Como em toda edição, HT estabelece sua top 10 list – para o bem ou para o mal – de curiosidades que prevaleceram de alguma forma na São Paulo Fashion Week. Obviamente, seria natural de se esperar que, durante cinco dias do evento, da manhã até o último desfile, os olhos de hárpia da equipe (treinadíssimos!) observassem tudo e todos e, assim, relacionasse aquilo que merece ficar para a posteridade. E, do alto da experiência jornalística, que fique claro: aquele não que não gostar tem todo o direito de incorporar o faraó e apagar o registro desse obelisco digital, como qualquer Akenathon faria. Voilà!
1) Ambientação do evento: o tema da Bauhaus, a escola de design, artes plásticas e arquitetura de vanguarda alemã, criada na República de Weimar 1919 por Walter Gropius, durou pouco, sendo fechada em 1933 por Hitler, que tinha planos muito mais excêntricos para determinar a estética global, praticamente tomado por um espírito megalômano de diva queen. Divine perde. Mas, apesar disso, a herança deixada pelo movimento foi inegável e até hoje influencia o mundo. Agora, mais do que nunca, foi tema para a decoração da 38ª edição da maior semana de moda da América Latina. Maravilha, ponto para a organização do evento. Afinal, a limpeza de traços e aquelas linhas, em preto-magenta-cian-e-amarelo (CMYK, em linguagem de produção gráfica) e embalando toda a tenda no Parque Cândido Portinari, estavam incríveis mesmo.
2) Paellas Pepe: entre os inúmeros food trucks da praça de alimentação, sobressaiu o de gastronomia espanhola do restaurante fundado por Pepe. Quem?!? É Fabio Benedetti, neto do tal Pepe e primo de Mario Benedetti, seu sócio, quem recebe HT e conta a história: tudo começou com seu avô materno, nascido na Almeria, Sul da Espanha. Sua receita de paella, uma patrimônio familiar, virou lenda no bairro paulistano do Ipiranga e atravessa até hoje gerações. Do restaurante localizado no mesmo bairro, agora alcança mais gente através do trailer, quase uma versão culinária da Mistery Machine, a van do Scooby Doo e sua turma. Faz sentido. Afinal, o savoir faire passa de pai para filho sem que ninguém consiga descobrir exatamente como é feito o tal quitute. Mistéeeeerio, portanto. De qualquer forma, seguem os ingredientes: camarões, mexilhões, lula, frango, legumes, arroz, tudo com temperinhos importados e muito açafrão. Hum…
3) Marujos do amor: o fabuloso desfile da coleção-cápsula da Versace para a fast fashion Riachuelo deu o que falar. Roupa bacana com o espírito da grife, evento bafo, a praticidade da pop up store para pré-compras montada no badalo e a presença magnética de Donatella que, independente da body modification, sabe mostrar a que veio. Mas, entre todos os atrativos, 28 motivos foram suficientes para deixar os convidados em polvorosa: modelos masculinos, vestidos de marinheiros e com os músculos em riste pintaram os canecos, servindo de escada para as top models, andando de carrinho bate-bate, dançando no queijo, fazendo piruetas no mastro do pole dance e ainda oferecendo pipoca e comandando as barraquinhas de parque de diversão, tipo acertar a bola na latinha. Aliás, bola mesmo eram eles, que bateram um bolão. Moda é fetiche, meu bem! Confira.
4) Pistola Magnum: a Kibon sacou sua arma do coldre e acertou em cheio a turma fashionista, fazendo a melhor ação de marketing na SPFW, desde aquela em que a Chilli Beans pôs uma maquininha de óculos que permitia ao jornalista escolher o modelo após um teste virtual, há alguns anos atrás. Explica-se: para lançar o novo Magnum Caramelo, a marca pôs quiosque grátis dentro da sala de imprensa – com direito a farta reposição – e ainda posicionou estrategicamente uma barraquinha com design premium no corredor central do evento. Traduzindo: semana de detox absoluto para perder as calorias adquiridas, na base do suco de pepino com maçã. E, apesar do lançamento do sabor caramelo, vale destacar que o Magnum de frutas vermelhas com cobertura de chocolate branco é campeão!
