Uma vida dedicada à cultura: fotógrafa Cristina Granato colhe os louros com seu livro ‘Carioca’ repleto de imagens dos palcos e backstages


O exemplar conta com quase 700 fotos que marcaram a cena cultural brasileira. “Tenho muitas fotos históricas de momentos que não voltarão mais. Estou trazendo, com muita seriedade, uma retrospectiva desta trajetória artística”, comentou

Capa do livro ‘Carioca’ de Cristina Granato (Foto: Divulgação)

Em meio a este respirar jornalismo full time, o site HT teve a sorte de encontrar muitos profissionais dedicados à arte de levar a informação da melhor forma possível para os leitores. Entre estes exemplos temos Cristina Granato. Com olho direito sempre atento ao que se desenrola à frente e o esquerdo escondido atrás das lentes de sua câmera, ela dedicou toda a sua vida a registrar a cena cultural brasileira, fotografando desde peças de teatro e lançamentos de livros até grandes eventos como o Rock in Rio. “Foi uma vida vivida em função do jornalismo fotográfico”, garantiu. E nós não temos dúvida, afinal, até na hora de se despedir no WhatsApp faz questão de colocar um emoji de uma máquina fotográfica ao lado de seu nome. Completando 38 anos de profissão, a artista, sim, Cristina para todos nós é uma artista, lançou o livro ‘Carioca’ que conta com quase 500 páginas com imagens dos últimos 34 anos do cenário cultural carioca, entre 1984 e 2018. Vem entender tudo!

A fotógrafa Cristina Granato construiu uma sólida carreia no jornalismo fotográfico ao registrar momentos marcantes da cultura brasileira (Foto: Divulgação)

A primeira foto do livro já nos prepara para uma avalanche de histórias que veremos nas páginas que seguem. Na imagem, temos a atriz Christiane Torloni posando como musa das Diretas Já. Para acompanhar, um texto emocionante que traça um paralelo daquele momento em relação ao que estamos vivendo hoje. “Onde nos perdemos?”, questionou Christiane. E isso é realmente só o começo. Outro registro é de Zeca Pagodinho recebendo o seu primeiro Disco de Ouro, nos anos 80. “É outro Zeca! Aparece sem camisa, super despojado”, analisou Cris. Ainda vemos Fernanda Montenegro beijando Camila Amado em um ato de protesto contra o pensamento retrógrado do deputado Marco Feliciano sobre a cura gay. São imagens que registram fases da cultura através de figuras emblemáticas. “Tenho muitas fotos históricas de momentos que não voltarão mais. Estou trazendo, com muita seriedade, uma retrospectiva desta trajetória artística”, comentou a fotógrafa.

Christiane Torloni como Musa das Diretas Já – Praia do Leblon em 1984 (Foto: Cristina Granato)

‘Carioca’ já é o segundo livro de Cristina Granato. O primeiro comemorou os 30 anos de sua carreira e foi lançado em 2010, com fotos exclusivas de momentos chaves da Música Popular Brasileira. ‘Carioca’, portanto, surgiu da vontade da jornalista em abrir, de uma vez por todas, o seu arquivo pessoal para falar não apenas da cena musical, mas como de todos os segmentos artísticos e culturais sob a sua ótica profissional. O resultado é um exemplar com quase 700 fotos que documentam momentos experimentados em peças, exposições, premiações, shows e grandes eventos que rolaram no Rio de Janeiro. “Vi uma oportunidade de fazer uma homenagem a esta Cidade Maravilhosa que me acolheu. E, a partir disso, quis contar um pouco da história sob o meu olhar”, explicou. O título, inclusive, foi uma sugestão do poeta, dramaturgo e roteirista Geraldo Carneiro, que percebeu que a grande maioria havia sido tirada no Rio.

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Como tudo na vida de um jornalista, o processo de estruturação deste livro foi árduo. O exemplar deveria ter sido lançado há três anos quando Cristina Granato comemorou 35 anos de profissão. No entanto, o projeto acabou sendo alinhavado durante quatro anos. “Logo no início já precisei enfrentar diversas burocracias para torná-lo uma realidade como estruturar o projeto, buscar apoio e captar. Os anos de 2016 e 2017 foram muito difíceis para a economia do Brasil e, por isso, não tinha como fazer antes. Estamos falando de um exemplar caro e eu não tinha capital suficiente para bancar sozinha”, contou. O cachê maior, por exemplo, foi para o responsável pelo tratamento das imagens.

A verdade é que selecionar as fotos e conseguir a autorização de cada personagem para integrar a publicação foi um trabalho difícil. “Foram mais de 5.000 fotografias escolhidas inicialmente. Este número foi reduzido para 700, porque não tinha como deixá-lo maior. Não tive um caráter de seleção específico, apenas fui deixando os arquivos irem me levando sem me limitar por números e décadas. Depois da seleção, apenas fui equilibrando cortando aquelas pessoas que estavam aparecendo demais”, comentou. Neste processo, Cristina Granato ainda precisou lidar com a preocupação de perder 8% do seu acervo devido ao desgaste com tempo.

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Após a seleção, a fotógrafa lidou com o terror das autorizações. Cada uma das quase 700 fotos precisaram de autorização para serem publicadas e, neste sentido, estamos falando de contactar cada pessoa que aparecia na fotografia, mesmo que não fosse o centro da imagem. Se há, por exemplo, cinco pessoas em uma imagem é necessário solicitar a aprovação das cinco e, fora isso, cara fotografia do artista é um pedido diferente. “Certas autorizações foram muito difíceis, tanto é que neste livro não tenho nenhuma foto do Tim Maia, por exemplo, diferentemente do meu primeiro exemplar. Algumas pessoas quiseram cobrar por foto e, como não pagamos ninguém, não era justo somente alguns receberem”, lamentou. Cristina Granato precisou deixar de fora grande parte dos registros de fez do primeiro Rock in Rio da história, em 1985, que incluíam Fred Mercury sem camisa arrasando no palco.

Estamos falando de quase 40 anos de carreira de uma fotógrafa dedicada à cena cultural carioca. E não apenas nós, leitores, tivemos a oportunidade de observar a evolução de seu trabalho como a própria também teve esta possibilidade quase terapêutica de ver de pertinho o quanto cresceu dentro da profissão. “Percebi que, no início, o meu olhar era um pouco distanciado em relação às pessoas que eu fotografava. Hoje em dia, coloco praticamente a câmera na cara dos artistas. É como se eu estivesse chegando e me aproximando aos poucos em um território que não conhecia. Conforme fui entendendo como as coisas funcionavam, percebi o que combinava. Era muito inocente no começo, não tinha a malícia de reunir figuras chaves. Hoje em dia, sou uma cara de pau”, brincou.

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Mesmo com todo o trabalho que teve e perda de arquivos, Cristina Granato ainda pensa em fazer um segundo volume de Carioca. “Tenho material suficiente! Poderia, até mesmo, dividir o exemplar por década, porque quando cheguei nos anos 90 percebi que conseguiria fazer três livros inteiros somente sobre aquele período. Tem muita raridade”, comentou. Mal podemos esperar!