* Por Carlos Lima Costa
Por ser bastante caseiro, o ator, autor e diretor Aloisio de Abreu faz parte da turma que tem lidado com serenidade com a questão do distanciamento social desde o início da pandemia do Covid-19. “O que mais senti falta foi de fazer uma atividade física. Não consigo malhar em casa. Gosto de caminhar, tinha um personal, mas parei tudo, fiquei enfiado dentro de casa e superdisciplinado.” Mas não conseguiu evitar passar por momentos de angústia por conta da disseminação da doença no país e pela forma como o governo vem lidando com essa questão. “Temos que ter paciência e resiliência. E, em relação ao novo coronavírus, claro que tive e tenho medo, pois é uma doença aleatória. É uma loucura. Ela afeta as pessoas de forma completamente diferente. De repente, uma pessoa saudável morre e outra, que tem problemas, acaba ficando boa”, reflete.
Trancado em casa, nesse período, aproveitou para exercitar ainda mais o que sempre mais amou realizar. “Sou criador compulsivo, não consigo ficar parado. Já escrevi roteiro para cinema, teatro e muito mais”, conta, sem saber, é claro, quando esses textos poderão ser transformados em filmes ou montagens teatrais.
Além da escrita, cozinhar também tem sido uma terapia e distração para lidar bem com o tempo. “Tenho aprimorado meus dotes. Nada sofisticado, faço pratos básicos como empadão de frango, arroz e feijão bem temperado, frango ensopado com batata. O negócio é a mão de quem faz. Sou daquele tipo para casar e formar família”, explica, às gargalhadas, ele que não tinha com quem compartilhar seus quitutes.
Quando a pandemia teve início no Brasil há um ano, Aloisio, que mora sozinho, estava solteiro. E assim prossegue. “Estou eu e Deus, mas super bem resolvido. Tenho cartela de amigos, nos falamos muito pelo telefone. Agora, penso em sexo 24 horas por dia, mas tranquilo. Não tenho temperamento de sair pegando. A última vez que aconteceu algo presencial foi três dias antes de ser decretado o lockdown”, lembra.
Nestes 12 meses de pandemia, Aloisio passou por um momento de tensão por conta de uma flexibilizada no final de 2020. “Só uso máscara cirúrgica, morro de medo de pegar a doença, mas fiz uma reunião de Réveillon, com 10 pessoas aqui em casa. Achei ousado, mas todos fizeram testes. Todo mundo estava ok. Só que 15 dias depois, uma sobrinha testou positivo. Somente ela e mais ninguém. Fiz, então, o PCR e não foi detectado o vírus, não tive nada. Então, vou continuar com o bom senso, sem facilitar. Meu pai sempre falava: ‘não dê chance ao azar’. Agora, estou chumbado no sofá, espero não ter a doença”, frisa.
Mas ainda ansioso com relação ao fim dessa tragédia social. “Acho que vamos entrar em 2022 com esse problema. Ainda vai demorar para que todos sejam vacinados. Nem sei o que esperar, pois tudo é uma incógnita. Nunca pensei que fosse passar por algo assim de ter que ficar trancado em casa, cheio de protocolos, com esse mundo de cabeça para baixo. Acho que quando tudo isso terminar vai ser uma festa louca no planeta e que o mundo não vai dormir durante cinco dias. Por enquanto, sigamos resilientes”, comenta. Aloisio lembra ainda que dois sobrinhos testaram positivo para Covid-19, mas ficaram assintomáticos.
Quando a pandemia começou, estava em cartaz o monólogo O Diabo em Mrs. Davis, dirigido por ele, com Andrea Dantas interpretando a atriz hollywoodiana Bette Davis (1908-1989), nos 30 anos da morte da estrela eternizada em filmes como A Malvada. E, como ator, em 2020, ele faria pequenas temporadas da peça O Amor Em Tempos de Bossa Nova, encenada em 2019, sob a direção de Walter Lima Junior. Mas tudo foi cancelado. Tinha ainda um monólogo como autor e uma outra peça para encenar, mas os projetos foram interrompidos.
Como tantos outros artistas, acabou se voltando para a internet. Em seu Instagram, começou a apresentar, como ele diz, “versões demoníacas” de clássicos da MPB. Dona, hit do Roupa Nova, por exemplo, virou Corona. Foram várias versões irreverentes entre maio e julho. Desde então, há oito meses, tem participado do Papo na Rede, lives no perfil da jornalista Anna Ramalho com Gilda Mattoso, a quem havia dirigido, em 2019, no talk show Assessora de Encrenca.
Com vários trabalhos de humor no currículo, Aloisio faz uma análise de como vê essa vertente no Brasil atualmente. “O humor envelhece e muda rápido. O Brasil tem tradição de humor personalíssimo de ator com personagem forte de bordão que vem do rádio. Me lembro de programas antigos de esquete também na TV como o Faça Humor, Não Faça Guerra. E vejo ainda o nicho de humor popularesco, A Praça É Nossa. Mas temos a Tatá Werneck e o Porta dos Fundos que vieram com um frescor, trazendo linguagem moderna, fragmentada que tem a ver com a internet, piadas inteligentes e o politicamente correto veio dar situada que o mundo mudou. Sou de uma geração que ainda não tinha isso. No espetáculo Subversões fiz humor sobre negro, homossexual, com certas versões que eu fico corado de contar. Hoje, não faz sentido”, reflete.
E Aloisio aponta quem o faz rir atualmente? “Acho graça do Paulo Gustavo. É um comediante raro, principalmente quando interpreta mulher. Morro de rir também da Tatá Werneck, uma comediante sui generis, rápida, maluca. Mônica Martelli, Marcelo Adnet e Gregório Duvivier e dos antigos, Ney Latorraca e Claudia Jimenez são gênios. E eu amava a Márcia Cabrita (1964-2017)”, analisa citando a antiga companheira de trabalho. Com ela e Luiz Salém, Aloisio participou de seis montagens de Subversões, espetáculo teatral de grande sucesso que surgiu na cena underground, em 1990. E entre as várias subversões musicais de grande sucesso marcou Meu Nome É Creuza paródia do megassucesso na voz da cantora Rosana, O Amor E O Poder. Aloisio, que fez sua estreia profissional como ator, em 1993, com a peça PRK a Mil, tem uma carreira marcada pela autoria. Na TV, por exemplo, escreveu para o seriado A Diarista, enquanto no teatro é dele peças como Primeiro de Abreu e Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz.
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