*Por Brunna Condini
Amanda Lee é pura inspiração para esse início de 2024. A atriz de 45 anos mudou o estilo de vida de alguns anos para cá, quando descobriu o triatlo, e no combo, encontrou uma nova forma de viver, mais leve e conectada com a natureza. Ao mesmo tempo, o esporte foi uma via de fortalecimento da sua autoestima, um tanto abalada com a pressão estética sofrida para emagrecer após a gravidez da primeira filha (Rafaella, 12), quando engordou 35 quilos. “Eu vivi o céu e o inferno ao mesmo tempo. Sendo bem sincera! Estava radiante e maravilhada com a chegada da Rafa, com o nascimento também da Amanda mãe, mas, como figura pública, não tive nenhum respeito como mulher e mãe naquela época. Tudo sobre mim se resumiu ao meu corpo e ao meu peso”, lamenta a atriz, que viveu uma delegada em ‘Todas as Flores’ após 12 anos longe da TV, e estará na quinta temporada de ‘Impuros’, série Star+.
Sobre os planos para 2024, ela conta: “Estou trabalhando em um documentário. Um projeto idealizado por mim e que fala sobre esportes. Existe já um piloto pronto e agora estou em busca de um parceiro neste projeto para disponibilizar ao público. Tenho também uma peça em andamento. Estou cheia de gás e querendo produzir cada vez mais. Além disso, seguir competindo, treinando, e vendo a minha família bem e feliz. Afinal de contas, não somos somente uma coisa só, podemos ser o que quisermos”.
Amanda revisita o aparecimento da versão triatleta que tanto tem lhe feito bem. “Ela pintou após o nascimento do meu segundo filho, Vitor, 10. E surgiu muito despretensiosamente. Quando vi, estava treinando corrida, junto com a bike e voltando a nadar. Após um ano aprendendo sobre o triatlo, treinando as transições da natação para o pedal e depois para a corrida, me inscrevi na primeira prova, em dezembro de 2017. A partir dali, não parei mais, já foram 64 provas até hoje. Cada linha de chegada uma superação diferente, uma nova parte minha que descubro”. Ela também anuncia e vibra com mais um desafio no esporte: “Esse ano comecei a preparação para o Mundial em Samorin, na Eslováquia, que acontece em maio. Estou agora na fase de base, treinamento de força. Dividimos as fases em blocos de quatro semanas. Vai intensificando”. E frisa que já é uma conquista estar na importante disputa. “Só vão para essa competição os seis primeiros de cada categoria. Não é fácil ter uma classificação para estar lá”.
Adoro participar das provas, gosto dessa sensação de que eu me desafio e me supero em cada etapa, vou descobrindo novos limites e levo isso pra vida, para o meu dia a dia. É claro que existe o desejo de estar no pódio, mas tem algo muito particular, para mim, que é eu superar os meus medos, os obstáculos que a minha mente cria. E isso é libertador – Amanda Lee
Dividindo a própria experiência e chamando atenção para o fato de que a pressão estética pela qual passam as mulheres não exclui nem o período pós-parto, momento em que se deveria ter como maior preocupação o bem-estar da mãe e do do bebê, Amanda recorda. “Foi bastante doloroso lidar com as críticas, porque eram comentários ofensivos, pesados. Enquanto isso, eu estava me descobrindo na maternidade, com a benção que é a Rafa, mas foi difícil administrar. O sentimento era de que eu tinha feito algo que não era permitido, que o meu corpo estava afrontando as pessoas. Estava grata por todo o amor que eu sentia, mas sair na rua virou uma questão para mim”.
Sobre o desafio de viver a plenitude do início da maternidade com tantas cobranças duras a respeito da sua imagem, ela diz o que foi fundamental para superar o momento. “Terapia! Já fazia e sigo fazendo. Precisei me redescobrir como indivíduo, quem eu era após a maternidade. Tive que compreender que o comentário alheio não podia me definir. Foi um processo longo mesmo. Até porque, logo depois da Rafa, eu tive o Vitor. E as críticas foram ainda mais cruéis”. E compartilha:
Eu nunca esqueço de um colega ator que me encontrou e falou: “Amanda, o que você fez com o seu corpo? Você era o meu referencial de beleza”. Uma agressão verbal que eu não esperava. É difícil pensar nos danos que existem ainda hoje, porque essas coisas te marcam e ficam as sutilezas que se apresentam em momentos que você não espera. Mas eu posso dizer que sou hoje mais reservada, mais na minha – Amanda Lee
Inspirando
Depois de viver isso tudo, foi mudando seu estilo de vida com o triatlo e a transformação do corpo foi consequência? “Foi algo muito natural. Sempre fui adepta da prática de esportes. E no momento mais delicado de saúde mental, ele foi a minha válvula de escape. Encontrei no esporte um lugar de apoio e de fortaleza. O meu corpo de hoje é fruto de muitos anos. Não fiz nenhuma loucura, nada para satisfazer a expectativa dos outros. Descobri o thriatlon e me apaixonei. Ganhei novos amigos, a minha autoestima renovada e eu não sei mais viver sem me exercitar. Mas essa é a minha história, foi o meu caminho. Participo de quase todas as competições importantes de thriatlon. Descobri uma nova paixão além da atuação”.
