Amanda Lee mostra na pandemia a verve jornalista: ‘Busquei na dor o combustível pra voltar a me encontrar’


A atriz comenta sobre colegas que defendem a neutralidade diante do que está acontecendo no país:’ A neutralidade não cabe diante de tantas vidas que estamos perdendo pelo negacionismo. Estamos falando de vidas”. Ela lamenta a morte por Covid da ‘madrinha’ Nicette Bruno, e diz que está acompanhando o estado de saúde de uma tia que contraiu o novo coronavírus. E recorda o trajeto que vem fazendo há dois anos, de fortalecimento e resgaste da autoestima. “Comecei a engordar após a primeira gestação. Foi quando tive que me encarar no espelho e entender quem estava ali. Não me reconhecia. As pessoas que me conheciam do trabalho muitas vezes não me reconheciam nos lugares. Comecei a me incomodar por que não cabia nas minhas roupas. E tive que me encarar e mudar o que estava me incomodando. O Nalbert foi muito importante nesse período, me pegou pela mão e seguiu junto comigo, me ajudou muito. Eu virei um corpo na internet. Só falavam de mim na praia, sobre o quanto tinha engordado, como tinha mudado … aquilo me deixava triste, mas me alimentou também. Ninguém podia fazer nada senão eu mesma”

Amanda Lee mostra na pandemia a verve jornalista: "Busquei na dor o combustível pra voltar a me encontrar'

*Por Brunna Condini

Há pouco mais de um ano, desde o início da pandemia da Covid-19 a atriz e triatleta Amanda Lee tem encontrado nos bates papos no Instagram – as lives que realiza sempre às quartas-feiras – o combustível que vem ressignificando sua jornada de autoconhecimento e estudo no período. Amanda vem exercendo sua versão entrevistadora, com as aptidões aprendidas na faculdade de Jornalismo, que fez após cursar Artes Cênicas. “Sempre gostei de um bom papo. Adoraria ter um programa exatamente nesse formato que faço com as lives. Quem sabe? Adoraria!”, revela. “Sou uma atriz com várias vertentes. Durante esta pandemia pude estudar muito, fazer cursos onde me permiti entrar mais em contato com a minha atriz, me aprofundar em novas técnicas, voltar a estudar espanhol, ensaiar novos textos, novas personagens, me permiti esse momento de estudo intenso. Resgatei minha essência na arte e a comunicação faz parte dela também”.

“Sempre gostei de um bom papo. Adoraria ter um programa exatamente nesse formato que faço com as lives. Quem sabe?" (Foto: Cristiano Juruna)

“Sempre gostei de um bom papo. Adoraria ter um programa exatamente nesse formato que faço com as lives. Quem sabe?” (Foto: Cristiano Juruna)

Já foram mais de 60 conversas e Amanda até estruturou uma equipe que elege suas pautas e sugere convidados. Ou seja: o que começou como uma troca despretensiosa vem tomando um tamanho que pode até levá-la a passos maiores. “Tenho uma equipe formada pelo Marcio Damasceno, Valmir Moratelli, Caio Leitão e Manu Carvalho e, sem eles, nada disso seria possível. Temos reunião regularmente e fechamos sempre por blocos. Junho é o mês da música e julho será o do esporte, por exemplo. Muito papo bom está por vir”, anuncia.

“As entrevistas foram a forma que encontrei de me comunicar nesse período tão adverso que todos estamos passando. Aprendi a dialogar mais,  a ouvir o outro, a entender os pontos de vista. E também a poder dar voz a temas que muitas vezes são tabus, que muitas vezes temos medo de falar. Tudo isso tem sido um crescimento e tanto”.

