*Por Kika Gama Lobo
Sou a favor do aborto. Sou a favor da descriminalização das drogas. Sou a favor da religiões afro-brasileiras, do casamento gay, da união das raças, do estado laico, do amparo do estado à velhice, da educação para todos, de hospitais gratuitos de alta qualidade para a população, da permanência da lava-jato…. Mas começo a pensar que sou minoria. O Brasil está encaretando de uma forma veloz. Quando ouço os Bolsonaros da vida bradando em nome da tradicional família brasileira me pergunto: quem somos? Estamos em uma total inversão de valores. A elite brasileira se encastela em grades e se blinda em aços. A classe média – cordeiro – anda para o lado em que o vento sopra a favor. Os excluídos, ah, esses resistem apenas. E eu penso sobre o tal futuro do Brasil. Os milicianos e donos do pó passaram a comercializar o silêncio dos moradores, o bujão de gás e regular horários em toques de recolher. Os ricos fazem de conta que pensam a violência apenas quando explodem perto de suas garagens. Eu assisto tudo bem aflita. Não sei se me pirulito pra São Paulo; se entro na política carioca e luto até morrer; se faço a egípcia e ligo o foda-se e penso na minha miserável aposentadoria do INSS enquanto finjo que dias melhores virão. Tô zonza. Estamos zonzos. Percebo uma confusão imensa quando urgimos é de um agir supremo. No meio daquela multidão no Rock in Rio eu olhava as massas inflamadas gritando Fora Temer e pensava: tudo-da-boca-pra-fora. No dia seguinte fui à praia no Leblon e confirmei a permissividade cool dos cariocas. Os sarados jogavam altinho, cães mergulhavam no mar, maconha aromatizava o ambiente e os ambulantes vendiam mercadorias que fariam corar a vigilância sanitária. E todos felizes, alegres e domesticados. Um bando de `ixpertus` pensando no abate da gata no baile funk; no whey protein para ganhar músculos e não cérebro e se Ivana-Ritinha-Bibi causarão na novela das 21 hs. E vejo que a coisa anda preta quando tenho sonhos de desejo com Angela Merkel ao invés de erotizar com Cauã. RIP Brasil.
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