Mesmo se declarando como um cara de uma mulher só, Antonio Banderas é sim o Rei da Sedução, como sugere a sua nona fragrância, “King Of Seduction”, produzido pela Puig. O ator está atualmente no Rio de Janeiro para lançar o perfume e uma exposição em parceria com a ONG Spectaculu, de Maris Orth, a qual visitou durante o fim de semana e ficou claramente emocionado com o talento dos jovens e a iniciativa social da atriz. Mas essa não é a primeira vez do astro espanhol em solo carioca, que já coleciona amigos por aqui do naipe de Vik Muniz e Rodrigo Santoro, com os quais se encontrou para uma festa e uma partida descontraída de futebol, respectivamente.
Em um bate papo descontraído no Copacabana Palace, na manhã desta terça-feira (2/6), Banderas mostra que os 54 anos não lhe tiraram o charme. Muito pelo contrário: adicionaram à figura do ator um je ne sais quoi de experiência, que transparece em seu discurso inteligente e observador. Durante a coletiva, ele falou sobre o machismo em Hollywood, a nova onda dos remakes e dos filmes de super-herói, como resistir em um casamento de 20 anos e até sobre sua nova empreitada no mundo da moda. Sim, um dos traços mais vigorosos da personalidade de Antonio Banderas é o carpe diem: aproveitar a vida ao máximo, e isso inclui uma nova jornada na Faculdade St Martin, a mesma que formou nomes como Stella McCartney e Alexander McQueen. Confira:
HT: O que mais te surpreende na hora de desenvolver um novo perfume?
AB: Eu fiquei encantado quando visitei a fábrica da Puig, não muito tempo atrás. Eles conseguem sintetizar coisas incríveis, além das flores, madeiras e frutas com que estamos acostumados. Por exemplo, ganhei uma mala com várias garrafas cujos rótulos estavam no fundo, o que me obrigava a descobrir o aroma sem conseguir ler seu nome. Escolhi um desses frascos e pensei ‘eu conheço esse cheiro!’, mas não consegui nomeá-lo. Era ‘manhã de domingo’! Os odores estão completamente ligados às emoções e há todo esse ar de mistério. O Rio tem um cheiro característico muito forte para quem vem de fora, uma mistura de maresia com natureza. Recentemente, estive na casa de Vik Muniz e, vou dizer, o jardim dele é incrível, com uma vista que dava para uma favela e era linda! Nessa comparação, os jardins europeus são muito entediantes.
HT: Como você consegue manter a sedução aos 54 anos?
AB: Eu sou bastante bom. Por enquanto, está tudo bem, graças a Deus (risos).
HT: Qual a diferença entre seduzir quando se está casado e quando é solteiro?
AB: No meu casamento, eu estava tentando seduzir minha própria esposa e isso não é nada fácil. A maioria das pessoas tenta manter o relacionamento do mesmo jeito durante os primeiros dois anos, mas é preciso cruzar esse túnel e aceitar as mudanças em si e na parceira. Você tem que confrontar a realidade e decidir viver de acordo com aquilo. No próximo dia 8, eu vou a Long Angeles assistir à formatura da minha filha e sei que encontrarei Melanie [Griffith, sua ex-esposa, com quem ficou casado por 18 anos, até 2014]. Nós iremos sorrir um para o outro e sempre nos amar, porque é assim.
HT: Você mudou suas táticas de sedução do início do casamento até os dias de hoje?
AB: Sim, hoje eu sou 20 anos mais velho! (risos) O que ajuda muito é você não estar mais ansioso com tudo. Eu amo flertar, mas não de uma maneira perigosa.
HT: Você já se aventurou por vários negócios como essa linha de perfumes, vinícolas, direção de filmes e teatro. Essa versatilidade é uma característica sua ou algo que aprendeu ao longo da carreira?
AB: Na minha vida toda, eu sempre segui os meus instintos, me movi por impulso. As pessoas diziam ‘você não deveria fazer isso’, mas eu sempre fazia. Sim, eu deveria ouvir, mas nunca fui assim. Há muitos projetos ainda que eu não consegui fazer e pretendo realizá-los até o fim da minha vida. Eu, por exemplo, acabei de me inscrever na Faculdade St. Martin para cursar moda.
HT: O que te levou a essa decisão?
AB: Eu preciso saber dizer o que é bom e o que não é, ter a autoridade de chegar para alguém e falar ‘ isso é ruim por isso e aquilo’. Ainda não comecei o curso, mas já conversei com alguns alunos e professores e tenho uma noção de qual é a base lá. Mas isso também não significa que em dois anos eu estarei em uma passarela apresentando minha coleção. Em Málaga, nós temos o conceito de uma certeza na vida: a morte. Quero morrer sabendo que fiz o que queria e que estive aqui.
HT: Quais estilistas você admira?
AB: Tom Ford, Giorgio Armani e Paul Smith. Há algumas pessoas que são muito boas, mas não para mim. Nos anos 1980, eu usava muito Versace, porque eu era bem louco. Então aquelas cores e cortes combinavam mais comigo. Em Hollywood, é muito fácil você ganhar roupas para um tapete vermelho importante. Muitos designers ligam e dizem ‘quero te vestir’. Aí é só escolher.
HT: O que você gosta de usar e o que você não gosta?
AB: Eu acredito muito nos meus instintos. Amo botas! E não gosto de sandálias, elas me deixam desconfortável e suado. Sapatos são muito importantes para mim, eles me mantêm no chão.
