*Por Kika Gama Lobo
Uma tarde diferente. Em pleno dia de operação Lava-Jato (Unfair Play) no luxuoso condomínio Jardim Pernambuco no Leblon, eu tinha um encontro marcado com 10 atentas ouvintes, em uma aula semanal sobre vida. Ministrada pela psicanalista Luciana Torres, vulgo Tati, formada em psicologia clínica pela PUC RJ, membro da escola internacional dos fóruns da escola de psicanálise do campo lacaniano, o meeting rendeu. Um pouco atrasada, já peguei a aula correndo. De cara, observei a plateia sentada em uma elegante casa de uma família tradicional do Rio de Janeiro. Ampla, bem decorada, poucas e ótimas peças, só mulheres. A mais velha, 89 anos. A mais nova uns 65. Todas em busca de autoconhecimento. Cultas, viajadas, viúvas, solteiras, casadas, computavam – juntas – uma bagagem imensa de vida. Perdas doídas de filhos, maridos, irmãos. Ali não tinha nenhuma novata, ninguém a passeio. Sentei e comecei a aprender com elas. O tema: MATURIDADE, tailor made para a coluna #atitude50 que trata desta caminhada para o envelhecer com qualidade. Em minutos virou palanque. Falou-se muito. E tudo girou em torno do finito e da capacidade de significação do que foi vivido. Tati reforçou isso várias vezes: sim, qualquer estória de vida, por mais banal, dá um livro. O livro da sua vida. Singular, única, ímpar. O legado, como seremos lembradas, o que deixaremos de semente não teve ali nenhum caráter mórbido, mas sim matemático. O presente terá mais qualidade de vida proporcional às lembranças daquilo que de fato fizemos. Se amamos, mas não durou? Amamos…. Se empreendemos, mas não ficamos ricas? Trabalhamos. Se viajamos, mas não foi pra Rússia? Pelo menos conhecemos Iguaba. O importante foi caminhar e sobretudo continuar a ir. Com medo, sem muitas esperanças, inseguras, flácidas, esquecidas? Who cares? Se ainda existe uma capacidade motora e mental de aproveitar a vida, façamos. Tati falava da castração do corpo: quando o joelho dói, a catarata chega; as costas ardem…. De relance, observei a mulherada sentada ali. Salto alto, muitas joias, cabelos pintados, belos cortes, calças justas, decotes. Não me pareceu uma reunião de senhoras reumáticas, mas sim de mulheres e é esta a visibilidade que estavam perseguindo. Estão vivas, atentas. E foi essa geração interessantíssima que queimou sutiã, que fumou maconha, que tomou pílula. Há 40 anos elas tinham entre 30 e 40 anos (algumas 50) e viram suas mães e avós encarquilhadas aos 40, lotadas de 12 filhos aos 50; mortas aos 60. Lembraram que elas não falavam a idade sequer para o médico e hoje, as máscaras caíram por terra. Botox, fofona, lentes de contato, próteses inteligentes, silicone…. Está tudo aí numa mélange de ciência e medicina. Todas mexem no celular. Todas andam de uber. Todas assistem séries no Netflix. Elas voltam a ter perguntas e não somente respostas. A tal sabedoria da velhice não se esgota nelas mesmas. Elas querem aprender. Gostam da juventude ao redor e acharam um modo moderno de envelhecer. Toda tem libido pela vida (lib – amor). Tesão não sexual, mas tesão pela existência. E nessa tarde inspiradora falou-se de Kant, Copérnico, Schopenhauer, Nietszche, Darwin. Invocou-se a religião e blasfemaram entendendo que Deus talvez seja mesmo uma invenção humana para suportar a caminhada. Declamou-se Saramago e lembrou-se de Borges. Elas descascaram a si mesmas e se cascaram de volta, melhores. Eu peguei uma carona no tempo e avancei 30/40 anos em uma tarde. Não temi. Obrigada meninas. Pelo que entendi, o futuro vai ser o máximo, basta dar os passos certos, com vigor e entusiasmo. #atitudeforever
TATI TORRES PALESTRAS
Temas da psicanalise, sempre variados ( amor, relacionamentos pessoais, pais e filhos, casais, sexo e sexualidades, adolescentes, contemporaneidade, politica, religião)
Público: 60+
Preço: 60 reais por pessoa
Aulas presenciais, semanais, no Leblon
Agendamento: luciana@torresdh.com
Ao final da palestra é oferecido um lanche
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