* Por Carlos Lima Costa
Ao integrar o reality No Limite, Ariadna Arantes viu seu nome ganhar forte visibilidade como na época em que participou da 11ª edição do Big Brother Brasil, em 2011. Isso a incentivou a antecipar os planos de retornar ao Brasil. Desta vez para ficar. Ela morava na Itália há 18 anos. “Estou me organizando agora para abrir meu espaço e atuar como micropigmentadora e também me dedicando aos conteúdos para a internet. Pretendo retomar meu canal do YouTube. Meu conteúdo principal é skincare, maquiagem, roupa, culinária e viagem. É focado no lifestyle”, comenta.
Em sua volta ao Brasil, as metas vão além das profissionais. Aos 37 anos, ela planeja ser mãe em 2022. “A minha vontade é que a minha irmã possa gerar através de inseminação artificial. Pretendo concretizar até o final do ano que vem. Independentemente de ter uma relação ou estar casada, vou ter esse filho. Esse desejo de ser mãe é uma missão, um sentimento muito forte. Depois, se estiver bem financeiramente, gostaria de adotar uma criança com Síndrome de Down. Me sensibilizo muito quando vejo histórias de pais que abandonaram seus filhos. Gostaria muito de dar amor a um ser que eu acredito ser especial e que veio para ensinar muita gente a amar e respeitar como eles”, revela Ariadna, que, após breve namoro, está solteira.
E sabe bem que conceitos ensinará a essa criança. “Educação, amor e liberdade são os princípios básicos. Todas as pessoas devem ter liberdade para que possam conhecer todos os caminhos, condições e escolhas. Meu filho ou filha vai seguir o percurso natural da vida, o que tiver de ser”, assegura.
“Antes de eu participar do No Limite, havia programado a minha volta ao Brasil para dezembro. O programa só me fez dar o pontapé decisivo. Fiquei muito emocionada, porque foram 18 anos, uma vida morando na Itália, onde tudo que eu sou, fui, aprendi e conquistei, minhas experiências de vida devo àquele lugar. Há três anos havia conseguido montar o meu apartamento, após a separação do meu marido (ela foi casada por seis anos). Tudo isso contou para a minha emoção”, explica Ariadna.
Super ativa em suas redes sociais, ela percebe a agressividade das pessoas cotidianamente. “Como influenciadora, vivo na internet praticamente 24 horas por dia vendo tendências, vídeos para me inspirar nos trabalhos. E são muitos haters. Diariamente recebo críticas sobre religião ou sobre meu peso e eu ser quem sou. Tem muitas ofensas. Isso é algo que eu já convivo e estou tentando ignorar o máximo possível e sou bem estruturada psicologicamente”, desabafa, ressaltando que também recebe inúmeras mensagens de apoio e carinho. “Muita gente não gosta de ver os outros se dando bem, de ver a felicidade das pessoas. Então, de uma certa forma tentam prejudicar as outras descontando suas frustrações. Tenho pena dessa gente. São pessoas vazias, descontam suas frustrações em cima de quem não tem nada com o problema delas”, observa. E afirma que a vida lhe impõe muitos desafios. “Se algo vem fácil até desconfio. Tudo é muito suado”.
Sobre aqueles que ainda usaram as redes sociais para enfatizar a ditadura dos corpos perfeitos e não respeitar a diversidade, ela comenta: “Me pegou em um momento que eu estava frágil por ter saído do programa e foi muita gente fazendo comparações ruins. Mas sou bem resolvida com o meu corpo. Não sou obesa, não preciso nem fazer cirurgia. Se tivesse realmente me incomodando eu estaria correndo atrás, mas adoro minhas curvas. O que aconteceu foi a pandemia, o inchaço com muito sol e alimentação ruim”, explica ela que diariamente faz atividade física e caminha bastante.
Sonhos realizados na Europa
Ariadna ressalta que o período na Itália foi de realização de sonhos. Lá, por exemplo, descobriu que era possível fazer a cirurgia de redesignação sexual. No mesmo dia ligou para a Tailândia, onde seis meses depois a mudança foi efetivada. “Nessa fase fiz as viagens que eu sempre sonhei, ajudei minha família, fiz cirurgias plásticas, vivi amores, me casei, não tenho do que reclamar”, relata, acrescentando: “Hoje em dia, eu tenho cidadania italiana, mas aqui é a minha casa, o meu país”.
Ariadna relembra a infância e a adolescência quando se reconheceu mulher e precisou se colocar para a família. “Tive uma vida difícil, mas nasci com boa índole e bom coração. Isso me fez ser uma pessoa do bem. Com seis anos de idade vestia as roupas da minha mãe. Quando ela me viu um dia com seu vestido, me bateu muito, falou que se meu avô tivesse vivo iria me matar. Eu era apenas uma criança brincando. Fui crescendo com esse sentimento, achando que era algo de errado, mas não era. As pessoas que tentavam fazer com que fosse. Vim de família humilde, pobre e ignorante. Minha mãe teve seis filhos, um morreu quando nasceu, menina só eu e a mais nova. Meu pai foi embora de casa três meses depois que eu nasci. Com 10 anos já percebi que eu queria ser uma menina”, relembra.