Paralelo a essa Festa de Babette dos sorvetes, a água de coco Obrigado! hidratou a turma que dá a notícia em primeira mão, equilibrando sais e salvando todos da junkie food desenfreada.
5) Excentricidades pop up store dignas de Liberace: dessa vez, a lojinha temporária que oferece achados imperdíveis, na área de convivência do evento, se superou! Sai de cena a toy art que comparece há anos e, entre tantos objetos do desejo, sobressaem os relicários-luminárias de unicórnio (para as meninas-moças que amam Katy Perry e não esquecem meu querido pônei jamais; entre R$260 a R$580, da Santa Graça, www.santgracastg.com.br), as caveiras facetadas em alumínio, R$240, cada, fabricante desconhecido), os potes de comida para cachorro em porcelana pintada à mão (só faltam ser Limoges, darling! R$104, o pequeno, e R$184, o grande, da 4 x Wipfili) – perfeitos para levantar a estima daqueles poodles, yorkshires e bichon frisés que sofrem bullying de Dobermans e Pit Bulls – e, ainda, as Pantone glass christmas balls (R$65, cada) – ideais para designers que querem impressionar as amigas ou não aguentam mais aqueles itens made in China que assolam a 25 de Março e as Lojas Americanas nessa época. Enquanto isso, continua o racionamento de água…
6) Lucas Silveira, do Fresno: O rapaz causou furor entre os modernos no desfile da Amapô, fazendo mais sucesso que a modelada. Depois do catwalk, na área de convivência, o moço contou para o HT: “Estamos gravando o DVD de 15 anos da banda e a Pitty (Tagliani), dona da marca, é amiga e esteve lá no estúdio, aí me convidou para subir na passarela. Foi só um pulinho”. E, na maior modéstia, completa: “Nem sou modelo, quem sou eu para competir”. Okay, modesto…
7) o Painel de LED no estande da Make B. e o corner montado pela marca para embelezar jornalistas cansados de guerra, dentro da sala de imprensa: em uma edição que primava pelo minimalismo Bauhaus, o imenso painel de LED no enorme estande da marca equivaleu à Carmen Miranda saracoteando e cantando “Tico-tico no Fubá” em um filme de Lars Von Trier na fase do Dogma. Okay. Mas quem negaria que esse recurso tecnológico todo não era bonito de se ver, de longe, ou que as maquiadoras da grife de cosméticos não prestaram um grande favor aos profissionais que, de tanto virar noite cobrindo tantos desfiles por dia, corriam o risco de ficar com olheiras no pé? Palmas também para as massagistas da sala de imprensa convocadas pela Sky, que detonavam qualquer nódulo na cervical na base de um amaciamento mais poderoso que golpe de Chuck Norris. HT testou e aprovou.
8) Mimos lúdico-alucinantes: em uma época em que o dinheiro desapareceu do país e foi parar em paraísos fiscais, os brindes viraram ecos de um passado distante, causando boa impressão o calhamaço ofertado pela Triton com a versão romanceada dos episódios IV, v e VI de “Star Wars”, adequadíssimo para os vips com verve nerd ou para fazer a fina com aquele amigo oculto do trabalho que é fã da série. Aliás, valeu a presença de Darth Vader e os Stormtroopers entrando na sala de desfile ao som da marcha imperial. A coleção, porém, dividiu os presentes. Há quem adorou, há quem considere o resultado coisa de cosplay. Mas, cá entre nós, só faltou o vilão falar, com aquela voz baforenta: “Paulo, I’m your father!”.
