*Por Brunna Condini
Não tem como nesse Dia das Mães, comemorado no próximo domingo (12), não pensar nas mães e filhos no Rio Grande do Sul. É dilacerante ver o estado tomado pela tragédia, onde, neste momento, só há espaço para celebrar a vida diariamente. A jornalista com passagem pela Globo e que integrou o programa de Fausto Silva e hoje segue uma jornada bonita no Youtube, Anne Lottermann é nossa convidada de hoje da série ‘Tudo o que eu queria te dizer’, que reúne matérias especiais neste mês de maio, homenageando a diversidade de experiências ao maternar. Mãe de Gael, de 11 anos, e Leo, de 9, a jornalista e apresentadora nasceu em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul.
Ela mora atualmente em São Paulo, e fala sobre a família que ainda vive na região, devastada pelas fortes chuvas. “Meu pais ainda moram em Santa Rosa, que também foi atingida, mas com menos intensidade do que a região de Porto Alegre e Canoas. Eles estão bem, não foram afetados diretamente com as chuvas”. Anne tem se engajado nas campanhas para ajudar o estado neste momento, e ao lembrar de suas origens, compartilha lições da mãe, Edi, que faz questão de repassar aos seus filhos. “Ela sempre teve a preocupação de nos ensinar coisas práticas do dia a dia, com cozinhar, lavar, passar e organizar a casa. Hoje ensino para meus filhos o mesmo, porque sei que dá mais liberdade e segurança para eles”. E acrescenta: “Também tem um prato típico do Sul, a galinhada, que meu pai fazia todo sábado em casa, e que hoje faço para os meninos. A comida tem essa função da memória afetiva”.
Anne foi casada com o empresário Flávio Machado por 12 anos. Ele foi vítima de um câncer raro no peritônio e faleceu em 2017, aos 41 anos. Ela tinha 34 anos e de lá pra cá vem fortalecendo ainda mais seus laços com os filhos. A convite do site, a jornalista revisita a sua trajetória de maternidade até aqui. “Sempre imaginei que seria mãe antes dos trinta, mas quanto mais me aproximava da idade, menos me sentia preparada . Quando descobri que estava grávida, aos 28 anos, o medo e a sensação de despreparo desapareceram! Era como se eu tivesse nascido com essa missão: ser mãe. Parecia tão óbvio! Um ano e oito meses depois do nascimento do Gael, engravidei do meu segundo filho, o Leo. Meu marido Flávio Machado queria ter logo dois filhos: “para crescerem juntos e como amigos”, como ele dizia. A minha vida passou a fazer sentido depois que me tornei mãe. Fiquei mais forte, mais determinada, mais focada, mais bonita. Eu brilhava felicidade e gratidão pela vida que eu tinha”, divide.
A maternidade te ensina o que é amor, o que é amar de verdade. Sinto até falta de ar quando falo ou penso sobre isso. Quem é mãe sabe como é essa sensação de amor que te preenche e te sufoca ao mesmo tempo. Ser mãe sempre foi um projeto de vida e dentro de um padrão de família com pai, mãe, dois filhos e, quem sabe, um cachorro. Mas a vida não quis assim. O pior dia da minha vida foi o dia em que tive que falar para os meus filhos: “Filhos, o papai morreu”. Gael tinha 4 anos e, Leo, 2 anos, na época – Anne Lottermann
Aos 40 anos, Anne avalia como a maternidade a transformou. “Tenho certeza que foi ela que me deu de presente a possibilidade de conhecer a melhor versão do ser humano que sou. Ao longo desses anos, não fui apenas a mãe do Gael e do Leo, tive que ser pai, amiga, psicóloga e tantas outras versões que fui descobrindo de mim mesma. Acho que é assim com todas as mães, independente da presença física do pai. Que bom que não existe fórmula certa. Existe a mãe que eu consegui e que consigo ser para os meus filhos, com meus medos, traumas e dúvidas, que são muitas. Mas estou atenta a eles o tempo todo e as respostas vêm no tempo certo. A minha relação com meus filhos sempre foi muito honesta. Eles me conhecem e eu os conheço , sei das necessidades deles e torço para ter saúde tempo suficiente para cuidar e preparar dois homens para o mundo. Afinal, a gente nunca sabe o tempo que nos resta, e por isso tento aproveitar a vida com meus filhos da forma mais saudável e intensa possível. A vida pode acabar, mas o amor, não. Ele fica. É eterno assim como meu amor pelo Gael e Leo. Não desejo ter mais filhos, acredito que minha missão como mãe é apenas com eles”.
‘D’anne-se’
A jornalista gosta do movimento. Não à toa, quando foi para a previsão do tempo no Jornal Nacional, na Globo, trocou o Rio de Janeiro por São Paulo. Depois, mais um desafio, e dessa vez maior, quando trocou o jornalismo pelo entretenimento e foi trabalhar com Fausto Silva. Hoje, os movimentos são mais autônomos, coisa que Anne tem apreciado bem. “Sempre trabalhei muito e, também para ter mais tempo com meus filhos, decidi colocar em prática um desejo antigo meu, de ter um canal no YouTube. Quando o projeto com o Faustão na Band se encerrou, pensei: esse é o momento. E foi assim que criei o D’anne-se. O nome do canal surgiu a partir do meu nome, e de um desejo de não me levar tão a sério, não me cobrar tanto. Hoje eu sei que posso ter credibilidade sorrindo, dando uma gargalhada e falando sobre diversos assuntos que na TV não me sentiria tão à vontade”.
Na atração, a apresentadora só entrevista mulheres, tendo como cenário uma mesa de bar. “Porque é no boteco, que nós, mulheres, encontramos nossas amigas e falamos sobre tudo, e por isso, tudo que envolve o universo feminino vira assunto no canal. Esse programa está me curando. Conheço muitas mulheres e elas estão me ajudando a resgatar o meu lado mais feminino, com doçura e elegância, sem perder a firmeza e a minha credibilidade. Meu objetivo não é levantar bandeiras, mas sim, mulheres, porque graças a elas, consegui me manter de pé ao longo dos últimos anos: agradeço à minha mãe, minha sogra (que virou mãe) e minhas amigas. Como dizem meus filhos: “Você sabia que a mamãe agora é Youtuber?“ Eu estou orgulhosa de mim e eles também!”.
Carta para Gael e Leo
“Meus filhos,
Escrevo essa carta em 2024 e, quando tiverem acesso a ela, quero que saibam que, desde que vocês nasceram, passaram a ser os responsáveis pelos meus dias mais alegres, mais divertidos e inesquecíveis. Um dia vocês irão soltar a minha mão e seguirão a própria jornada, e eu espero ter preparado vocês para esse momento.
Mães nem sempre são perfeitas, vocês também não precisam ser, e, assim como eu tento ser “a melhor mãe”, espero que façam o mesmo: deem sempre o melhor de vocês em tudo.
Não sei qual mundo vão encontrar na vida adulta, mas desejo que nunca se percam de vocês mesmos, e, até nos momentos mais difíceis, consigam olhar para dentro e encontrem a paz que tanto buscamos. Que possam ser quem quiserem, com toda a verdade e coragem.
Acredito que já não lembrem mais dos colos que a gente se deu e das vezes que eu ninei vocês – muitas vezes, nesse embalo, quem ficava mais calma era eu! Obrigada por existirem e por terem me escolhido como mãe!
Por fim, não se esqueçam que eu amo vocês dois, Gael e Leo, mais do que tudo e por toda a eternidade. Nessa vida ou em qualquer outra, estarei por perto. Sim, sou possessiva! Uma típica mãe! (risos)”
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