*Por Kika Gama Lobo
Conheci a Adriana Lerner assim de sopetão. Estava em Miami, por ocasião do meu segundo casamento (besta, né?) e fui apresentada a ela no meio do Art District por uma amiga em comum, a Marta Michelli. Ruiva, alta, alva, desenvolta. Gostei de cara. Tem algo de leonina (nem sei se é), tem muito de livre e as suas roupas eram de um colorido inesquecível. Depois, vim saber que tinha uma marca de xales de puro cashmere. Bingo: exótica e talentosa. A revi mais duas vezes, mas é daquelas que eu já considero amiga mesmo sendo distante. E recebo uma pauta super legal, de outra amiga que eu curto, a Domi Valansi, ex-blogger de arte que me sugeriu esta coluna. Formou né?
Adriana lançou agora, durante a semana de arte de Miami, uma série desses xales em puro cashmere assinados pela arquiteta Lia Siqueira em parceria com a artista visual Frida Baranek. As três criadoras têm mais de 50 anos e estão no auge da carreira.
Através da longa amizade, elas se encontram nessa fusão em que a arte e a arquitetura se manifestam em grafismos. Uma comunhão de áreas aparentemente distintas.
Com edição limitada, os trabalhos têm como suporte xales de puro cashmere feitos à mão em Kathmandu em uma parceria que ajuda a sustentar comunidades nepalesas, extremamente afetadas pelo terremoto de abril de 2015. A intervenção da dupla sobre o material são grafismos produzidos a partir da inserção de materiais e ocupações, posteriormente impressos através de silkscreen. O resultado da colaboração são as obras “Wire Transfer I”, feito de arame de aço, e “Abstract Tape I” feito de fita de fibra de vidro. O projeto também tem um forte lado social. Há alguns anos, ao visitar Kathmandu, Adriana conheceu uma fábrica que produzia peças em cashmere, através de um processo manual, por um grupo de tecelãs. Ela ficou encantada com todo o processo e principalmente pela alta qualidade das peças, feitas com pelo de cabra e tecidas à mão.
Porém, após o terremoto de abril de 2015, a fábrica estava ameaçada de desaparecer por falta de turistas no país, e também por não conseguir competir com concorrentes que utilizavam métodos de baixo custo e matérias-primas inadequadas para o que se define como cashmere. Seguindo seu sonho de investir no empreendedorismo social, Adriana começou a apoiar os negócios da região e exportar os xales de cashmere. Neste contato diário com o material, ela começou a brincar com os xales, deslocando-os de sua função de acessório, e desenvolvendo diferentes pesquisas artísticas. Veja quem compareceu ao evento em Miami na galeria:
SERVIÇO
Os xales podem ser adquiridos na Galeria Raquel Arnaud, em São Paulo e
no site www.arrivalsgate.com.
O valor é de R$ 2.400 (dois mil e quatrocentos reais).
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