“A arte é possibilidade real de tocar a alma do outro”, diz Lenine em tempos em que pessoas são ‘canceladas’ na web


O artista que deu uma pausa na turnê ‘Em Trânsito’, por conta da pandemia mundial causada pela Covid-19, encerra o Congresso LIV Virtua, que contou com palestras de Tais Araújo, Ingrid Guimarães, Vik Muniz, Flavia Oliveira, Amyr Klink, entre outros, revela ao site Heloisa Tolipan que a música é uma grande aliada para a redução da ansiedade e ouviu amigos falarem sobre temas complexos no mundo virtual onde pessoas são “canceladas”

“A arte é a possibilidade real de tocar a alma do outro”, reflete cantor Lenine (Foto: Flora Pimentel)

*Por Rafael Moura

‘A lua me chama, eu tenho que ir pra rua’. Os versos de ‘Hoje eu quero sair só’, de Lenine, 1997, nunca foram tão contemporâneos, afinal por conta da pandemia mundial por causa da Covid-19, estamos todos juntos, mas separados e sonhando com uma volta às ruas com segurança de saúde. Esse grande ícone da música popular brasileira, encerrou o Congresso LIV Virtual, na versão online do Congresso Socioemocional LIV que acontece anualmente. O encontro gratuito é promovido pelo LIV – Laboratório Inteligência de Vida, que integra o grupo Eleva Educação e tem como objetivo debater sobre como os sentimentos podem aproximar pessoas durante esse período de tantas incertezas. As atrizes Taís Araújo e Ingrid Guimarães também participaram do encontro. Ingrid foi uma das convidadas da palestra ‘O cancelamento de pessoas a um clique. Onde fica a empatia?’ e Taís participou de um debate sobre a saúde mental em tempos de quarentena. O evento contou com discussões sobre ócio criativo, saúde mental e socioemocional medicamentos e jovens, o período pós- pandemia e o fenômeno do cancelamento de pessoas nas redes sociais.

O cantor Lenine, com o mascote Liv Tomas, encerra o Congresso LIV Virtual nesta sexta

O artista nos contou que para esse período de isolamento social a música é uma grande aliada para a redução da ansiedade. “A música toca em determinado local do cérebro que dispara o prazer. É um mágico equilíbrio entre ritmo e notas, buscando harmonia. A arte é a possibilidade real de tocar a alma do outro”, destaca o artista. “Nesse momento de confinamento e extrema solidão, pequenos gestos de atenção e afeto nos comovem e nos servem de alento”, explica. E ainda ressalta a importância do estímulo das habilidades socioemocionais nas escolas desde a infância. “Diferentemente de minha geração, eu tive em casa – no convívio com meus pais e irmãos – uma relação aberta e pautada pelo afeto e tato. Sei o quanto isso me distingue da maioria de meus contemporâneos”, conta. “O desenvolvimento das habilidades socioemocionais é fundamental na formação do ser humano. De que vale o aprendizado sem o pensamento crítico? Mesmo estudando em escolas tradicionais, tive a sorte de ter alguns professores que foram exemplos de criatividade e perseverança. Compartilhar o conhecimento também é uma arte”, frisa.

Compartilhar o conhecimento também é uma arte”(Foto: Flora Pimentel)

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A pedido dos fãs, Lenine conta que em breve fará uma live em seu canal no Youtube com sucessos de toda a sua carreira. “Será uma apresentação em família, em casulo e de maneira intimista. Sem aglomeração e com segurança. É tudo novo. A vida normal que podemos ter atualmente é esta: ficar em casa a maior parte do tempo e ouvir a voz das autoridades de saúde”, pontua. Dois anos após o lançamento do álbum ‘Em Trânsito‘, que vinha conquistando plateias por todo o Brasil, estaria na Europa, neste período, mas teve que dar uma pausa na turnê. No disco, o compositor ressignifica a pergunta retórica formulada originalmente em Chão (2011), pois estando em novas circunstâncias passa a ser uma nova pergunta – o tal “sempre outro rio a passar” que Heráclito ensinou a Quintana. “A canção é processo, vem de muitos ondes, vai para outros tantos. Em Trânsito é uma ode ao processo. Não à toa, subverte a ordem que se nos impuseram: disco de estúdio, show e disco ao vivo. Tudo do avesso porque é tudo processo. É livre de obrigações, desemoldurado”, explica.

Lenine conta que o sucesso desse trabalho é consequência da intimidade conquistada por muito anos de labuta criativa. “Eu sofria com o lance da mecânica do fazer. Isso passava forçosamente por essa sensação de estar repetindo formas. E o Em trânsito carrega um pouco dessa novidade que foi subverter a ordem das coisas, o processo é coletivo. Todo cantor fica ansioso ao mostrar canções inéditas, mas, aos poucos, os resultados são decifrados em conjunto com a equipe, sendo uma mola essencial dessa engrenagem-organismo. A assinatura da banda é clarividente”, conta. “É o transitório, o transitivo, o fato de estar aqui no caminho, sem a menor ideia do que há à frente. Também não estou olhando pra trás, e tem essa coisa da urgência, da violência”.

“Nesse momento de confinamento pequenos gestos de atenção e afeto comovem e servem de alento”, conta Lenine