*Por Brunna Condini
Adriane Galisteu acredita que nada mais será como antes. A começar pela sua celebração de aniversário. A atriz e apresentadora completou 47 anos neste sábado e comemorou em quarentena ao lado do marido, Alexandre Iódice, e do filho, Vittorio, de 9 anos. “Falei com a família por vídeoconferência. E tem uma amiga minha que faz um bolo que amo, de frutas vermelhas”, conta. Ela revela também os desejos que gostaria que fossem atendidos pelos céus: “Adoraria acordar um dia e ver o governador e o presidente falando a mesma língua, por exemplo, e também saber foi encontrada a cura do Coronavírus”.
Em papo exclusivo ao site, Adriane fala da realidade do isolamento e dos altos e baixos na incerteza dos dias. E também, das lives que têm feito sucesso na internet, e dos vídeos em que divide a quarentena com seguidores no seu canal do YouTube. Além de reafirmar a vontade de ter mais um filho e de dividir como está se reinventando com tudo que tem aprendido.
Estão há quanto tempo em casa? “Mais de um mês. Saímos muito pouco e só para mercado e farmácia, quando necessário. Também compro alimentos para minha mãe, que está isolada”, conta. E fala da saudade que sente de dona Emma: “É imensa. Saudade do colo, de abraçar. Essa semana fui levá-la para tomar a vacina da gripe, com todos os cuidados de distanciamento e proteção necessários. Mas é estranho ter que ficar longe para proteger quem você ama. Falo com minha mãe todos os dias, ela também está angustiada, como todos nós. Estamos tendo uma experiência goela abaixo. Mas falo para agradecermos, porque temos como ficar em casa, confortáveis. Estamos vendo uma cena dura, de gente que não pode cumprir a quarentena, passando necessidades”.
Fazendo lives diárias no Instagram para seus seguidores, a apresentadora que realizou a primeira temporada, com 13 episódios, do Table Top, atração em que trazia rodas de entrevistas e debates na sua página no Facebook, comenta que tem sido alimentada por essas trocas nas redes. “É um momento de abrir os olhos, ajudar. Fizemos uma pesquisa para o Table Top, e a palavra mais falada em 2019 foi empatia. Fiquei pensando, que este ano precisamos colocar a palavra em prática mais do que nunca”, reflete a loura. “Tenho tentado ver o lado bom das coisas, mesmo com as fichas caindo diariamente, com tudo tão obscuro”.
Adriane que é “bem ariana”, ou seja, cheia de energia e muito ativa, afirma que um dos desafios da reclusão é lidar com a ansiedade. “Se tem uma coisa que me assusta é lidar com isso, causa angústia. Preencho meu tempo, estou aprendendo a desacelerar, criei uma rotina diária de segunda a sexta. E sábado e domingo também faço lives. O que pensando aqui agora, não faz muita diferença, porque para quem está em quarentena todos os dias parecem iguais”, conclui, bem-humorada.
“Tenho feito meus exercícios. Têm dias que faço bem, dias mal. Hoje queria parar o tempo todo. Na verdade, estamos lutando conosco. Faço meu esporte para começar minha rotina de faxina, comida, fazer tarefa com Vittorio. Sempre aconselho quem vem falar comigo que faça alguma atividade, por mais difícil que possa parecer no isolamento. Suba e desça escadas, se não tiver pesos em casa, pega um saco de arroz. Não é fácil, você tem tudo para desistir, porque está em casa. Eu mesma, às vezes desando a comer, chorar”.
No caminho, muito autoconhecimento. E também muitas “primeiras vezes”. “Estou aprendendo a lidar com essa história de meditação, boto no YouTube. O Alexandre faz yoga e meditação. Também tem o seguinte, alguns dias me permito não fazer nada, o que para mim é difícil, mas tenho me permitido esses rompantes, o fora do comum”, admite. “E tenho rezado muito. Sou católica, mas não sou aquela que frequenta a missa, tenho minha fé. Na verdade, busco um caminho de conversar e me acalmar. Mandar a energia para o universo”.
O que mais assusta de tudo o que estamos vivendo? “É não saber como vai acabar. Ninguém sabe, ninguém sabe lidar com esse inimigo invisível. Tem gente que se salva, mais nova ou mais velha, tem gente que morre. É um inimigo esquisito. Não sei lidar com o que não conheço. Mesmo no pior cenário, quando ele é claro, me sinto melhor. Gosto da questão mais clara, o obscuro me incomoda”, analisa Galisteu. “O pior mesmo tem sido ficar longe de quem amamos. Está muito difícil. Até porque o ser humano se acalenta com o outro, é importante ter um colo. Aqui em casa temos ficado muito juntos”.