Já conversaram com Amanda nomes como Luiza Brunet, Luana Piovani, Tadeu Schmidt, Nicette Bruno (1933-2020) e Beth Goulart. Ao falar sobre os convidados, ela, inclusive, lamenta a perda de Nicette, sua madrinha artística, em dezembro passado, para a Covid, aos 87 anos. “A conheci fazendo o ‘Sítio do Pica Pau Amarelo’ (2003), fui adotada por ela. Logo depois, veio o Paulo (Goulart) em’ Um Só Coração'(2004), desde então nunca mais saíram da minha vida! Veio a Beth Goulart , anos comigo na mesma emissora (Record), vários trabalhos juntas”, diz. “Nicette e muitas pessoas se foram por causa dessa pandemia. Fora as pessoas que ficaram internadas entre a vida e a morte e com sequelas. Minha tia Ana é uma delas! E me pergunto, se tivéssemos a vacina mais cedo, isso tudo não seria evitado? Todos que se foram são amores de alguém. Não é possível que vidas não importem!”.

Você é uma atriz que se posiciona. O que acha de artistas que defendem a neutralidade diante do que está acontecendo no país, com a má condução da política brasileira de combate à pandemia? “Todo artista se expressa através da sua arte e fazê-la já é um ato político de resistência muito grande. Nos dias de hoje ainda mais. Todos nós precisamos de arte. Ela cura tanto a nós artistas, quanto a quem a consome. E nesse momento tão adverso, o que tem para alegrar os corações das pessoas? Arte! A neutralidade não cabe diante de tantas vidas que estamos perdendo pelo negacionismo. Estamos falando de vidas, não de números. Estamos falando da dor de milhares de famílias”.

A neutralidade não cabe diante de tantas vidas que estamos perdendo pelo negacionismo. Estamos falando de vidas, não de números. Estamos falando da dor de milhares de famílias” (Foto: Cristiano Juruna)

A neutralidade não cabe diante de tantas vidas que estamos perdendo. Estamos falando da dor de milhares de famílias” (Foto: Cristiano Juruna)

 “Eu costumo dizer que não tenho corrupto de estimação! O meu lado é o lado da ciência, da humanidade, do meio ambiente, do saneamento básico, da equidade feminina, do bem-estar, do meio ambiente, do coletivo, do bom senso e da esperança que esse mundo melhore! Não me sinto representada pelo que vejo hoje em dia! Uma pena que em se tratando de política, tudo acabe em pizza nesse país. A velha política predomina. Uma pena!”

‘Vício’ em endorfina

Há dois anos, Amanda entrou em um processo para emagrecer quase 30kg. A atriz ganhou peso nas gestações dos filhos, Rafaela, 11, e Vitor, 8. E também, por conta de uma personagem que pedia este tipo de physique du role. O que ficou na lembrança deste período de  transição de hábitos? “Tive um período da minha vida que significou muito para minha mudança como mulher, necessário para o meu amadurecimento, que foi a maternidade. Ela veio como um furacão que mudou minha vida de ponta cabeça. Num susto delicioso. Mas antes disso tudo, já tinha minha saúde como prioridade, são valores que trago da educação que minha mãe me deu. Na minha primeira gravidez engordei 25kg, mas não percebia durante a gestação, estava em um momento tão sublime, que a estética passou para o segundo plano, me permiti fazer coisas que nunca tinha feito antes, relaxei, apesar de fazer tudo com acompanhamento médico. Os desejos eram muito diferentes dos meus hábitos diários, como por exemplo, comer mamão com cheeseburguer, suco de coco com água de coco batido, açaí … nunca curti muito mamão, mas comia várias vezes ao dia, vai entender!”, recorda.

Amanda Lee com os filha Rafaela e o filho Vitor, frutos da sua união com o jogador Nalbert (Reprodução Instagram)

Amanda Lee com os filha Rafaela e o filho Vitor, frutos da sua união com o jogador Nalbert (Reprodução Instagram)

“E assim foi indo, tive muito sono e cansaço, e claro, muita fome também. Pensei comigo: “será fácil voltar”. Fiz amamentação exclusiva, a Rafa nunca usou mamadeira ou qualquer outro tipo de leite até completar um ano de idade, quando ela mesma não quis mais o meu peito. Eu chorei uma semana. Foi quando tive que me encarar no espelho e entender quem estava ali. Não me reconhecia. As pessoas que me conheciam do trabalho muitas vezes não me reconheciam nos lugares. Comecei a me incomodar, porque não cabia nas minhas roupas. E tive que me encarar e mudar o que estava me incomodando. O Nalbert foi muito importante nesse período, me pegou pela mão e seguiu junto comigo, me ajudou muito. Eu virei um corpo na internet. Só falavam de mim na praia, sobre o quanto tinha engordado, como tinha mudado … aquilo me deixava triste, mas me alimentou também. Ninguém podia fazer nada senão eu mesma”.

