Antropólogo Marcelo Ramos mostra impactos da pandemia de coronavírus nas marcas e nos hábitos de consumo. Vem saber!


A Covid-19 virou do avesso a rotina das pessoas, impondo o isolamento social. Mas como ficam os consumidores e as marcas no meio disso tudo? No programa “Especial coronavírus: comportamento e consumo”, da TV Justiça, Marcelo Ramos comenta uma pesquisa da Kantar que analisa essa relação tão delicada. “É preciso encontrar estratégias para atacar essa situação e seguir em frente”, diz ele

O isolamento social imposto como forma de diminuir os efeitos da pandemia de coronavírus também mexe com a economia. Até tudo isso passar, não dá para bater perna em shopping, caminhar tranquilamente olhando vitrines na rua, ir ao cinema, assistir a uma peça de teatro, ver o show do artista preferido, frequentar bares e restaurantes ou encontrar com amigos e familiares. No programa “Especial coronavírus: comportamento e consumo”, da TV Justiça, o antropólogo Marcelo Ramos comenta uma pesquisa da Kantar, empresa especializada em gestão de investimento de informação, que analisa os impactos da quarentena nas marcas e nos hábitos dos consumidores. “Quando boa parte da população está restrita ao ambiente doméstico, deixa de lado muita coisa que é feita, em termos de consumo, em prol da aparência, para sair em público”, diz ele. “Em compensação, cresce a busca por produtos de saúde, higiene e limpeza, bem como pelo serviço de entrega em casa dos supermercados, por exemplo”, acrescenta.

As compras online também ganham força por causa das restrições de circulação. De acordo com a pesquisa da Kantar, quase 80% dos entrevistados vão à rua somente para o necessário, sendo que 23% deles já estão trabalhando de casa. Marcelo ressalta que a tendência natural é aumentar os pedidos via delivery, bem como o acesso às plataformas, aplicativos e canais de consumo pela internet, forçando a adaptação tanto das empresas quanto dos consumidores. “As marcas precisam se aproximar mais dos compradores por canais que não sejam físicos. Investir nisso é uma estratégia que não fará mal hoje nem no futuro”, garante o antropólogo. “Do lado dos consumidores, quem tinha uma certa resistência aos meios digitais vai precisar se familiarizar com eles e aprender a usá-los”, completa.

Marcelo Ramos faz um alerta: marcas que forem vistas como aproveitadoras neste período de pandemia estarão condenadas (Foto: Arquivo Pessoal)

Na hora dos produtos irem para as mãos dos consumidores é importante garantir a segurança tanto do portador quanto da pessoa que recebe. Ter cuidado redobrado com a higiene e evitar ao máximo o contato físico diminuem as chances de contrair Covid-19. “Qualquer objeto que venha da rua pode ser perigoso para as pessoas que estão em casa, especialmente idosos e quem faz parte de outros grupos de risco. Muitos aplicativos oferecem a opção de não ter contato com o entregador. Não é fácil fazer isso, afinal ele está ali trabalhando, mas acaba sendo um mal necessário”, pondera o antropólogo.

Outro ponto destacado por Marcelo é que a sociedade exige, cada vez mais, coerência entre palavras e ações. Marcas que forem vistas como aproveitadoras neste período de pandemia estarão condenadas. “As empresas devem se preocupar, neste momento, com aquilo que promove inspiração e não apenas aspiração. Devem agir orientadas a valores, especialmente os que surgem com força em meio à crise. Objetividade, consistência e transparência tanto na comunicação quanto no que de fato estão fazendo pelos seus clientes e sociedade e serão bem vistos. É preciso alinhamento entre discurso e prática. Isso diz respeito até ao que ela está fazendo internamente, com os seus próprios funcionários. O momento é de cooperação pelo bem coletivo e as empresas fazem parte disso. É fundamental ir além do discurso, trabalhando sob a lógica da cooperação. Não basta mostrar que está ao lado dos consumidores, tem que dar suporte aos funcionários”, ressalta.

Marcelo acredita que todos precisarão se reinventar de alguma forma depois do coronavírus (Foto: Arquivo Pessoal)

Segundo Marcelo, levantamentos como o da Kantar são estratégicos. Afinal, conhecimento é poder. “As pesquisas acabam revelando aspectos do comportamento dos consumidores que podem ser trabalhados por diferentes áreas. As empresas conseguem se preparar para trocar de estratégia, dando um salto em relação ao que fazem atualmente e conseguindo lidar, de fato, com uma realidade que está por vir. Não podemos precisar as mudanças que acontecerão na vida das pessoas, só sabemos que elas virão”, explica o antropólogo.

Além de analisar a postura dos consumidores, a pesquisa mostra o impacto da pandemia de coronavírus em alguns setores da economia, como o de serviços e o de entretenimento. O campo dos cuidados com a aparência, por exemplo, foi diretamente afetado, porque as pessoas estão ficando mais em casa. “As lavagens de cabelo e o uso produtos de maquiagem diminuíram. A frequência em bares e restaurantes também caiu”, observa Marcelo. “As pessoas vão se resguardar mais e tentar economizar, deixando de gastar com algo que percebem como desnecessário no momento, para que consigam juntar uma reserva, algo que permita enfrentar melhor esse futuro de incertezas”, imagina.

“Não basta a empresa mostrar que está ao lado dos consumidores. Tem de dar suporte aos funcionários” (Foto: Arquivo Pessoal)

Em relação às empresas que oferecem desconto para comprar serviços durante o isolamento social e usar depois, Marcelo considera uma boa estratégia. “Sabemos que, em breve, as pessoas voltarão a esse tipo de consumo. É muito bem visto conseguir descontos, principalmente com as empresas das quais você já era cliente”, afirma. O antropólogo também cita alguns negócios que prosperaram, apesar da quarentena. “O ramo farmacêutico foi o que mais aumentou em termos de vendas, por conta da preocupação com a saúde. O mesmo aconteceu com todas as ofertas de delivery e o consumo de TV”, reconhece.

Marcelo aponta a solidariedade como algo essencial sempre. “Espero que continue permeando a sociedade quando isso acabar”, torce. “Como um efeito rebote dessa situação de crise, vejo muita gente preocupada com o bem-estar coletivo. Essa postura pode nos ajudar, como sociedade, a  enfrentar melhor desafios futuros”, acredita. Para concluir, ele fala da importância de relativizar e desconstruir ideais de felicidade que só causam frustrações. “Que a gente consiga entender que é possível encontrar bem-estar, mesmo sabendo que momentos difíceis e tristezas fazem parte”, aconselha.