‘Teatro é o Melhor Programa’! Livro de Flavio Marinho costura a história dos espetáculos brasileiros nos últimos 40 anos


O lançamento aconteceu ontem, no restaurante La Fiorentina, no Rio, com a presença de famosos como Miguel Falabella e Fernanda Montenegro

A paixão de Flavio Marinho pelo teatro começou cedo. Aos sete anos, o menino carioca que jamais sonharia em se tornar escritor e crítico de espetáculos, assistiu à sua primeira peça no Teatro Carlos Gomes, no Rio. E muito se engana quem imagina ter sido uma produção infantil. Influenciado pelos pais, Flavio teve o privilégio de ver de perto Bibi Ferreira e Paulo Autran em ação no musical “My Fair Lady”, de 1962, e, dali, começou a colecionar peças e mais peças em seu currículo. No entanto, junto delas uma grande fixação: os programas dos espetáculo – aqueles livrinhos que entregam pra gente na entrada do teatro contando um pouco de como vão ser as apresentações.

Hoje, ele coleciona mais de cinco mil deles. E o que fazer com tanto material? Um livro! “Teatro é o Melhor Programa” é o mais novo trabalho de Flávio Marinho, em parceria com a Editora Giostri, que reúne histórias de peças emblemáticas que passaram pelos palcos do Rio entre os anos de 1973 à 2014.

Miguel Falabella comparece a lançamento de livro (Foto: AgNews)

Miguel Falabella comparece a lançamento de livro (Foto: AgNews)

“Comecei a colecionar febrilmente os meus preciosos programas de teatro até que cheguei naquele ponto em que você passa a se interrogar: ‘O que fazer com tamanha papelada? Um livro – foi a resposta imediata. Passei algum tempo folheando os programas em busca de alguma pista e fui percebendo o que, agora, me parece evidente: os programas são o testemunho vivo do nosso trabalho” contou ele, que ainda afirmou não ter sido uma tarefa muito fácil selecionar seus favoritos. “Eu tentei colocar o máximo possível de peças, mas acabei tirando alguns cujo o espetáculo eu não lembrava. Eu queria fazer um livro que fosse uma memória afetiva do nosso teatro. Queria passar esse clima humano, enternecedor e vivo que só o teatro proporciona” disse.

O lançamento da coletânea aconteceu ontem (18/04), no restaurante La Fiorentina, tradicional reduto da classe artística carioca, no bairro do Leme, e reuniu diversos famosos. Entre eles Miguel Falabella, Fernanda Montenegro, Totia Meireles e Luís Melo, que não pouparam elogios ao trabalho do amigo. “Eu achei essa ideia do Flávio tão legal de reunir essa história do teatro através dos programas, porque pra todos nós, por um período ou outro, o único registro que tínhamos eram os programas. Não tinha tanta tecnologia”, disse Luís Melo. “Esse livro é muito bacana. Ali você tem divertimento, tem cultura, tem momentos históricos do nosso teatro. É incrível”, avaliou a atriz Totia Meirelles. “Esse trabalho é muito importante. Ele não deixa a memória do teatro ser apagada. Tanta coisa legal foi feita, mas que não foram registradas. Esse livro é quase uma viagem no tempo”, disse Miguel Falabella.

Totia Meireles e Flavio Marinho (Foto: AgNews)

Totia Meireles e Flavio Marinho (Foto: AgNews)

O escritor trabalhou no livro durante dois anos. O programa de cada encenação recebeu um verbete que “deve fornecer ao leitor uma noção exata do que foi o espetáculo”. Na coleção, Flavio menciona dados concretos, disseca o conteúdo dos programas e insere uma rápida abordagem crítica dos espetáculos da época. “O livro é o meu painel do teatro”, avaliou. “Quando eu estipulei que o primeiro ano do livro seria 1973, data que comecei a militar na critica teatral jornalística, tive que refletir bem o que colocaria, tiveram peças que me marcaram muito, mas que não entraram, como ‘My Fair Lady’, já que nessa época eu ainda não assistia com um olhar crítico. Mas coloquei trabalhos maravilhosos como ‘Um Grito Parado no Ar’, do (Gianfrancesco) Guarnieri, com Othon Bastos, por exemplo. Esse espetáculo conta os tempos de resistência aos anos da ditadura. Era muito comovente, humano e romântico.  Agora, o espetáculo que abre o livro é ‘Aurora da Minha Vida’, esse foi o primeiro texto que marcou de vez a nossa dramaturgia. Mostrou que era possível escrever para teatro sem fazer metáforas sobre a repressão, por exemplo. Por isso o ‘Aurora da Minha Vida’ ganhou esse destaque”, explicou.

Miguel Falabella e Totia Meirelles (Foto: AgNews)

Miguel Falabella e Totia Meirelles (Foto: AgNews)

Apesar de ser um trabalho de pesquisa voltado para o panorama carioca, Marinho garante que a diversidade brasileira não ficou de fora de seu trabalho. “Ao mesmo tempo que é sobre a cena carioca de teatro, é sobre os espetáculos que passaram pelos palcos do Rio. É praticamente sobre o espetáculo brasileiro, porque tem peças baianas, pernambucanas, gaúchas e muitas de São Paulo. É um livro que tem como base o Rio de Janeiro, mas faz uma radiografia do Brasil”, explicou.

Luís Melo e Flavio Marinha (Foto: AgNews)

Luís Melo e Flavio Marinha (Foto: AgNews)

Questionado sobre a evolução do teatro no Brasil, Flavio Marinho, que guarda todos os programas que coleciona em uma estante no seu quarto, ressalta que acha importante que as companhias de teatro invistam em trabalhos mais diversificados. “Eu acho que o teatro deveria ser mais plural do que era. Hoje em dia ele deveria ter uma pluralidade que eu encontrava mais em outros tempos. Deveríamos ter um pouco de tudo. Ter espetáculo experimental, comercial, besteirol… a graça é essa. Isso faria de nós uma super metrópole nessa área. Porque você vai nas grandes capitais do mundo como Londres e Nova Iorque e você encontra de tudo um pouco. Acho que às vezes a coisa fica um pouco tendenciosa. Não me agrada muito”, avaliou, antes de voltar a assinar os livros noite adentro. Veja só quem passou por lá:

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