"Busquei na dor o combustível pra voltar a me encontrar. Lembrava a cada dia como a endorfina da atividade física me fazia bem e assim sigo!” (Foto: Cristiano Juruna)

“Busquei na dor o combustível pra voltar a me encontrar. Lembrava a cada dia como a endorfina da atividade física me fazia bem e assim sigo!” (Foto: Cristiano Juruna)

A carioca de 42 anos compartilha seu caminho de volta: “Voltei a malhar, fiz dieta e foquei no que eu queria. No meio do processo me veio o convite de fazer uma personagem em que tive que engordar os 12kg que havia eliminado. Procurei um médico que me acompanhou a novela toda, pois precisei emagrecer tudo novamente durante a novela. Veio a segunda gravidez ao final da novela, ainda com uns 10kg acima. Pensei: “Depois eu volto”. E assim foi, um ano após o nascimento do Vitor, voltei com gás total de recuperar a Amanda que eu queria, ela não estava nas revistas, nos sites de fofoca, nas fotos publicadas, estava dentro de mim. Não foi fácil, foi árduo, muitas vezes chorei sozinha, mas busquei na dor o combustível pra voltar a me encontrar. Lembrava a cada dia como a endorfina da atividade física me fazia bem e assim sigo!”.

O que você falaria para quem ganhou muito peso e está deprimido com isso, sem ânimo para trilhar esse caminho de volta? “Que todos temos uma força oculta para realizar o que queremos e essa força não está fora. Assuma um compromisso com você diariamente. Sabe aquele dia que você não está com vontade de malhar, de fazer sua atividade física? Vá assim mesmo, isso se chama disciplina! A endorfina cura tudo, insista que o resultado virá!”.

"É importante ser acolhedor consigo mesmo, tendo carinho e cuidado com a nossa 'casa' e esse cuidado começa cuidando da mente" (Foto: Cristiano Juruna)

“É importante ser acolhedor consigo mesmo, tendo carinho e cuidado com a nossa ‘casa’ e esse cuidado começa cuidando da mente” (Foto: Cristiano Juruna)

E salienta: “É importante ser acolhedor consigo mesmo, tendo carinho e cuidado com a nossa ‘casa’ e esse cuidado começa cuidando da mente, tudo está interligado, se estamos em desequilíbrio não tem como ter autoestima elevada e autocuidado. Corpo são, mente sã!”.

Amanda faz questão de exaltar a parceria que teve com o marido ao longo desta jornada. “Sem ele seria muito pior. Ele me pegou pela mão e seguiu comigo. Nalbert para mim é um exemplo de superação diária. Me ajudou muito. O amor e a atenção são armas poderosas em qualquer processo”. E completa sobre a parceria dos dois: “Já são 12 anos juntos. Foi um encontro de almas, desde o primeiro dia em que nos conhecemos. Fazemos muitos planos e sempre juntos. Ele é meu companheiro dessa vida, temos uma ligação eterna. Admiro o caráter dele, a determinação, a inteligência emocional que ele tem para resolver os problemas que aparecem. Ele me ensina a cada dia. Também admiro o paizão, marido e amigo que ele é!”.

Nalbert e Amanda: "Já são 12 anos juntos. Foi um encontro de almas, desde o primeiro dia em que nos conhecemos" (Reprodução Instagram)

Nalbert e Amanda: “Já são 12 anos juntos. Foi um encontro de almas, desde o primeiro dia em que nos conhecemos” (Reprodução Instagram)

Sobre o Dia dos Namorados celebrado neste sábado (12), ela diz: “Sempre comemoramos só nós dois. Geralmente saímos para jantar, quando dava, viajávamos, mas tiramos esse dia para nós! Mas com essa pandemia, será mesmo um jantar a dois em casa!”.