Após pedir oportunidade de trabalho em vídeo, Maria Zilda Bethlem diz como tem sido a repercussão e fala em etarismo

*Por Brunna Condini

Afastada do audiovisual desde 2022, quando integrou o elenco da série ‘Pico da Neblina‘, para HBO Max, e longe das novelas, desde 2016, quando esteve em ‘Êta Mundo Bom!’, na Globo, Maria Zilda Bethlem usou seu Instagram para publicar um vídeo em que diz buscar “oportunidades” para voltar a atuar. Em entrevista exclusiva, a atriz que contabiliza mais de 50 anos de carreira, conta como se sente precisando se expor nas redes para pedir trabalho e o feedback recebido.

“Depois da novela ‘Êta Mundo Bom’, eu fiz três séries: ‘Magnífica 70’, para a HBO, em 2018, ‘Chuteira Preta’, para a Amazon Prime Vídeo, em 2019, e ‘Pico da Neblina’ (2019), também para HBO, além de um filme, ‘O Garoto’, rodado em São Paulo. Também em 2019, lancei em várias capitais e em vários programas de televisão, o meu livro, ‘A Caçadora de Amor’. No decorrer do lançamento, veio a pandemia em 2020, e aquele recolhimento que todo mundo teve que fazer. Não bastasse isso, no fim da pandemia, sofri um acidente (doméstico e fraturou a coluna), operei e fiquei mais um bom tempo recolhida, de molho.

Mesmo me recuperando, em 2022, filmei a segunda temporada da série ‘Pico da Neblina’, porque sou disciplinada com as minhas responsabilidades e não deixaria o diretor Fernando Meirelles na mão. Filmei enfaixada, com dores, mas estava lá, cumprindo meu ofício. Daí, depois que fiquei boa de tudo, resolvi passear, viajar, para compensar todo esse tempo em que fiquei parada me cuidando”, divide, e conclui:

Por isso ninguém me viu trabalhando e, agora, estou apenas dizendo que estou pronta, querendo trabalhar. Afinal, os autores, diretores e produtores de elenco não têm como adivinhar isso, podem achar que eu quis me aposentar, o que não é o caso. Quero trabalhar fazendo séries, que adoro, e lógico, também quero voltar ao teatro, onde estreei profissionalmente em 1972 e ao cinema, onde iniciei em 1976 – Maria Zilda Bethlem

Maria Zilda diz por que fez vídeo pedindo oportunidade de trabalho e observa o preconceito com os atores maduros (Reprodução/Instagram)

A atriz, que tem mais de 40 trabalhos entre novelas e séries no audiovisual, 15 filmes, 10 peças, fora os trabalhos como produtora; revela se após o vídeo postado já recebeu alguma proposta de trabalho, e fala como tem sido o retorno. “A repercussão tem sido maravilhosa, com milhares de curtidas em inúmeros perfis do Instagram e uma unanimidade de comentários carinhosos do público que me acompanhou nesses 52 anos de carreira e que estão doidos para me verem atuando novamente”.

Maria Zilda, que em uma live com Lucélia Santos em 2020, durante a pandemia, chegou a dizer que havia desistido das novelas após fazer ‘Êta Mundo Bom!‘, por conta da falta de compromisso de muitos atores novatos, diz se acredita que a falta de oportunidades de trabalho para artistas de sua geração, se deve ao etarismo no país. “Essa desvalorização dos profissionais acima dos 60 anos, infelizmente, é uma coisa que acontece com mais força no Brasil. Nos Estados Unidos, é visível que o mercado de trabalho aos atores experientes é valorizado e reconhecido, estando muitos deles em plena atividade. Como exemplos, a Jane Fonda e a Lily Tomlin que estavam maravilhosas no especial ‘Ladies Night Live’, na Netflix, a Helen Mirren, Robert de Niro, Anthony Hopkins, Clint Eastwood, Morgan Freeman e tantos outros que seguem atuando”. E continua:

No Brasil é que agora se instituiu isso de diminuir a idade dos personagens, daqui a pouco vai ter atriz de 40 anos fazendo a avó de alguém com 20. E é uma pena para a própria obra que está sendo produzida, já que os veteranos trazem uma bagagem e uma experiência aos iniciantes que é importantíssima, afinal, ninguém nasce sabendo- Maria Zilda Bethlem

Maria Zilda em ‘Êta Mundo Bão!’, em 2016 (Reprodução/Globo)

A atriz complementa ainda: “Eu mesma aprendi muito com a experiência dos grandes atores com quem trabalhei no início da minha carreira, tais como Sérgio Britto, Leonardo Villar, Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Glória Menezes, Tônia Carrero, eles sempre em personagens protagonistas e eu bebendo na fonte de seus maravilhosos talentos”.

Maria Zilda Bethlem e Mário Gomes no sucesso ‘Vereda Tropical’, de 1984, disponível no Globoplay (Divulgação/Globo)

Telespectadores de novelas têm reclamado nas redes de algumas das últimas tramas que foram ao ar. Acredita que isso se deve a quê? “Vou repetir as palavras que o José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o gênio Boni, disse recentemente em seu Instagram, justificando a baixa audiência das tramas atuais: “Uma novela, para dar novamente 40 pontos de audiência, precisa de um bom texto, bons atores e bons diretores”. Ele disse tudo”.

Sobre o passar dos anos

Uma das atrizes mais desejadas de sua geração, em uma época que era comum e normalizado uma mulher carregar o rótulo de sex symbol, Maria Zilda diz como tem lidado com o envelhecimento. “Com tranquilidade. No meu caso, os prós são muitos. Eu estou viva, lúcida, falando, andando, rindo, estou com saúde. Sem contar que a experiência de vida nos traz maturidade, a compreensão ao próximo, a compreensão da vida”.

Entre os ‘contras’ de envelhecer, está esse problema do etarismo, onde alguns acham que as pessoas com mais idade são incapazes de exercer suas atividades, e também pelo fato de eu não conseguir mais participar de uma maratona, fazer ginástica olímpica, tampouco salto ornamental (risos) – Maria Zilda Bethlem

“Essa desvalorização dos profissionais acima dos 60 anos, infelizmente, é uma coisa que acontece com mais força no Brasil” (Reprodução/Instagram)

Ao falar de como leva a vida hoje, ela afirma que da forma mais comum possível. “É a vida normal que a maioria das pessoas vive, cuidando da casa, da minha saúde, com exercícios físicos e boa alimentação, como sempre fiz, curtindo meus filhos, minhas netas, bisnetos, amigos, meus gatos e escrevendo muito, que é um hábito que eu adoro”, compartilha.

Nesta retomada à TV, se pudesse escolher, que tipo de papel gostaria de fazer e com que autor amaria trabalhar? “Assisto muitas séries e filmes nos streamings e vejo que têm muitos roteiristas jovens cheios de criatividade e vigor. Se chegar uma personagem que me fascine, escrita lindamente para mim, eu topo na hora. Eu li que a MAX está produzindo novelas mais curtas, com jovens escritores, e que a Netflix também está nesse caminho e é por aí que eu quero seguir. E claro, como já disse, também voltar a fazer cinema”.

“Entre os ‘contras’ de envelhecer, está esse problema do etarismo, onde alguns acham que as pessoas com mais idade são incapazes de exercer suas atividades” (Reprodução/Instagram)