Sabendo que mulheres lideram a insatisfação com seus corpos por conta de toda cobrança enraizada na sociedade, Amanda comenta. “Acho que vivemos um momento muito importante. E, de certo modo, lamento que não tenha começado antes: que é o das pessoas amarem os seus corpos. Eu sei que existem muitos traumas e vícios em mim que são resultados de tudo o que eu vivi, das pressões do mercado e da sociedade. Não quero que mulheres se sintam obrigadas a emagrecer, como eu me senti um dia. Tudo o que eu faço hoje é resultado de uma vida que gosto, que faço porque me dá prazer. Se eu pudesse dar uma dica sobre isso, seria: vamos cuidar da nossa própria vida. É muito cruel essa invasão sobre as vidas alheias”.
Muita gente começa o ano com grandes expectativas de mudanças, inclusive de estilo de vida. Para quem está com baixa autoestima, completamente sedentário, não costuma curtir exercícios, o que você diria? “Que o mais importante é fazer algo porque você quer, e não para atender aos desejos dos outros. Com isso definido, o caminho é encontrar algo que você goste de fazer. Muitas vezes, você não sabe, então faça aulas experimentais. Tenta uma aula de vôlei, de tênis, natação, bike. Algo que possa ser prazeroso. Não adianta fazer o que você não gosta. E é preciso disciplina, porque a preguiça existe. Mas, quando você encontra algo que curte, isso te motiva”, aconselha.
Desafio e alerta na rotina de treinos
Praticante do triatlo, esporte que envolve ciclismo, natação e corrida, a atriz fala do que é mais desafiador na prática da modalidade. “A parte mais difícil de conciliar são os pedais longos na rua. No Brasil, não temos um centro de treinamento específico para pedalar. A mentalidade do brasileiro no trânsito é totalmente nociva e perigosa. Quantos crimes cometidos contra ciclistas já aconteceram e acontecem? Não temos punições severas, as pessoas atropelam ciclistas, matam e a vida segue. É muito triste viver nessa realidade. É necessário ter o apoio/escolta de um carro, de uma moto, pedalar na madrugada que, supostamente, seria mais seguro… Mas aí vem um motorista alcoolizado ou mesmo na maldade e joga o carro contra o ciclista e foge. Eu mesma já tive motoristas, sim, no plural, porque não foi nem um nem dois, foram vários, jogando o seu veículo para cima de mim e até mesmo passando muito perto de mim. Eu me pergunto: porquê? Não conheço um caso sequer de um motorista que tenha atropelado algum ciclista e tenha cumprido uma pena justa ou até alguma pena mesmo. É a impunidade, a sensação é de que o dinheiro compra tudo, até mesmo a falta de memória. Nós vamos nos protegendo da melhor forma para minimizar os riscos iminentes de se treinar o pedal nas ruas”.
Bem na própria pele
Mesmo estando bem na própria pele, Amanda entende que nem a mais bem resolvida das mulheres está livre da pressão estética. “As cobranças existem para todas, somos uma sociedade machista. E a mulher sofre por essas imposições criadas pelo homem. Sinto que sempre tentam cobrar algo de nós. O corpo, a postura, o comportamento, a idade… é um mecanismo que se apresenta durante toda a vida de uma mulher. Acho que, quando uma mulher fala, quando se posiciona, ela fortalece outras mulheres. Me fortaleci em mim e em outras mulheres inspiradoras, que ousam quebrar essas correntes que criaram para nos aprisionar. Faço terapia e é fundamental no meu amadurecimento. Estou cada vez mais focada em mim, no que é importante para mim, sem me afetar com os outros. É difícil, um processo longo e que ainda dói muitas vezes”.
Acho que vivemos um momento muito importante. E, de certo modo, lamento que não tenha começado antes: que é as pessoas amarem os seus corpos – Amanda Lee
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