E prossegue refletindo mais sobre o tema. “Quando saí da casa da minha mãe, dei o pontapé inicial para mudar tudo. Ela teve dificuldade para aceitar, porque era religiosa, mas hoje em dia me respeita como uma mulher. E briga com o pessoal da igreja se alguém falar o contrário”, frisa ela que, após realizar a cirurgia de redesignação, entrou com o pedido de retificação de documentos. “Ali virei a página, o Thiago morreu e nasceu Ariadna Thalia. Sou uma mulher que me posiciono e sei o meu valor”, analisa.
Em sua caminhada, ela foi vítima de violência doméstica. “Já sofri agressão psicológica e, uma vez, um namorado meu italiano me deu um tapa na cara aqui no Brasil. Em outra ocasião, um outro namorado que morou comigo, tinha um comportamento que não era legal. Isso mexeu com o meu psicológico. Infelizmente, o machismo é estruturado em nossa sociedade”, reforça.
Depois de tantas histórias, quem é Ariadna? “Sou uma pessoa completamente sem medo, mais livre e evoluída. São fases, crescemos com o tempo. O amadurecimento é uma conquista e eu ainda tenho muito mais para amadurecer. Sou uma mulher independente que não desiste de lutar para que minha voz seja ouvida e minha arte seja vista. Independente. Livre. Tenho pena das pessoas preconceituosas e retrógadas, que estão presas em uma gaiola da ignorância. Pessoas assim não evoluem, não chegam a lugar nenhum, não conhecem o melhor da vida, vivem na amargura. Acredito em dias melhores. Inclusive, uso minha visibilidade para incentivar as manas trans”, realça. E para aqueles que se identificam e tem sentimento semelhante ao dela na juventude, Ariadna diz: “Que lutem para que sejam o que desejam ser sem ter medo, porque as pessoas tendem a usar a negatividade delas para que as outras pessoas não se realizem”, diz.
Como influenciadora, Ariadna tem feitos inúmeras campanhas publicitárias, incluindo o job para a Olharflash. “Estou muito orgulhosa de ser embaixadora de uma marca de cosmético internacional. Está apostando na diversidade. A Olharflash está fazendo o que todas as marcas deveriam fazer, porque mesmo sendo minorias, mulheres trans são consumidoras. Nada mais justo ter mulheres trans em todas as áreas”, justifica sobre a marca que é sucesso de venda nos Estados Unidos, Espanha, Chile, Reino Unido, Nova Zelândia e México, com o sérum fLash 100% vegano, produto livre de parabenos, não testado em animais, sendo potente acelerador do crescimento dos cílios. “Que outras grandes marcas possam nos dar oportunidade igual, lutando assim contra essa sociedade machista que a todo tempo nos empurra para a marginalidade, acrescenta.
Ariadna ressalta que, em geral, as empresas focam muito no mês do Orgulho LGBTQIA+. “A Olharflash me convidou muito antes, assim como a Fique Lizz outra marca que sou embaixadora também”, conta ela, assumidamente vaidosa. “Gosto muito de cuidar do meu cabelo e da minha pele. Acho muito importante essa vaidade”, comenta ela, que, na Itália, enfrentou a Covid-19 durante 13 dias. “Tive perda de olfato, de paladar, febre… Tenho muita fé em Deus, mas fiquei com medo, claro, achei que fosse morrer, porque é uma doença que está acabando com a vida de muita gente”, disse. E a pandemia a fez rever posicionamentos. “Quando perdi minha tia Vera para a Covid-19, em maio do ano passado, e ainda uns três amigos, me veio na cabeça de não perder mais tempo, de nunca deixar nada para depois, de viver mais e dar mais valor a tudo”. Nesses momentos difíceis, busca força na fé. “Só mesmo em Deus, me apego as minhas crenças, faço muita oração. Quando alguém parte, fica aquela dor, aí só o tempo mesmo para curar a gente. Sou espírita, então, fico triste, mas sei que não é o fim”, comenta.
Sobre sua recente participação no programa No Limite, Ariadna frisa que os maiores desafios foram a chuva e o frio, ter que dormir com a cara no chão molhado. Ela não se arrependeu de ter topado estar no reality. Mas não participaria de novo. “Agora, o BBB é meu sonho. Se me convidarem, estarei lá mais uma vez”, disse ela, que participou da 11ª edição.
E conta curiosidade sobre a receptividade dos seguidores. “As pessoas sempre foram carinhosas comigo, então, não tenho muito do que reclamar. Antes do No Limite, muitas pessoas não estavam me reconhecendo como a Ariadna do BBB, mas a influenciadora Ariadna, o que pra mim foi maravilhoso ser reconhecida pelo meu conteúdo, pelo trabalho que eu estou fazendo agora. Muita gente não sabia nem que eu era trans. Então, as pessoas não associavam mais a Ariadna de hoje com a do Big Brother. Isso é muito legal, significa que estou sendo reconhecida pelo meu conteúdo e não por uma condição ou rótulo que foi imposto”.
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