HT: Você já veio ao Rio várias vezes. Existe algum programa que seja obrigatório na sua rota?
AB: Eu estava falando isso agora há pouco! O que eu amaria fazer é vir ao Brasil sem ser a trabalho! Gostaria de pegar um carro e me perder na estrada… Conhecer lugares como Fernando de Noronha – vi umas fotos e aquilo parece o paraíso! -, Florianópolis, Fortaleza, Bahia… Lá parece que tudo é muito real e ouvi falar que o Carnaval deles é muito forte. Seria perfeito: eu poderia usar uma máscara e me fundir à multidão. Gosto muito da energia do país.
HT: Você consegue sair na rua, em qualquer lugar do mundo, sem ser percebido?
AB: É difícil. Às vezes, sinto falta disso, mas depende das circunstâncias. Também não posso reclamar. Quem pode reclamar são as pessoas que trabalham jornadas inimagináveis de trabalho e precisam alimentar seus filhos com um salário baixo.
HT: Qual a sua relação com a idade? Considerando que Hollywood é obcecada pela juventude, isso já te atingiu?
AB: Eu estou como estou e não posso mudar isso. Alguém disse que eu viria para o Brasil fazer cirurgias plásticas, mas isso é mentira. O que nós temos é uma doença de obsessão pela juventude e pela perfeição. Em Hollywood eu vejo muito isso. As pessoas querem ‘carne nova’, então você vê lindas atrizes começarem a perder espaço. Até agora, não tive essa pressão. Se eu me visse diferente no espelho, acho que surtaria.
HT: Existe algum artista/produtor/diretor brasileiro com quem você gostaria de trabalhar?
AB: Eu tenho muito respeito pelo Bruno Barreto [que dirigiu recentemente “Flores Raras”]. Nós quase fizemos um filme juntos há alguns anos e ele é incrível. Eu vejo muitos cineastas na América do Sul com talento, hoje em dia, e esse é um momento ótimo para eles. Hollywood está sendo muito repetitivo, apostando muito em remakes, e todos estão com medo, porque os tempos mudaram, com problemas como a pirataria online, por exemplo. Eles vão fazer até o Batman 15 se precisarem disso para ganhar dinheiro.
Antigamente, os latinos eram obrigados a fazer filmes que falam apenas sobre eles. Hoje, eles fazem produções universais. Veja “Gravidade”, do Alfonso Cuáron, ou [“Birdman”, do Alejandro González] Iñárritu por exemplo: não existe nada de mexicano ali, há não ser o diretor. Quando eu cheguei a Los Angeles, me falaram ‘você só vai servir para fazer papel de vilão e do cara mau, porque são esses os personagens que eles dão para negros e latinos’. Então, eu interpretei um cara que tinha uma máscara, um chapéu, uma espada, um ‘z’… (Risos) E o vilão era um loiro, de olho azul, com o inglês perfeito [vivido pelo ator Stuart Wilson]!
As pessoas não dão muita atenção para isso, mas meu gatinho [o Gato de Botas, personagem da franquia Shrek que ganhou seu próprio filme posteriormente] é culturalmente importante, porque é um produto direcionado a crianças, que ajuda a educá-las, e abriu novos caminhos para os atores latinos.
HT: Você acabou de dizer que as coisas em Hollywood estão mudando. Recentemente, a Salma Hayek estava por lá e comentou sobre como as mulheres recebem menos que os homens pela mesma função. Você acredita que isso também esteja mudando?
AB: Eu concordo com a Salma, mas não, não está mudando. E isso não é nenhuma novidade. Você até vê mulheres ganhando destaque nos filmes, como a Charlize Theron fez agora com “Mad Max”. Mas Hollywood é um lugar muito machista, especialmente em relação ao dinheiro. Ali é tudo sobre filmes. Às vezes surgem algumas obras de arte,mas elas normalmente vêm da cena independente.
HT: Você já tem vários filmes com Pedro Almódovar, o mais recente é “A Pele Que Habito” (2011). Vocês já têm algum projeto novo juntos?
AB: É só ele assoviar que eu vou (risos). Ele tem que saber que você é o cara certo para aquele papel. Meu filme preferido com ele é o último, exatamente por ser o último. Mas eu me lembro quando o Pedro estava começando e fizemos “Labirintos de Paixões” (1982) e foi um escândalo porque tinha um beijo gay. Ninguém ficou preocupado com os assassinatos, apenas com o beijo. Mortes são comuns em filmes, né? Hoje, ele é uma força cultural. Nos anos 1980, lá pelo quinto ou sexto filme, ele já estava tão forte que você via vestidos no tapete vermelho serem descritos como “almodovarianos”. Ele criou uma estética e um impacto cultural.
Cena de Antonio Banderas em “Labirinto da Paixão”, filme dirigido por Pedro Almódovar em 1982
HT: Você costuma assistir a seus filmes antigos? Qual a sua reação em se ver na tela?
AB: Realmente, não consigo assistir. Às vezes vejo na TV, quando estou mudando o canal, mas não consigo tornar aquilo como algo abstrato, porque para mim é como um diário. Sempre me lembro de como foi no dia da filmagem x, o que eu estava fazendo, como a câmera estava posicionada…
HT: Para terminar, seu perfume se chama “Rei da Sedução”. Houve alguma vez em que você tentou seduzir alguém, mas falhou?
AB: Sim, houve um dia em que eu não consegui. Algumas vezes, para ser sincero. Houve um tempo em que o Rei da Sedução era apenas o Embaixador.
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