*Por João Ker
A briga e as críticas de Taylor Swift contra a indústria fonográfica não vêm de hoje. Há alguns anos, ela lutava para ser respeitada como compositora, apesar de ser amplamente atacada por escrever letras sobre seus ex-namorados. Mais tarde, foi a vez de a artista defender seu novo posicionamento sonoro, migrando do country para o pop após um sucesso inegável nos charts do gênero. Agora, discursos feministas e milhões de discos vendidos depois, o que põe sangue nos olhos de Taylor é o atualíssimo debate sobre direitos autorais cobrados (ou não) por streaming.
A briga com a nova plataforma para consumo de música começou ainda no ano passado, quando Taylor Swift disse que não disponibilizaria seu álbum “1989” no Spotify por não acreditar que o serviço pagasse a quantia merecida aos artistas. O debate aqueceu todos os meios, artistas e empresários da indústria fonográfica opinaram, mas a garota fincou pé até que Jay-Z surgisse com o TIDAL, a primeira rede do tipo a contar com o catálogo da cantora. A diferença? O marido de Beyoncé vende seu site como um produto “criado por e para artistas”, onde eles além de terem controle criativo, também ganham sua parcela da grana lucrada.
Tudo muito bem, muito legal, até que surge a Apple Music com a proposta de “revolucionar o streaming” – sério, quantas vezes o público consumidor vai ser obrigado a ouvir isso? O serviço da empresa criada por Steve Jobs traz lá suas vantagens, como uma rádio 24h, estar pré-instalado em iPones e um catálogo imenso de artistas e discografias – sim, mais um -, mas na essência é basicamente o mesmo de outros como Spotify, Rdio e Deezer, exceto pelo preço mais acessível, que no Brasil será de U$5 por mês, chegando a U$9,99 em outros países.
Acontece que em 30 de junho, quando for lançado, o Apple Music passará por um período de três meses como “experiência”, dando total acesso ao cliente para usufruí-lo de forma gratuita. E como uma das maiores empresas de tecnologia do mundo pretende custear isso, após ter pago U$3,2 bilhões para comprar a Beats, a marca criada pelo rapper Dr. Dre e o empresário Jimmy Iovine – o mesmo que já irritou Diplo – que serviu de base para o serviço? Deixando de pagar os artistas, produtores, compositores e cantores por todo esse período. E é aí que eles pisaram no calinho inflamado de Taylor Swift.
“Para Apple, com amor, Taylor”. É assim que a artista começa uma carta aberta publicada em seu Tumblr oficial. “Eu tenho certeza que vocês estão cientes de que a Apple Music oferecerá um período de testes grátis por três meses para qualquer um que assinar seu serviço. Eu não tenho certeza se vocês sabem que a Apple Music não estará pagando compositores, produtores ou artistas por esses três meses. Eu acho que isso é chocante, desapontante e completamente atípico para essa empresa historicamente progressiva e generosa”, atacou, dizendo ainda que não estava falando por ela própria, mas por milhões de artistas iniciantes e amigos de seu círculo social que tinham as mesmas preocupações.
O texto segue, com Taylor elogiando eternamente a empresa e ressaltando todos os seus pontos positivos através da história, dizendo que entende o objetivo final do serviço e acredita que ele será realmente a “plataforma que conseguirá entender tudo isso”. O ápice, entretanto, vem no final da carta: “Mas eu digo à Apple com todo o respeito, que não é tão tarde para mudar essa política e mudar as mentes daqueles na indústria musical que serão gravemente e profundamente afetados por isso. Nós não lhe pedimos por iPhones grátis. Por favor, não nos peça para fornecermos nossa música sem nenhuma forma de compensação”. Tá bom ou quer mais?
A resposta veio no mesmo dia, direto do Twitter oficial de Eddy Cue, Vice Presidente Sênior de Software e Serviços de Internet da Apple. “#AppleMusic irá pagar os artistas pelo streaming, mesmo durante o período de testes”. Em uma entrevista posterior à Billboard, Eddy explicou que quando acordou e viu o tweet de Taylor, decidiu que era hora de fazer alguns ajustes. “Aquilo realmente solidificou que nós precisávamos mudar”.
Ele ainda conta que ligou na hora para Taylor Swift – que está em turnê pela Austrália – e deu a notícia em primeira mão. “Eu avisei que nós ouvimos suas reclamações e que faremos as mudanças. Nós temos uma longa relação com a Taylor e eu queria que ela ouvisse diretamente de nós”, disse, frisando ainda que “nunca foi sua intenção” prejudicar artistas e que tem muito respeito pela comunidade musical. “Ela ficou animada, muito agradecida e excitada de ver quão rápido nós respondemos”. Para quem ficou na dúvida: o dinheiro agora sairá do próprio bolso da Apple.
Aos poucos, Taylor Swift vem galgando um caminho como uma das pessoas mais influentes dos últimos anos, independente de ter entrado ou não para o último ranking da Forbes – um recorde que ela já conseguiu quebrar esse ano, como você viu aqui. Não é nem um pouco comum que artistas tenham o culhão de criticar o próprio meio em que estão inseridos, menos ainda bater de frente com uma empresa tão grande quanto a Apple. Um feito desse, realizado por uma mulher com 25 anos, é ainda mais impressionante.
A questão é: quanto menos se falar no assunto, menos as regras do jogo mudarão. E Taylor tem toda a autoconfiança necessária para ser uma porta-voz de sua classe artística. Afinal, apesar de não ter disponibilizado o “1989” para o Spotify – algo que à época foi visto como uma loucura e um chilique desnecessário por muitos -, o álbum ainda quebrou recordes, vendeu mais de quatro milhões de cópias e ficou por mais de 20 semanas no top 5 de mais vendidos, 12 dessas na posição de #1. Logo, quem vai querer disputar popularidade com uma máquina de dinheiro dessas? Palmas, palmas e mais palmas para um artista que, nos últimos tempos, vem surpreendendo o mundo por todos os motivos corretos.
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