Thalita Rebouças: “Fico muito feliz de não ter desistido. Essa é a sensação quando olho para a minha carreira”


A autora acompanha a estreia de seu mais novo filme ,”Confissões de uma garota excluída”, na Netflix, e fala abertamente sobre a trajetória, as escolhas, revela que está escrevendo um livro com o marido, o terapeuta Renato Caminha, e que, em breve, o público vai conhecer uma versão sua ‘para maiores’: “Jamais vou abandonar os adolescentes porque amo trabalhar com eles e para eles, mas nos livros, filmes e nas séries, também vou falar com outra galera. Estou escrevendo um livro de crônicas, ainda sem nome, e um documentário sobre empatia voltado para o público adulto. No livro, quero falar de vários temas relacionados à vida das mulheres da minha idade. Eu, por exemplo, fiz muitas descobertas na pandemia, como os vibradores. Estava fazendo doações de diversas formas, aí também comprei vibradores para várias amigas e mandei entregar. Foi tão bom poder doar prazer para as amigas (risos)”

*Brunna Condini

Ela já vendeu mais de 2,2 milhões de exemplares de livros e é uma escritora de sucesso há mais de duas décadas. Mas nem sempre foi assim. Thalita Rebouças, que lançou dia 22, na Netflix, a versão em filme do seu livro ‘Confissões de uma garota excluída, mal amada e (um pouco) dramática‘, frisa que não imaginou que contar histórias a levaria tão longe, mas insistiu no sonho. “Fico muito feliz de não ter desistido. Essa é a sensação quando olho para a minha carreira”, revela. “Olho para trás e nem acredito. Hoje, ‘Confissões’ está sendo publicado na França pela primeira vez. Lá e em Portugal, Espanha, Alemanha. Quando estive na França pela primeira vez, via as pessoas lendo em todos os lugares possíveis. Sonhei um dia em ser publicada lá e vou ser por conta deste filme. Então, quando olho para trás fico muito satisfeita de não ter cedido a aquele ‘demoninho’ do desenho do Pica-Pau, lembra? Que tinha o ‘anjinho’ e o ‘demoninho’? Não cedi (risos). Porque o ‘demoninho’ dizia: “Sai disso que não vai te levar a lugar nenhum. Você está vendendo o almoço para comprar a jantar. Ninguém lê neste país”. E olha aí. Que bom que não desisti. E agradeço a todo mundo”.

"Fico muito feliz de não ter desistido. Essa é a sensação quando olho para a minha carreira" (Divulgação)

“Fico muito feliz de não ter desistido. Essa é a sensação quando olho para a minha carreira” (Divulgação)

Thalita é referência na literatura infanto-juvenil, mas aos 46 anos revela que está investindo na sua versão ‘para maiores’: “Jamais vou abandonar os adolescentes porque amo trabalhar com eles e para eles, mas nos livros, filmes e nas séries, também vou falar com outra galera. Estou escrevendo um livro de crônicas, ainda sem nome e um documentário sobre empatia voltado para o público adulto. No livro, quero falar de vários temas relacionados à vida das mulheres da minha idade. Eu, por exemplo, descobri muitas coisas na pandemia, como os vibradores. Estava fazendo doações de diversas formas, aí também comprei vibradores para várias amigas e mandei entregar. Foi tão bom poder doar prazer para as amigas (risos). A Ingrid (Guimarães) é a consultora de vibradores das amigas. Ficou PhD depois do filme ‘De  pernas para o ar’. Ela me indicou o melhor deles, que inclusive recomendo (risos)”, conta.

"Ainda baixamos o tom para falar que estamos entrando na menopausa. É mais uma fase feminina e vai passar. Nunca me senti tão bem" (Divulgação)

“Ainda baixamos o tom para falar que estamos entrando na menopausa. É mais uma fase feminina e vai passar. Nunca me senti tão bem” (Divulgação)

“Parei de menstruar na pandemia e também tenho escrito sobre isso. Ainda baixamos o tom para falar que estamos entrando na menopausa. É mais uma fase feminina e vai passar. Nunca me senti tão bem, até porque temos muitas formas de atravessar esse período, podemos fazer reposição hormonal. Temos que falar para as mulheres que é algo natural. Olha a Claudia Raia, a Bruna Lombardi, duas deusas. Temos que parar de botar peso onde não tem. No livro vou falar sobre isso, sobre separação, sexualidade, para mulheres como eu, para mulheres que cresceram me lendo. Quero me sentir livre para falar sobre tudo. E hoje, com 21 anos de carreira, me sinto em paz para falar sobre o que eu quiser. Sou uma mulher de 46 anos, que tenho problemas e desejos que toda mulher desta idade tem”.

Opção que não deveria ser uma questão

Assunto presente em todas as entrevistas, a escolha de Thalita por não ser mãe ainda causa surpresa nas pessoas. Ela defende que isso não pode ser um tabu e que a maternidade não deve ser compulsória. O fato de escrever para o público adolescente aumentou a cobrança? “Com certeza. O meu primeiro best-seller é ‘Fala sério, mãe‘ e eu não tenho filho. Como eu poderia escrever sobre isso? Muitas pessoas se perguntam. E eu sempre respondo que além de eu ser filha, se eu escrevesse sobre um assassino não precisaria matar ninguém, certo? Minha praia é e sempre foi a ficção”, afirma.

