Bafão! Da Londres Vitoriana para a Gamboa, atores travestidos de mulher em peça de Oscar Wilde!


Em entrevista exclusiva, o diretor Daniel Herz fala da comédia “A importância de ser perfeito”, com três apresentações neste fim de semana, no Rio!

Metalinguagem, ou seja, a referência dentro da referência! Que tal uma comédia baseada na obra de Oscar Wilde na qual, inspirada por outra obra do mesmo autor, o diretor coloca atores representando papéis femininos, com direito à música tocada ao vivo por eles mesmos e direção de arte primorosa, remetendo à Londres Vitoriana – ambiente natural do escritor – e com figurinos premiados? Esta pode ser a boa deste fim de semana. Afinal, opções grandiosas, como a adaptação da famosa peça The importance of being Earnest, é o que faz o aclamado diretor Daniel Herz, ao mesmo tempo, comer um dobrado e colher os bons frutos de um trabalho vibrante, que já rendeu até da implacável Dona Barbara “Malvadora” a frase “um espetáculo muito agradável em seu todo”. Ui!

A montagem “A importância de ser perfeito” é a primeira atração do mês de fevereiro no Galpão Gamboa. Ela estreou em maio de 2013 e agora volta inserida no projeto Gamboavista 3 nos dias 1, 2 e 3/2.  O figurino, de Thanara Schönardie, rendeu uma indicação para o Prêmio Shell de Teatro e premiação no Cesgranrio de Teatro. A montagem foi idealizada por Leandro Soares e pelo ColetivoAchadoNumaMala. Na peça, os papéis femininos são desempenhados por atores-homens do coletivo e mais três atores da companhia comandada por Herz, Atores de Laura. Ou seja, meio kabuki, aquela famosa escola de teatro japa, onde mulher não tem vez no palco e os marmanjos se dividem entre personagens de mabos os sexos.

A opção por homens em papeis femininos é inspirada no ensaio “O epiceno inglês” (The importance of being Earnest), de Wilde. Uma excelente escolha pela concepção de androginia, que Herz incorporou ao trabalho, colocando elementos masculinos e femininos numa relação simbiótica, bem ilustrada pelos figurinos.

A peça narra a história de José Dourado, um homem que usa uma identidade dupla para poder se divertir sem comprometer sua imagem de rico herdeiro e acionista das telecomunicações. No meio deste delicioso contexto, ele se apaixona pela prima de seu melhor amigo, Agenor, que se apaixona pela sobrinha sexy de José. Já imaginou as moças sexies representadas por homens? Pois essa é uma aventura que só o diretor, Daniel Herz pode narrar. Em entrevista exclusiva, ele narra um pouco dessa brincadeira intensa. Confira!

Este slideshow necessita de JavaScript.

*Fotos: Dalton Valério (divulgação)

HT: Você fez opções grandiosas: uma obra de Oscar Wilde, a atmosfera da Londres Vitoriana com figurinos marcantes e a música tocada ao vivo na peça. Deu trabalho?

DH: Deu muito trabalho, mas as parcerias são fundamentais e tive uma equipe incrível. Nos exemplos citados, a adaptação do Leandro Soares, a direção musical do Leandro Castilho e os figurinos da Thanara foram alicerces muito importantes que fizeram com que o trabalho caminhasse de uma forma bem harmônica.

HT: Porque você opta por outra inspiração de Wilde, resolvendo utilizar a androginia como pano de fundo, escalando homens para interpretar papeis femininos?

DH: No espetáculo, a androginia ajuda a ressaltar a ironia que Wilde traz com o seu texto mordaz. Ironia essa que é sobre a instituição do casamento, a pureza do amor, os interesses da classe dominante, de nunca aceitar perder as suas regalias.

HT: O fato de Oscar Wilde ser um grande frasista faz diferença? Na peça o público consegue ver os seus frasismos interpretados?

Herz: O tempo todo. Essa é a grandeza maior da adaptação do Leandro Soares.

HT: A peça estreou ano passado no Teatro da Caixa Econômica, depois fez uma temporada no Teatro Planetário. Qual a expectativa para o Galpão Gamboa?

Herz: O Galpão Gamboa é sinônimo de sofisticação. É uma honra estarmos fazendo a peça lá e as expectativas são enormes!