Apesar dos medos que rondam, ela tem buscado manter a saúde emocional e o olhar positivo. “Não podemos mesmo esquecer que somos privilegiados e temos que ser generosos com os outros. A troca é o que vai valer, ficar. Exponho meus medos, dúvidas e recebo também. Depois dessa pandemia, percebemos que nos preocupamos demais com o que não precisaríamos. Acredito muito nisso. Sou uma outra Adriane neste momento. Nós todos vamos mudar o jeito de consumir, de nos relacionar, e de valorizar as coisas. Antes tínhamos as pessoas, mas não tínhamos tempo. Agora temos o tempo e estamos afastados das pessoas. É para refletir”.
Que transformações deseja manter? “Gostaria de não perder mais a mão. Pretendo fazer tudo ao seu tempo. Tenho tendência de querer fazer coisas ao mesmo tempo, corrida, com ansiedade. Estou aprendendo a lidar com o tempo no seu tempo. Dormir cedo acordar cedo”, revela. “Sempre valorizei, mas estou valorizando ainda mais as pessoas que trabalham conosco. Estou pagando todo mundo, mesmo sem receber. Se Deus quiser vou conseguir continuar fazendo. E também nunca fomos tão próximos Alê, Vittorio e eu. Tem arranca rabo, pelo excesso de convivência, mas os momentos bons são a maioria”.
Adriane comenta ainda sobre um sonho antigo. “Na quarentena seria um bom momento para tentar outro filho, não é? Mas com tantos acontecimentos não estamos nos melhores momentos de namoro”, brinca. “É uma vontade. Mas pelo que entendi, naturalmente não deve rolar. Eu adotaria, mas para o Alê ainda é uma questão, e essa não é uma decisão unilateral. Também nem sabemos como ficará o mundo daqui para frente, depois dessa pandemia. Por hora é tentar manter a calma e esperar”.
Você e Alexandre estão juntos há 10 anos. Como está essa convivência? “Descobri que casei certo. Temos nos relacionado bem, temos admiração. E tem a questão de torcer um pelo outro, também trabalhamos juntos. Toda parte de produtos licenciados é com ele, misturamos o pessoal e profissional. Acho que nessa quarentena ou admiramos mais quem está ao nosso lado ou saímos odiando. E tenho admirado ainda mais. Temos experimentado dores que nunca tivemos antes, mas nos mantemos unidos. Juntos, mas mantendo nossas atividades. Não ficamos grudados, o ócio, a solidão de cada um é importante”.
A espera tem sido mesmo a ação de ordem no momento. Nascida em São Paulo, a atriz e apresentadora, que iniciou a carreira ainda criança, sempre soube que desejava trabalhar na televisão. Comunicadora nata, Galisteu não sabe muito o que esperar do futuro, e dos planos adiados. “Sigo falando dos meus parceiros profissionais, mas os contratos estão parados. Tem uma crise real a caminho. Depois da saúde, virá a econômica. Vem um turbilhão por aí, temos que ir devagar”. E acrescenta: “As lives têm sido uma alegria no meio disso tudo, algo bom para mim e para quem assiste, troca. É despretensioso, um bate papo. Hoje vou fazer uma às 18h com o Daniel Alves, que está lidando com a quarentena de um jeito muito leve, e ao mesmo tempo tem uma cabeça legal, solidária. Ele veio do nada, vende e empresta solidariedade, e quando fala sério, é para valer. Quero saber de onde vem esse jeito”, anuncia a apresentadora
Adriane vai de temas sérios aos corriqueiros nos vídeos que compartilha com o público. E com essa humanidade exposta, que já era uma prática na sua comunicação com os seguidores, longe da aura de glamour que envolve a vida artística, a loira segue se reinventando. Nesta semana, comentando sobre vaidade em tempos de quarentena com Carolina Ferraz, falou também de depilação e afins. “Carolina é franca como eu e minha vizinha, moramos a 200 metros. Essas questões parecem fúteis e podem até ser diante de tudo que vivemos, mas fazem parte do dia a dia. Claro que pensamos em como lidar com isso, principalmente mulheres, então porque não falar? Minha unha está péssima, não sei fazer. O cabelo, comprei aquelas tinturas na farmácia e cobri os brancos. Mas depilação, não sei como vai ser, não quero passar a lâmina, então devo virar aquela mulher do parque de diversões: a conga”, diverte-se.
E salienta: “É tudo muito sério, então precisamos buscar momentos de leveza, para aguentar. Tudo vai ter que esperar, não temos noção de quando tudo isso vai terminar, é um dia de cada vez. No meu aniversário, eu quero agradecer. E também pensar em comemorar depois, uma nova data de aniversário pós isolamento. Acho que mereço, não é? Aliás, todos que fizeram aniversário em isolamento merecem.Vamos pensar em renascer depois disso tudo”.
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