“O que sempre me incomodou e por isso não me importo de continuar respondendo à essa pergunta, é a necessidade de conscientizar essa geração mais nova, que vem fazendo tantas coisas pela nossa, falando de feminismo, de machismo. É uma geração que fala, bota para fora, coisas que quando eu era mais nova não fazia. Mas é bom falar pra essas futuras gerações do quanto pode ser opressor essa coisa da maternidade compulsória. Por que tem mulher que pergunta se eu tenho medo de me arrepender de não ter filhos? A minha vontade é perguntar se ela não tem medo de se arrepender de ter tido, entende? Essa cobrança em cima da mulher de que ela só é feliz completamente, o que é uma imensa mentira, se for mãe. Tem gente que diz que uma mulher só conhece o amor depois de ser mãe. É cruel. Fui casada 18 anos, feliz, nos separamos muito tempo depois de decidirmos que não seríamos pais de ninguém”, compartilha Thalita, que hoje está casada com o terapeuta Renato Caminha.

´'E bom falar pra essas futuras gerações do quanto pode ser opressor essa coisa da maternidade compulsória" (Divulgação)

´’E bom falar pra essas futuras gerações do quanto pode ser opressor essa coisa da maternidade compulsória” (Divulgação)

Sobre o tema, ela ainda acrescenta: “Há pouco tempo descobri um movimento de mães arrependidas, que aqui no Brasil é um projeto que a Karla Tenório, que é uma atriz, começou com o objetivo de iniciar o seu processo de cura e autoperdão, além de abraçar outras mulheres que passam pela mesma situação. Tem um livro de uma socióloga israelense que se chama ‘Mães arrependidas’, em que ela entrevista algumas mulheres que se dizem arrependidas da maternagem,  o que não tem a ver com o amor ao filho. Esse movimento valida a minha escolha e de muitas outras mulheres que optam por não serem mães. Eu teria capacidade de ser uma boa mãe? Super. Quero isso? Na dúvida, pra quê? Nunca quis as coisas da maternagem e eu não queria ser uma mãe arrependida. Esse movimento é lindo por isso. E a Karla com uma coragem incrível, bota a cara à tapa e valida um monte de mulheres. Então, precisamos falar para as meninas que elas não precisam congelar os óvulos para serem felizes. Se um dia eu me arrependesse, por exemplo, adotaria feliz. Fico feliz de podermos cada vez mais falar sobre isso. Precisa deixar de ser um aposto para mim em entrevistas, por exemplo: ‘Thalita Rebouças, que não é mãe,  lança livro’, sabe? Se for para falar da escolha consciente de não ser mãe, eu super topo. Até para falar para as outras mulheres pararem de olhar torto pra gente, para as famílias deixarem de cobrar. A gente é feliz com ou sem filho, com ou sem marido ou namorado. As coisas não podem virar questões para massacrar as mulheres”.

Parceria no amor e no trabalho

Recém casada com o terapeuta Renato Caminha, ela revela que estão escrevendo um livro juntos. “Se chama ‘Falando sério sobre a adolescência‘, que vai ser meio que um glossário de A à Z para ajudar os pais a lidarem com essa fase que é tão importante”, diz.

Com Renato Caminha: "Estamos escrevendo 'Falando sério sobre a adolescência', que vai ser meio que um glossário de A à Z para ajudar os pais a lidarem com essa fase que é tão importante" (Reprodução)

Com Renato Caminha: “Estamos escrevendo ‘Falando sério sobre a adolescência’, que vai ser meio que um glossário de A à Z para ajudar os pais a lidarem com essa fase que é tão importante” (Reprodução)

“Quando tive essa ideia falei para o Renato: “Por que existem tantos livros para crianças pequenas e quando a criança chega na adolescência não tem nada?”. Existem livros para o começo da vida, porque os pais são inexperientes, é o início. Mas quando se entra na adolescência também se vira outra pessoa e os pais viram também pais de um novo ser. Então, pensamos em fazer esse encontro da arte com a ficção. Tem a minha experiência de trabalhar com essa galera e a dele que há 30 anos trabalha com crianças e adolescentes também. Vamos tentar dizer para os pais a mesma coisa que digo para os adolescentes com minhas histórias: tudo  certo, vai passar. Vai servir também para identificarem o que é fase, o que precisa de ajuda terapêutica, por exemplo. Vamos falar de amor, automutilação, bullying, crises, depressão, suicídio. Cada letra vai ter uma conversa entre eu e o Renato. Entre a arte e a ciência”.

The Voice Kids

Essa semana no Instagram Thalita dividia com seus seguidores e fãs toda emoção com o lançamento de seu filme na Netflix estrelado por Klara Castanho. Com fama de ‘chorona’, ela afirma que não poderia ser de outro jeito e estende essa sensibilidade à flor da pele à apresentação nos bastidores do The Voice Kids, que tem sua final neste domingo (26). “Sou intensa mesmo, dessa que chora nos stories, imagina lá? Essa semana além de estreia de filme, tem essa final, é muita emoção junta”. Não fica abalada quando as crianças são eliminadas? “Pelo contrário. Sinto um nervoso bom. Acho importante a criança saber lidar com a frustração. Vejo por aí, eu, analisada que sou, casada com um terapeuta (risos). Acho que esse programa faz um bem enorme. Estou lá há cinco anos e te digo que quando eles saem é comemorando. São muito lindos, dão uma aula pra gente. De verdade, sem papo de clichê, consideram que só fato de estarem ali já maravilhoso”.

Com Gaby Amarantos nos bastidores: "Acho importante a criança saber lidar com a frustração" (Reprodução)

Com Gaby Amarantos nos bastidores: “Acho importante a criança saber lidar com a frustração” (Reprodução)

E completa: “Estamos na história dessas crianças e mostrando também, que a partir do momento em que entram em um concurso, que têm eliminados, eles podem ser um deles. Então, ter ‘pena’ não é nunca um sentimento para mim ali. Sinto saudade quando eles saem, claro. A única pena dessa temporada é não poder abraçá-los. Sou muito amarradona neste programa e ainda ganho para estar ali (risos). Sério, sofro, pulo ,danço, podia estar fazendo isso de casa, mas faço lá”.