*Por Karina Kuperman
A voz dele já era conhecida de todo Brasil, mas o dublador Duio Botta só apareceu para o grande público em 2016, quando foi convidado para atuar em “Êta mundo bom“, de Walcyr Carrasco. A parceria deu tão certo que, agora, ele vive o mordomo Jardel em “A dona do pedaço”. “O convite para ‘Êta Mundo Bom‘ foi justamente por conta do meu trabalho como dublador. Precisavam de ator mais jovem que conseguisse fazer vários tipos de vozes, então me indicaram para o Diego Morais, um dos diretores, ele me pediu alguns testes e eu fui chamado. Já para essa grande oportunidade de interpretar o Jardel, tudo aconteceu por conta de uma participação minha na websérie ‘A casa sonho‘ que ficou bastante popular no YouTube. Gostaram do meu trabalho e ligaram convidando. Quase não acreditei. Eu sempre quis fazer novelas. Sempre”, comemora.
Por isso, não poderia ser diferente: viver o mordomo de Maria da Paz, interpretada por Juliana Paes, tem sido motivo de pura alegria. “Mudou a minha vida completamente. A repercussão é a melhor possível. Estou tendo contato com pessoas do país inteiro. Estou amando a experiência. Aqui no Rio eu ando muito de metrô e sempre tem algum ou outro que me reconhece e grita: ‘Jardeeeel'”, conta, aos risos. E será que compor um personagem homossexual sem cair em um estereótipo é mais difícil? “Eu estou adorando. Não tem jeito: o Jardel é, de fato, muito caricato, começando pelo cabelo, um corte meio Elvis Presley. E o tipo que eu criei para ele é formado por trejeitos”, explica ele, que promete fortes emoções. “Jardel ainda está quieto, tipo mineiro, mas vai desabrochar em breve. É segredo. As pessoas vão se surpreender”.
Quem não vê Duio há algum tempo, pode até não reconhecê-lo na televisão. Isso porque o ator perdeu 80 quilos nos últimos anos. Mas o caminho não foi fácil: junto com a perda de peso, vieram os transtornos alimentares. “Eu fiquei mal quando apareci na TV e não me reconheci. Eu estava enorme, não estava feliz, com problemas nos joelhos. No programa em questão, por exemplo, não tinha figurino para o meu tamanho. Isso me motivou a começar a vomitar. Passei quatro anos lutando contra a bulimia. Hoje em dia tento seguir uma alimentação restrita a legumes e frutas. Me sinto outra pessoa”, conta. “Enfrentei muitas dificuldades, não conseguia passar na roleta do ônibus, sofria muito com o calor e até mesmo atividades básicas como caminhar. Foi horrível. O processo foi terrível. Mas hoje me sinto livre, leve e solto. Ter emagrecido mudou a minha autoestima e a minha saúde. Hoje, eu me olho no espelho e consigo me ver e me amar por completo”, diz.
“Ser magro me ajudou, sim, a conseguir mais papeis. Desde que a pessoa tenha uma boa saúde, não vejo motivo para incentivar a obesidade. É um sofrimento sem fim. É importante se aceitar, mas, principalmente, conhecer o próprio corpo, ajustar a alimentação e ter consciência, acima de tudo”, reflete.
Com tantas oportunidades, será que Duio pretende largar a dublagem? “Não! Quero dublar ainda mais e atuar na TV, teatro e cinema. Atuar e cantar são a minha vida. A maior diferença é a exposição. Na dublagem ninguém nos vê, entramos e saímos dos estúdios o dia todo e passamos desapercebidos em todos os lugares. Já na TV, a nossa imagem é completamente exporta”, confessa. “Um dublador é um ator que interpreta com a voz. É muito mais difícil, porque devemos replicar uma interpretação já pronta e que não é nossa. A dublagem acaba deixando o corpo muito travado. Então, estou tendo que desconstruir isso usando o meu corpo ao invés de somente a voz. É um desafio”, garante ele, acrescentando: “Sempre dizem que eu tenho uma voz bonita, mas não é um timbre marcante como o da Miriam Ficher, Monica Rossi, Ricardo Schnetzer e outros dubladores fantásticos”.
Artigos relacionados