*Por João Ker
Arnaldo Antunes resolveu expor aquilo que se passa no interior da sua privilegiada cabeça, e não é através das suas músicas habituais. Inspirado pela mais profunda tradição pop, tipo Andy Warhol, o músico assume agora a vez de artista plástico e lança a midiática exposição “O Interior Exterior”, que será inaugurada na próxima quinta-feira (4/9) na Galeria Laura Marsiaj, em Ipanema. Lá, 228 monitores transmitirão repetidamente as fotografias feitas pelas viagens de Arnaldo desde os anos 1990 e que agora estão reagrupadas em “objetos-poéticos”.
Para isso, as paredes da galeria serão pintadas de tom escuro e a única luz do ambiente será a dos tais monitores. As fotos, que mostram objetos como relógios e placas combinadas com algumas palavras soltas (ou ready-mades), são animadas por stop motion e estarão espalhadas pelo lugar. Sobre o processo criativo, Arnaldo comenta: “Fiquei inicialmente fascinado por descobertas de escritos que, deslocados de seu contexto original, adquiriam um caráter poético; ready-mades encontrados espalhados pelas cidades por onde passava. Assim, se revelaram para mim a palavra ‘divino’ impressa numa caçamba de entulho em São Paulo, o letreiro ‘Cabeça Veículos’ nomeando a loja de automóveis em Santos, a ‘Funerária A Criativa’ em Salvador, as placas de trânsito com pontos de exclamação em cidades europeias, o ‘Hotel Agora’ em Veneza, as placas de sinalização de dois bairros de Lisboa — ‘Rato’ e ‘Estrela’ — com setas apontando a mesma direção, o letreiro da loja ‘Arte’ ao lado do letreiro ‘Change’ de uma casa de câmbio em Roma, entre outras”.
Realmente, apesar de parecerem escolhas aleatórias, as combinações fazem todo sentido. Em um dos “objetos-poéticos”, as palavras ‘arte’ e ‘mudança‘ são colocadas lado a lado e nada parece mais coerente nessa mostra do que a mudança do conceito de arte e significado. Uma porção de relógios, por exemplo, acentuam o passar do tempo — a interpretação sobre o que isso significa naturalmente é algo absolutamente pessoal — e, mesmo que sejam ligadas apenas pela morfologia, como ‘súbito’ e ‘mito’, é possível ouvir algo.
“Cada uma explora uma temática própria que se relaciona com as outras pelo impulso de expressar questões interiores com dizeres tirados da realidade exterior. Num misto entre o acaso que me confronta com as inscrições do mundo e a manipulação de recortes e analogias entre elas, esse trabalho relaciona-se de alguma forma com os ready-mades de Duchamp, com as instalações e video walls de Nam Jum Paik, com os popcretos de Augusto de Campos e com a arte pop de uma maneira geral. Como disse Andy Warhol em Popism: The Warhol sixties (1980), “Pop Art took the inside and put it outside, took the outside and put it inside”“, explica Arnaldo Antunes, enquanto expõe seu próprio interior.
Fotos: Divulgação
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