#Atitude50: em sua coluna semanal, Kika Gama Lobo fala sobre um tema urgente. “Somos estupradas todos os dias”


“Ela mereceu”, “Ela deu mole” “Ela estava seminua e provocou” “ A calça jeans foi a culpada” “Os peitos saltavam do decote”. Como diz minha filha: e daí? Se queremos usar nossas roupas micras, sobretudo neste Brasil tropical, somos merecedoras de tamanha violência?

*Por Kika Gama Lobo

Clara Averbuck no vídeo em que conta do estupro e mostra o olho roxo resultado da agressão

O relato da amiga do Facebook, Clara Averbuck, que foi estuprada esta semana dentro do Uber, em São Paulo, trouxe à tona um assunto que todas nós conhecemos. Somos violentadas todos os dias. Os olhares, as cantadas grossas, as atenções pra bundas e peitos, o sarro no ônibus, o pau duro nas nossas coxas em trens, metrôs e filas, a língua lasciva pra fora, a mão que toca o pinto assim que caminhamos. Somos vítimas mesmo que não tenhamos sofrido a real agressão física. Eu fiquei animada com a Lei Maria da Penha, com o movimento #mexeucomumamexeucomtodas , com o #respeitasmina mas o fato é que nada disso cessa o bonde. Os relatos dos crimes políticos, com suas torturas sexuais absurdas; a exploração sexual de menores e adolescentes em áreas pobres; as mutilações genitais culturalmente aceitas em países da África; os pais que fodem com suas filhas no Nordeste para que sejam o primeiro cabra a bulir com elas; os tios, vizinhos, professores, parentes, amigos, médicos. Não tenho estômago para os Roger Abdelmassihs da vida. Sou revoltada com o assunto pois tem sempre um Bolsonaro para banalizar. “Ela mereceu”, “Ela deu mole” “Ela estava seminua e provocou” “ A calça jeans foi a culpada” “Os peitos saltavam do decote”. Como diz minha filha: e daí? Se queremos usar nossas roupas micras, sobretudo neste Brasil tropical, somos merecedoras de tamanha violência? Precisamos falar e falar muito sobre esse assunto. O estupro conjugal; a coerção masculina diante de mulheres emocionalmente frágeis; abuso de meninas com demência ou retardo mental; a troca de favores usando como moeda de troca o sexo…. São tantas as maneiras de violentar uma mulher! E nunca me esqueço do relato de muitas delas. O agressor sempre ganha pois mesmo que ele seja condenado, a memória e a lembrança do estupro te acompanham pela vida toda. Phoda! Sorry pela exclamação

Clara, obrigada por sua coragem e de tantas anônimas, famosas, celebridades e mulheres com M maiúsculo que tem culhão (olha ele aí de novo) para denunciar. Aqui reproduzo o texto de Clara para a revista Claudia.

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http://claudia.abril.com.br/noticias/clara-averbuck-estupro-escreve-para-claudia/

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