. Eu tenho ela em mim. Meu pai é outro que é um guerreiro. A gente se diverte muito. Meu pai lida com o assunto de saúde como milhões lidam. E meu filho tem uma questão, mas é um menino brincalhão que me dá um trabalho louco como outros filhos dão. A vida de ninguém é perfeita. Eu, por exemplo, não olho para a Madonna e acho que é a vida dela é mar de rosas. Aliás, eu acho que ser a Madonna deve ser um saco, porque ninguém fica casado com ela”, disparou. Sabe que a gente começou a pensar nisso, Bel?