Mas, nessa verve de quinquilharias cinematográficas, o mini trofeu com cabeça de cavalo de Victor Dzenk pode ser considerado o brinde mais estranho dos últimos tempos. Tudo bem que a coleção é inspirada nos cavalos Mangalarga Marchador, mas, para qualquer um com certa cultura hollywoodiana, é impossível não lembrar a famosa passagem de Frank Sinatra (1915-1998) pela Columbia Pictures, no início dos anos 1950, reproduzida quase ipsis literis pelo autor Mario Puzo (1920-1999) em “O Poderoso Chefão”. Reza a lenda que o ator-cantor estava em baixa nessa época, mas o implacável big boss do estúdio, Harry Cohn (1891-1958), não queria lhe dar o papel do soldado Maggio, em “A um passo da eternidade” (From Here to Eternity, de Fred Zinnemann, 1953). Parece que ele apelou para seus amigos mafiosos, que deram cabo do cavalo favorito do haras do executivo, e Cohn acordou de manhã com a cabeça do equino em sua cama. Com medo, ele deixou o astro ganhar o papel, ele arrebatou o Oscar de ‘Melhor Ator Coadjuvante’ e sua carreira entrou nos eixos. Sei não, mas essa estatueta do Victor Dzenk lembra essa história. Medo.
Mas, entre todos os agradinhos, levaram os convidados às nuvens os biscoitinhos com cara de chá da Alice, no meeting em que Stella McCartney apresentou a linha criada para a C&A. Dos deuses!
E, correndo por fora entre os mimos distribuídos nas salas de desfile, uma preciosidade deixada pelo músico Rodrigo Pitta no quartel general da imprensa, para levar quem quisesse: o seu último álbum “Estados Alterados”, cujo show de lançamento HT cobriu e o leitor pode ler aqui.
9) A presença telúrica de Cida Moreira: a performática cantora, que se mantém à parte do mainstream, mas pertenceu ao grupo Ornitorrinco, da altíssima vanguarda cultural paulista no início dos anos 1980, cantou e tocou piano ao vivo no fashion show de Ronaldo Fraga. Com cabelos vermelhos cor de fogo (ou caqui), pintados especialmente para o desfile, ela foi de Chico Buarque a Amy Winehouse como quem emenda um samba com foxtrote. O estilista dá seu depoimento sobre a diva: “A Cida me incomoda bastante como uma artista que tem imenso talento, mas não tem o devido reconhecimento dessa nova geração sonâmbula. Queria alguém com atuação concreta, poética e política como só ela tem, e sua presença valeu os meses de trabalho dessa coleção”.
10) Brazilian curious story – Freak Show: como sempre uma multidão de personas de todas as tribos passaram pelos corredores da SPFW, seja a trabalho, para conferir as tendências ou simplesmente dar pinta. Criaturas perfeitas para uma quermesse de variados tipos humanos e típicos exemplares de um supermercado de estilos no melhor sentido identificado pelo pesquisador de estilo Ted Polhemus, elas se destacam por fugir de padrões, dando vazão à sua individualidade. Sobressaíram: o inenarrável Leo Belicha, stylist carioca radicado em Londres há mais de 16 anos e que veste famosos para badalos. Mas não se iluda quem acha que ele só marca presença com o visual estranho. Rapaz conhecidérrimo de grifes como Givenchy, Carlos Mièle, Alexandre Herchcovitch e Miss Sixty, entre outras, já passou pelas suas mãos gente graúda como Nicole Kidman, os Rolling Stones, Debbie Harry e Rihanna. Por falar na diva pop, Bruno H. é o característico integrante da Geração Z, para quem Rihanna assume ares de divindade absoluta, acima do bem e do mal. Cada fornada de adolescentes tem, of course, a Cher que merece.
Já Verônica Blues não estava a fim de muito papo. Mas falar o que, quando o abdômen grita? E o artista plástico Gustavo Costa pertence àquela inteligentsia de colaboradores de Ronaldo Fraga e ajudou o designer nesta última coleção.
Por fim, a fofa Glenda Ludwig, de Nova Friburgo, é modelo baixinha, mas sabe crescer na passarela. Quem a conhece, sabe que ela pisa como ninguém, apesar de graves problemas ortopédicos que superou com muita garra. Em nova fase, ela agora e jornalista da Preadly Brasil, o braço brazuca de um blog que explora conteúdos inspiradores de moda, compilando outros de nacionalidades brasileiras e escandinavas.
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